Depois de tanto aperto passado naquele dia eu faria qualquer coisa para segurar aquela gravidez, daria ainda mais a minha vida por tudo aquilo e esqueceria do mundo a minha volta, mesmo que tudo seja extremamente difícil quando se trata do pai da criança.
Nós passamos uma semana trocando praticamente cinco frases: Bom dia; Você está bem?; Sim; Não; Boa noite. Eu conseguia perceber que ele estava se coçando para conversar sobre o que tinha acontecido, mas morria de medo que isso gerasse outro sangramento. Eu me arredava ao máximo na cama para não encostar nele e ele se esforçava para não me contrariar. Teve uma noite que jurei escutar ele chorando em seu canto da cama, mas fingi estar dormindo, não era da minha conta o porquê das lágrimas estarem escorrendo.
Vi ele conversando algo com os amigos sobre ter folga no sábado, eu entendia, eu não conversava com ele, então ele precisava de alguém para contar. Na mesma conversa ele disse sobre terminar o quarto do João e que depois poderia ir, pela sua resposta também entendi que perguntaram se eu iria e ele respondeu com a voz chateada que iria tentar me perguntar.
Naquele mesmo dia ele veio até o quarto cabisbaixo, respirou fundo como se tivesse pegando toda sua coragem, se sentou na cama e disse.
— Eu estou de folga sábado de tarde, os meninos combinaram de fazer um churrasco você quer ir? — neguei, não estava pronta para render uma conversa com ele ainda — Tudo bem se eu for? — assenti, afinal eu não iria prendê-lo ali comigo — Você quer conversar agora?
— Não. — verbalizei mais sério e mais alto do que eu queria, isso fez com que ele saísse do quarto.
Normalmente as nossas conversas estavam sendo assim, nada além disso. Sem muitos esforços de ambas as partes para conviverem de formas mais amorosa. Eu desconfiava que da parte dele era medo de fazer algo que causasse o aborto e da minha parte era apenas falta de vontade e preparo para aquilo.
Durante o sábado de manhã e uma parte da tarde passei um tempo com os meus pais, minha mãe estava ansiosa, queria já lavar as roupinhas do João e eu não deixei, ficamos dobrando e separando tudo por idade e organizando as coisas que estavam necessitando organizar. Nada de esforço, tudo isso em cima da minha cama enquanto meu pai instalava a babá no quarto para mim. Queria colocar câmeras em algumas partes do quarto também, então ele me ajudou com isso enquanto minha mãe e eu ficávamos cheirando e adimirando as coisinhas do bebê.
Eles foram embora por volta das quatro da tarde e eu resolvi tirar um cochilo aproveitando que o Richard não tinha dado nem sinal de vida. A casa estava cheirando tranquilidade, quase como se eu tivesse despejado três litros de oleo essencial por toda ela. Era tanta calmaria que eu com meu histórico estranhava e muito.
Pois eu devia mesmo estranhar, fui acordada pelo bafo de alcool em minha cara e mal consegui olhar pro relógio que marcava algo próximo das 19h. Olhei de novo para a direção em que vinha o hálito de vinho e me assustei. O Ríos, não estava bêbado, estava trêbado, eu nunca tinha o visto daquela forma, ele mal parava em pé e eu tive que me levantar para apoia-lo porque se não aquele trambolho de homem cairia duro no chão.
— O que que você arrumou Richard? — eu não conseguia nem acreditar naquela cena.
— Bebi, nunca bebeu não? — ele me olhou com os olhos tão moles que pareciam querer ficar fechados.
— Não começa com ignorância que eu nem devia estar aqui te segurando.
— Eu quero conversa. Eu quero conversar agora. — eu o sentei na cama, porque era muito pesado.
— Você acha mesmo que está em condições? — coloquei a mão na sua blusa para tira-la e ele me parou.
— Eu preciso. — ele embolou as palavras — Você não confia em mim?
— Acho mesmo que não tá na hora de conversar, o que for dito aqui pode ficar para sempre. — terminei de puxar sua camisa — Vou te ajudar com o banho.
— Você confia ou não, Anna? — ele gritou e eu respirei fundo.
— Como pai? De olhos fechados. Como parceiro amoroso? Não.
— O que mais eu preciso fazer, porra. Eu to me esforçando. Você nem quis me escutar, eu te falei, eu te falei que não eram de agora. Eu não fiz nada daquilo desde que você voltou da Europa. Eu só fico com você, eu só faço as coisas por você e pelo nosso filho. Por que você acha que eu colocaria tudo a perder por mulher? — eu mal conseguia entender, ele embolava palavras, gritava e eu nem sabia como agir diante daquilo.
— Vem, vou te ajudar com o banho. — fingi não escutar.
— Me responde, caralho. Eu vou enlouquecer.
— Amanhã, com você sóbrio a gente conversa.
— Mas eu quero agora. — ele gritou mais alto e meus olhos se encheram de lágrima.
Foi o suficiente para que ele se arrependesse de ter bebido, se arrependesse da conversa e se arrependesse dos gritos. Mesmo sem conseguir ele se ajoelhou e abraçou minhas pernas pedindo desculpas por ter se descontrolado. Eu estava tão triste com a situação que uma foto vazada tinha nos metido que só sabia chorar. Tem acontecimentos na vida da gente que não conseguimos reagir e esse era um deles. Eu tinha um homem de 1,85 abraçado as minhas pernas chorando e eu uma mulher madura e grávida sem saber o que fazer da vida. Tinham pouquíssimas vezes que aquilo tinha acontecido comigo na vida e todos eles eram relacionados ao Richard.
Nesse dia percebi que nem sempre o diálogo era a melhor opção, tinham momentos na vida que o ideal era nos calar, esperar o momento certo e ideal para que ambos estivessem em condições de expor seus sentimentos respeitando o do outro. Aquela conversa se feita quando ele chegou bêbado só tinha três fins possíveis: ele magoado, eu magoada ou ambos magoados.
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Reserva- Richard Rios
FanfictionJá parou para pensar no que significa o banco de reservas? Você está ali esperando para substituir alguém, seja por performance, seja por problemas médicos ou só opção. Mas você já se viu sendo a reserva da vida de alguém? É como estar constantement...