A noite eu sempre sou suficiente

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A minha fantasia foi totalmente interrompida pelas mãos dele puxando meu rosto fazendo com que eu tirasse os olhos do seu peito. Levantei o olhar pro seu rosto e notava-se a km de distância o seu ar de vencedor. Ele sabia que havia ganhado, teve a confirmação de tudo que ele já imaginava saber. Eu até tentei sair do seu colo, mas meus músculos não me respondiam, eu pensava, mas não conseguia agir.

As horas seguintes foram tudo aquilo que eu tentei evitar, roupas e toalha voando pelo quarto, mãos passeando pelos corpos, bocas se tocando sem nem pensar em mais nada, um prazer que eu tinha sentido poucas vezes na minha vida. Eu estava INEBRIADA, era a mesma sensação de estar embriagada, me sentia flutuando, os meus sentidos aguçados, felicidade exalando a cada gota de suor que escorria entre os nossos corpos.

Acordei com os raios solares invadindo meu quarto, estendi a mão para me espreguiçar e assustei ao bater em um corpo deitado ao meu lado. Olhei-o e respirei fundo lembrando que era somente o Richard. Olhei o relógio que estava na minha mesa de cabeceira e eu precisava levantar, procurei a toalha da noite anterior pelo chão e me enrolei nela antes de acordá-lo.

— Richard... — o balancei algumas vezes — Ríos. — antes mesmo que eu encostasse nele percebi seu olho abrir.

E ao me olhar e perceber onde estava seu olhar ficou sério, quase parecia uma pessoa diferente. Me afastei antes de falar.

— Bom dia! Vou tomar banho, porque preciso ir, não sei dos seus horários, então pode ficar à vontade. — sorri tentando ser o mais simpática possível.

Ele se levantou sentando na cama e eu fui direto para o banheiro, quando saí ele já estava semi vestido sentado na ponta da cama e sem ao menos me olhar nos olhos disse.

— Eu posso tomar um banho. — assenti indo até o guarda-roupa.

— Pode sim. — entreguei a ele uma toalha e voltei para o guarda-roupa.

Sabe aquela sensação de distanciamento da primeira vez, eu a senti de novo, era como se a mudança de dia trouxesse também a mudança de comportamento. Frio, distante e de pouquíssimas palavras, esse era ele sempre depois de sermos tão íntimos.

Não fiquei procurando muito, calça jeans, camisaria branca, bota preta de meia e salto fino. Quando estava procurando os acessórios ele saiu do banheiro já vestido, me olhou como se pensasse "me aproximo ou não", mas se contentou em encostar no meu braço e falar.

—Preciso ir, bom dia!

Entre as palavras e ele realmente sair foi rápido, nem consegui dar tchau e o toque não era mais quente, era totalmente frio, como se ele conseguisse mudar a temperatura de suas mãos.

Terminei de me arrumar tentando não achar explicação para tudo aquilo, mas minha cabeça girava, eu parecia estar em ressaca de Richard. Não consegui nem ao menos comer, coloquei um pouco de café em um copo e fui durante o caminho até a empresa tomando-o. Eu estava tão atordoada, que entrei na empresa sem nem ao menos perceber as pessoas chamando meu nome, eu estava desligada, só conseguia pensar o que eu poderia ter feito de errado, qual seria o meu defeito.

Um botão pareceu ser apertado e me ligado novamente quando me sentei à minha mesa e vi quatro gerentes de setor à minha frente. Assustei e eles também pularam.

— Bom dia, pessoal! Tá tudo bem? — tentei normalizar minha voz do susto.

— Eu preciso de aprovação. — Pedro falou.

— E eu preciso de ajuda com liberação de orçamento. — a Lilian disse logo em seguida.

— Eu preciso saber se posso liberar uma das peças de inverno para um influencer usar em uma festa. — a Cássia do marketing de influência se pronunciou.

— E eu vou te matar, porque estão me cobrando sua confirmação para a festa de lançamento do novo perfume da CH. — a Barbara falou já batendo as mãos na mesa.

— Bom dia a todos vocês! — repeti mostrando que nem ao menos tinham dito isso — Eu não tenho e-mail e nem secretária não é mesmo? Marcar reunião para que se eu tenho uma chefe maravilhosa que me deixa entrar na sala dela a qualquer hora. — me ajeitei na cadeira — Mas vamos lá: Pedro, você tem autonomia para aprovação de arte, por isso é meu gerente, mas se precisar de alguma ajuda marque uma reunião hoje; Lilian, me manda por e-mail, eu te ajudo; Cássia, manda uma mensagem pra marca por e-mail qual seria a festa, qual seria a peça, qual seria a influencer e qual a vantagem e me coloca em cópia que se precisar eu entro no meio; Bárbara, você precisa respirar, se você disser que é vantajoso, você sabe que eu vou. — olhei para eles firme antes de continuar — Pessoal, vocês precisam ter autonomia, são meus diretores, confio em vocês, nem tudo precisa passar por mim, só me informa para eu ficar ciente das decisões e ajudar vocês em qualquer percalço.

Todos eles saíram da minha sala calados, de menos a Bárbara que os esperou ir embora, fechou a porta e se sentou à minha frente perguntando.

— Você tá bem? Viemos falando o caminho todo atrás de você e você nem percebeu.

— Não dormi direito. — no fundo não era mentira, eu não dormi a noite toda.

— Podia ter ficado em casa, você é a dona.

— E eu preciso dar o exemplo. Além disso, depois de toda essa cena você acha que eu posso ficar mesmo em casa? — ela negou com a cabeça.

— Hora da fofoca. Já contaram aqui na empresa que o Richard foi até a locação ontem, como assim?

— Não foi por mim, ele está ficando com uma das modelos, segundo ela.

— E você?

— Como assim gente? — eu ri tentando fingir desinteresse — De verdade, não entendi sua pergunta, Babi.

— Você entendeu e eu te conheço, mas vou fingir que não tem mentido para mim.

— Fofoca, fui na academia ontem e o Lucas voltou. — ela se ajeitou na cadeira novamente, totalmente interessada.

— E?

— E que conversamos, ele disse que estava indo na academia na esperança de me encontrar e combinou de marcarmos algo depois, mas eu nem sei se quero marcar algo sozinha com ele. Será que podemos fazer em grupo? — ela apenas concordou.

Trabalho, trabalho e mais trabalho, esse foi o resumo do restante do dia. Não consegui nem ir à academia, pois fiquei a noite trabalhando em uma apresentação importante. Quando percebi já eram mais de meia noite, então resolvi comer alguma coisa para finalmente poder me deitar, foi quando meu celular vibrou.

"Oi, Anna!

Acabei de sair do jogo...

Será que posso ir para sua casa.

Cansado...

Precisando de você!"

Aquela mensagem me deixou num misto de emoções, porém a maior dela foi a indignação. Eu só servia para ele durante a noite? O que eu era afinal? Ele saiu da minha casa parecendo nem me conhecer e aí de noite diz que precisa de mim? É uma experiência que nos leva a questionar nossa própria importância e valor. Afinal, o que realmente significamos para aqueles que nos veem apenas como uma alternativa, uma solução temporária para suas demandas?

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora