Mar calmo nunca fez bom marinheiro

1.3K 60 21
                                    

Acordei no outro dia renovada, era como se nada de ruim um dia tivesse me atingido. Olhei algumas vezes para o lado antes de levantar, precisava confirmar repetidas vezes se realmente tinha acontecido e se ele ainda estava por ali. Estava apagado. 

Fui devagar, quase que na ponta dos dedos até o banheiro e levei o celular junto. Já estava tarde, então enquanto lavava meu rosto e escovava os dentes fiquei lendo alguns e-mails importantes. 

Saí de lá da mesma forma que entrei, ele devia estar cansado eu não queria acorda-lo. Já na cozinha preparei um café para mim e sentei na sala com meu notebook fazendo algumas coisas de trabalho. Fiquei entretida, tanto que tomei um susto quando os lábios molhados dele encostaram em meu pescoço. 

Soltei a xícara de café rapidamente, mas ele a pegou sorrindo. Respirei fundo algumas vezes até que a respiração se normalizasse do susto e ele esperou.

— Você toma susto muito fácil. — ele beijou meu pescoço novamente enquanto dizia. 

— É verdade, eu tenho esse problema. — sorri um pouco sentando no sofá — Já vai? — ele assentiu apenas balançando a cabeça — Tudo bem então. — levantei dando-o um selinho. 

— Mas eu queria sair com você hoje de noite. Topa? 

— Pode ser sim. — sorri um pouco caminhando até a porta e foi até um pouco difícil fingir que pensar em sair com ele não me deixou tonta. 

— Até as 20h então. — assenti e recebi um beijo de despedida como resposta. 

Foi difícil controlar as batidas do meu coração depois daquele momento, quase pensei em ir ao hospital, porque eu só poderia estar infartando. Não era possível que sentimentos me fariam ter aquela sensação do coração querer rasgar o peito. 

Se controla, Anna. Ainda tem muito chão. 

Foi só isso que eu disse pra mim enquanto voltava ao trabalho, ainda tem muito chão, era muitos passos e muita prova. 

O resto da manhã pareceu passar voando e na parte da tarde resolvi ir um pouco para a casa dos meus pais, já que fazia tempo que eu não ficava com eles. 

Era muita coisa pra contar para minha mãe, então a poupei dos detalhes, apenas contei que estava conhecendo alguém, mas contei longe do meu pai. Já que para ele eu ainda era sua garotinha de 5 anos correndo pela casa. 

Ele apenas me perguntou porque eu estava indo muito ao Allianz, para ele, alguém cheia de trabalho como eu ir 2x ao estádio num curto período de tempo é muito. Eu menti é claro, disse que um cliente nos deu os ingressos. 

Quando finalmente consegui me soltar das garras de amor dos dois meu relógio já marcavam 18h e eu tinha a certeza que me atrasaria para tal saída. 

Mas nessa altura do campeonato acho que todo mundo tem certeza de três coisas: tomo sustos fácil, me atraso sempre e sempre falo que não vou ficar com ele e fico. 

Então como diz aquele ditado: Faça o que eu digo e não o que eu faço. Façam o que a Anna dos pensamentos prega e não o que a Anna das ações faz. 

Enquanto estava parado no trânsito maluco daquele horário aproveitei para lhe enviar uma mensagem. 

"Eu vou atrasar 

Fui ver meus pais e agr to agarrada 

20h30?"

Assim que larguei o celular Deus pareceu ouvir minhas preces, na mesma hora o trânsito voltou a andar e eu voltei a prestar atenção apenas nele. 

Chegando ao apartamento li sua resposta e para ele estava tudo bem sairmos um pouco mais tarde. 

Corri para o banho e quando saí enquanto me maquiava fiz uma gambiarra com o apoio do ferro para deixar o secador batendo em meu cabelo. Anotem. Vantagem de não ter nascido podre de rica: saber improvisar. 

Quando terminei o cabelo já estava praticamente seco, então apenas finalizei ele com uma escova e o secador. 

Hora da roupa. Ele só tinha falado sair, não deu dica nenhuma pra onde. Então iria em algo fácil de acertar. Vestido. Escolhi um frente única preto com vários recortes no abdômen e as costas nuas, ele era midi o que equilibrava a sensualidade do resto. Calcei a sandália de duas tiras da mesma cor do vestido, coloquei alguns acessórios em prata e peguei uma bolsinha tiracolo também no preto. 

Enquanto passava perfume escutei meu celular tocar e atendi o escutando dizer que estava me esperando lá embaixo, mas não precisava desesperar. 

Desesperei, é claro. Passei um gloss, coloquei-o na bolsa e fui correndo para o elevador com tudo na mão. Quando a gente quer que chegue rápido parece que ele está parando em todos os andares, já percebeu. 

Chegando na portaria cumprimentei o porteiro que me elogiou e eu agradeci de longe dando um tchau. O carro estava exatamente na porta e ele tinha visto toda a cena, então quando entrei no carro suas sobrancelhas estavam tão juntas que quase chegava a dar medo. 

— O que que ele disse? — ele perguntou. 

— Ele tem idade para ser meu pai e falou com respeito. — coloquei o cinto — Acorda, ou! — dei um tapinha na nuca dele o fazendo bufar. 

— Mesmo assim né, só eu posso elogiar. — me olhou — Tá mesmo muito linda. 

Sorri de volta para ele e dei graças a Deus quando ouvi o barulho do carro dando partida, porque para mim era impensável ele estar puto com o porteiro de sessenta e poucos anos por dizer que eu estava muito arrumada hoje e bonita. 

No restaurante ele estava sendo completamente carinhoso e cuidadoso, tudo que fazia esperava por uma palavra final minha. Era tão bom que chegava a ser ridículo. 

Conversávamos tão mais próximos que eu podia jurar o conhecer a muito mais tempo e que aquele não era o homem que eu encontrava com várias mulheres por São Paulo. 

Enquanto conversávamos seu celular tocou uma vez e ele cancelou,  a segunda eu disse observando ser o mesmo número. 

— Pode atender, vai que é urgente. 

Foi o que ele fez, levantou pedindo desculpa e licença e foi para uma área externa atender. 

Ele estava demorando e a comida estava quase esfriando. Mas o que esfriou também foi meu coração, quando a porta da área externa se abriu e meus olhos puderam ver mesmo que um pouco embaçado a curva do corpo de uma mulher agarrada ao corpo dele. 

Eu queria que fosse um sonho, eu estava jurando pra mim que era. Não era possível, ele não era capaz daquilo. Ou era? É verdade o que dizem por aí e eu precisava crescer. Afinal, mar calmo nunca fez bom marinheiro.

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora