Intimidade invadida

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No começo da 32ª semana, o que eu tanto evitava aconteceu. Depois de muita insistência do Richard saímos para jantar juntos, mas não escolhemos bem o lugar. Pelo menos não naquele dia, pois um grupo de adolescentes vazaram uma foto nossa no restaurante e a barriga enorme foi alvo de muitos comentários e especulações. 

Era o começo de uma semana muito difícil e que quando vazaram a foto eu nem imaginava a missa a metade, comentários de ódio não estavam nem perto de me incomodar como os acontecimentos que vieram após eles. Eu queria, mas não podia privar meu instagram pelo trabalho e aquilo era o mais difícil. 

Eu sabia que aquilo era a vida nas redes sociais, nada que eu não estivesse habituada. Então passei três dias inteiros ignorando comentários ou solicitações de mensagem. Eu nem ligava para comentários bobos como "você é feia demais pra ele, garota". Primeiro, porque eu escrevi bonitinho, mas na real eles tinham um português horrível. Segundo, não tinha problemas com a minha aparência. Terceiro, feia demais para vocês, porque ele estava bem satisfeito me fodendo. Sim, eu já estava debochada e ai de quem me encontrasse na rua e fizesse uma gracinha dessas, meus hormônios soltavam minha língua como nunca. 

Dei graças a Deus meus dias na empresa e nos demais compromissos terem continuado o mesmo, mas o Richard estava preocupado demais comigo, como se já esperasse o que estava por vir. No entanto, ele estava em viagem e o máximo que podia fazer era me ligar e saber como eu estava e se estava lidando bem com tudo. Ele tinha sempre palavras positivas e elogios, como se ele tivesse que suprir a falta de amor vinda dos comentários. 

No quarto dia, ele voltou para casa. E foi quando as ameaças começaram, diziam que sabiam meu caminho para casa, que era melhor eu começar a não sair da empresa para almoçar, entre outras coisas doentes sobre o bebê que estava na minha barriga, desejar o mal não chega nem perto do que falavam para mim. Mas quer saber? Também não me incomodavam. Só que internet não era terra sem lei e foi aí que depois de muita insistência do Richard e da Bárbara que fomos denunciar as mensagens mais pesadas. 

Eles estavam mais incomodados do que eu, eu achava que quem escrevia atrás da tela de um computador ou celular não tinha coragem de nada. Eram ameaças vazias. Se soubessem de tudo aquilo mesmo tinha me enfrentado cara a cara. Não fizeram. Mas estavam testando meu limites. 

Foi aí que começaram a chegar os tão incomodos, vídeos e fotos do Richard com outras mulheres. Aí doeu, doeu muito, me perturbou o bastante para ficar abrindo mensagem por mensagem para ver cada imagem enviada, como se eu quisesse me torturar, como se o passado estivesse se esfregando com tanta força na minha cara que me faziam enlouquecer. 

Gritei. Alto, tão alto e com tanta raiva que ele apareceu correndo na porta do quarto, eu queria esgana-los, eu queria mata-lo, eu queria que eu pagasse por tudo, por tudo mesmo. Eu estava surtando, eu nem conseguia falar com ele, mesmo que ele dissesse eu não acreditaria que era mentira, eu só conseguia dar murros e tapas no seu peito. 

Eu vi cenas que eu preferia nunca nem ter imaginado, cenas tão obscenas quanto as nossas, sexo sujo, fotos perturbadoras. Estava me matando e eu não conseguia falar o que era, suas mãos travando as minhas e meu rosto coberto por lágrimas. Ele era mais forte que eu e eu só queria descontar toda a minha raiva nele. Como eu podia confiar nesse homem? Como eu podia garantir que ele ia ser bom pro meu filho?

Ele viu meu celular desbloqueado na cama, me soltou e eu não me importava que ele visse o porque, só queria bater e xingar ele de tudo que eu conseguisse, que mudança hein Richard Ríos? Que mudança de merda. 

— Anna, não são de agora. Calma! —  ele segurou minhas mãos tentando me acalmar novamente, mas eu não acreditava estava atordoada, eles tinham conseguido.

— Sai da minha casa agora. Sai agora. Agora. —  eu gritava tanto que os vizinhos possivelmente estavam me ouvindo. 

— Olha a tatuagem, tá faltando. Confia em mim. —  não escutei, soltei minha mão para passar no meio da minha perna. 

Sangue, era sangue. Eu estava sangrando, a raiva se transformou em desespero e ele não sabia o que fazer. Eu só chorava e balbuciava algo sobre sangue e meu filho. Eu não conseguia acreditar, aos sete meses, era sensível e inacreditável para mim. Não me lembro de muita coisa depois desse momento, talvez eu tenha desmaiado, minha ultima imagem era dos seus braços agarrando meu corpo. 

Era difícil decifrar o que estava acontecendo depois dali, era como se eu estivesse sonhando. Sonhando não, tendo um pesadelo. Eu só conseguia pensar no João, as imagens que causaram isso nem passavam mais por mim, o bebê indo embora era a única coisa que me atormentava. Eu tentava segurar suas mãos e não conseguia. Ele era indefeso e eu incapaz de defendê-lo. Não era só minha intimidade que tinha sido invadida, era minha vida e a do meu filho. Não existia mais família, era eu tentando segurar meu João.  

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora