Medíocre

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Era fato: ele mexia comigo. Isso eu não conseguia negar e estava mexendo naquele momento, por mais forte que eu tivesse ficado naquele período, era quase impossível não me sentir fora de mim com as palavras dele. 

— Para com isso, garoto. Maior falta de respeito com ela. —  soquei seu braço antes de me virar.

—  Trouxe sorvete para você, dizem que é bom pra término. Mas não sei nunca perdi o que eu queria. —  ele levantou as sobrancelhas me olhando e riu, meu estômago revirou. 

—  Nossa, até quando você tenta ser legal você é babaca. —  estendi a mão para pegar o sorvete e só o ajudei, porque ele me puxou.

—  Mas eu sei uma coisa que você gosta e que é melhor do que sorvete para esquecer alguém. —  ele sussurrou em meu ouvido e eu arrepiei —  Mas eu vou esperar o momento que você estiver pronta. —  ele disse em um tom normal e me entregou o sorvete.

Mas como é mesmo que anda, gente? Naquele momento eu tinha esquecido, meus passos até a cozinha foram tão falhos que acreditei que eu caíria no chão a qualquer momento. Guardei o sorvete no congelador e voltei para sala. Ele já estava deitado na horizontal para ocupar todo o sofá, então eu só teria duas escolhas ou me deitava com ele ou ficava em pé. Criei uma terceira. Sentei no braço do sofá e ele ficou me olhando desentido,  até resolver me puxar pela camisola me deixando quase nua. 

— Ou, respeito po.

— Eu nem olhei, só queria te puxar para cá mesmo. —  ele falou e dessa vez eu sei que foi sincero, porque a todo momento ele olhava só para o meu rosto. 

Não teve muito o que fazer, passei o resto da noite deitada nos braços dele. Por incrível que pareça ele não tentou nada além daquilo, apenas me abraçou, nos cobriu e ficou me fazendo carinho, revesando entre o rosto, as costas, a parte de fora da minha coxa ou o meu cabelo. Foi assim que eu acabei adormecendo de novo, no sofá e com ele. 

Acordei novamente de madrugada, olhei primeiro para televisão ainda ligada, o olhei abraçado a mim e procurei o celular para olhar as horas. Mas acabei pegando o dele, eram duas horas e a curiosidade quase me matou ao ver que tinham várias mensagens da tal namorada, mas fui mais madura do que eu queria ser ali. Deixei o celular no braço do sofá e me levantei com cuidado para ir até a sacada.

Vê-lo ali dormindo comigo como se eu fosse a sua mulher me causou falta de ar, então pendurei meu corpo na sacada respirando fundo para não enlouquecer. Mas o vento frio vindo da sacada também o acordou e silenciosamente ele caminhou até mim me abraçando por trás. Aquilo ali já era suficiente para eu sair de mim, mas ele resolveu distribuir alguns beijos em minhas costas enquanto arrumava meu cabelos e com a outra mão acariciar minha barriga. Era de fuder, só essa palavra descreve realmente como eu me sentia. 

Ele encaixou o rosto na volta do meu pescoço e sua respiração ali me fez agarrar tão forte o guarda corpo para que a sensação passasse, mas não passou. 

— Tá tudo bem? —  ele falou baixo, possivelmente pelo horário. 

— Você sabe que não tá. Para que tá fazendo isso?

— Cuidando de você? —  ri de nervoso e ele me virou para olhar para ele.

— Me tratando assim. Você não é retardado, sabe que eu tenho vontade, mas a gente não pode. —  eu estava me humilhando, era óbvio.  

— Eu só queria que você se sentisse bem. —  ele acariciou meu rosto.

— Não precisa disso tudo, isso tá me fudendo. —  eu esqueci que ele achava essas coisas uma deixa para fazer graça.

— Deixa eu terminar de fuder então. — dei um soco no braço dele e ele só riu. 

— Fica tranquila, Anna. Vamos deitar vem. —  ele finalizou a conversa sem que eu quisesse finalizar.

Ele sempre soube o que fazer para que eu ficasse sem palavras, me abraçou me tirando do chão e me levou para cama. Ele se sentia completamente confortável em minha casa, tanto que começou a tirar a roupa para se deitar. Tirar a roupa, isso mesmo, ficou só de cueca esquecendo tudo que eu tinha acabado de falar na sacada. 

Ele estava tranquilo, eu não. Quando se deitou me aninhou novamente em seu corpo, mas eu conseguia sentir sua respiração próxima a minha boca e eu não sou de ferro, não sou nem um pouco, sou fraca, fraca o suficiente para sem nenhuma investida dele o beijar. Foi só encostar minha boca na dele que não teve mais jeito, era uma mistura de saudades e vontade que me deixava voraz, me deliciei com sua boca sem nem me importar se tinha outro alguém. 

Continuava bom e continuava quente como eu me lembrava, era tudo que eu precisava, mesmo sabendo que depois eu ficaria mal e me julgaria, eu era rídicula. Beirava ao medíocre. Eu era medíocre. Pouco capaz, que se dava valor médio. E ser assim é uma ferida silenciosa que sangra quando a gente menos espera. Eu por muitas vezes estou disposta a aceitar situações que me diminuem, que retiram meu valor. É como se estivesse presa em um ciclo de autossabotagem, onde a força para resistir aos erros nunca fez parte de mim.

Cada vez que cedia a esses impulsos, sentia um pedaço de mim se ir embora, como se tudo que eu tivesse vivido tinha sido em vão, como se estivesse entregando meu próprio valor em troca de momentos de prazer e conforto. E, assim, eu viveria constantemente em autoquestionamento, me perguntando por que não consigo ser mais forte, por que não consigo quebrar esse vício vergonhoso. Cada concessão que eu fazia era um testemunho da minha incapacidade de acreditar que eu merecia mais do que só parte do Ríos, que eu podia mais do que ser a segunda opção de alguém.

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora