Eu não sabia onde enfiar a cara, era constrangedor demais. Comecei a escutar portas abrindo e só pensei em puxar o Diego para dentro de casa também, teria que resolver aquilo de uma vez por todas. O olhar dele mudou de mim para o Richard e eu só conseguia ver fúria. Ele avançou e eu o segurei o empurrando para trás e tentando falar com ele mesmo sabendo que não estava me ouvindo.
— Diego, olha pra mim, só pra mim. — ele não olhava e eu nem estava conseguindo raciocinar ouvindo as coisas que os dois se xingavam — Diego, pra mim. — puxei o rosto dele — Vamos conversar.
— Conversar o que, Anna? Sinceramente. — ele mudou completamente para alguém decepcionado, mas nem assim conseguia me tratar como ele devia.
— Vamos conversar. Ele já tá indo embora, não está? — olhei pro Ríos que deu de ombros e agora era eu quem ia matar ele — Tudo bem, ele vai ficar aqui na sala e nós dois vamos conversar no quarto.
— Que mané conversar no quarto o que, tá maluca? — o Ríos me puxou e eu rosnei para ele, queria o encher de soco.
— Eu vou conversar com ele, assim como te dei a chance de conversar. — falei o encarando.
— Vai só conversar ou vai fazer tudo que fez comigo? — baixo, ele era muito baixo, o belisquei sem nem pensar duas vezes e o Diego veio pra cima de novo, mas dessa vez eu não consegui segurar nenhum dos dois.
Quer saber também? Que se foda os dois, que eles se quebrassem na porra. Foi exatamente isso que eu disse e os dois pararam no mesmo momento ao perceber que eu não ligava mais para demonstração de quem era mais macho.
—Querem cair no soco? Caiam. Fiquem a vontade. — cruzei os braços me sentando na cadeira da mesa próxima a eles.
— Esse cara é um otário fala de você como se fosse um objeto. — o Diego empurou o Richard o soltando e ele continuava fazendo cara de sonso que não se importava.
— Mesmo assim ela me prefere, né não cuzão? — revirei os olhos.
— Eu to cansada de vocês dois. Eu não vou voltar com você, Diego. E eu não prefiro você, Ríos. Eu gosto de mim, se aconteceu alguma coisa foi só deslize e eu vou arcar com as consequências disso. Mas eu to cansada, eu não preciso que o Diego me proteja e eu to de saco cheio de você me tratar como puta. — descruzei os braços e levantei — Sério mesmo, eu nem quero mais conversar. Diego, esquece o Richard, parece que era ele que era seu namorado. — olhei pro Richard — E você para de fazer as coisas só pra se sentir superior a ele, você não vale nada. — os dois me olharam incrédulos, como se o que eu estava falando era novidade para eles — Bom dia pros dois e vão viver a vida de vocês! — puxei primeiro o Diego — Você vai encontrar alguém melhor, fica tranquilo! — eles nem abriam a boca, eu estava amando o monólogo — E você... — puxei o Ríos — Vai viver feliz com a sua namorada. Eu tenho mais o que fazer! — bati a porta na cara deles e a mistura de alívio e tristeza me invadiram.
Sentei ali mesmo no chão para chorar tudo que eu tivesse que chorar, urgente. Porque eu precisava passar aquela fase da minha vida logo. Mas eu acho sinceramente que homem não escuta, porque ao abrir a porta para sair lá estava ele, como se nada tivesse acontecido, só aguardando para entrar na casa novamente.
— Porra, você não foi embora? — respirei fundo.
— Eu falei já que ela não tá aqui, que sou todo seu. — ri o mais cínica que pude.
— Cara, você não vale nada. Como que eu pude um dia querer ter você pra mim? Você não toma jeito, nunca. — ele pegou minha bolsa e a tirou colocando-a na mesa.
— O que vamos fazer hoje? — ele me ignorou mais uma vez.
— Você eu não sei, eu vou trabalhar. — me virei para pegar a bolsa e ele me puxou pela cintura me prendendo.
— Eu sei que você não vai entender e que não gosta quando eu falo isso, mas eu preciso de você. Eu gosto dela, mas ela não me dá a calma que você me dá. Talvez eu esteja sendo egoísta, mas eu preciso de você pra mim as vezes e ela nem tá aqui, que mal tem?
— É sério que você tá me perguntando que mal tem? — ele negou — A culpa é minha, foi eu que te dei a impressão de que aceitaria tudo só pra te ter comigo. E talvez até fosse verdade, mas entre ser verdade e ser saudável tem um abismo enorme e eu não vou me jogar nele. — ri lembrando da fala dele — Você gosta dela e eu sou seu remedinho, seria lindo se além de ser traição não fosse humilhante ser um tapa buraco para você.
— Hoje você tá afim de brigar né?
— Não estou brigando, estou conversando numa boa com você. Mas já disse, entendo que a culpa é minha, fui eu quem fui solicita com você quando você só queria me usar. Eu que aceitei porque era gostoso como não era com mais ninguém. E sou eu que vou ter que viver com isso agora.
Eu percebi só aí o quanto me deixei levar por migalhas de afeto, me contentando com tão pouco quando merecia muito mais. Ser solícita, estar disponível, aceitar ser o "remedinho" dele, tudo isso só reforça a minha própria percepção de mediocridade. Cada palavra que eu disse para ele naquele momento era uma admissão dolorosa de minha própria fraqueza. Era eu quem permitia, quem aceitava, quem se iludia sempre. Fui eu quem me tornei aquilo: quem se machucava, quem se diminuía, quem traía, quem ajudava a trair. E agora, sou eu quem precisa lidar com as consequências dessa escolha. A culpa é minha, não só por ter aceitado, mas por ter acreditado por tanto tempo que merecia tão pouco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reserva- Richard Rios
Fiksi PenggemarJá parou para pensar no que significa o banco de reservas? Você está ali esperando para substituir alguém, seja por performance, seja por problemas médicos ou só opção. Mas você já se viu sendo a reserva da vida de alguém? É como estar constantement...