Sozinha

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Fiquei dois dias viajando e quando voltei quem estava em viagem era o Diego, ele tinha um jogo na Argentina no meio de semana e ficaríamos mais dias sem nos ver. Mas durante a minha viagem ele me ligava todos os dias para que eu não ficasse sozinha, fiz o mesmo por ele. O liguei durante a noite para que pudéssemos conversar um pouco de vídeo. Estávamos conversando quando escutei a porta, estava tranquila, pois bem provavelmente não era o Richard, já que proibi, nem cogitei.

Fui ainda em ligação e tive que desligar.

"— A Mali chegou aqui, quando elas foram embora te ligo. Tô com muita saudades!"

Ele entendeu e eu desliguei. Não era só a Mali, era a Clara e o convidado que eu não queria. Eu pedi a Bárbara para não contar para Clara até que eu estivesse bem, porque ela estava de férias com a Mali e ficaria bastante preocupada, resultado ela apareceu na minha casa com o Ríos.

— Oi, gente! Aconteceu alguma coisa? — olhei apenas para Clara, mas podia ver de rabo de olho a cara do Richard fechada, provavelmente pela minha despedida na ligação.

— Não, Richard que me mandou mensagem falando para gente combinar um dia de vir na sua casa para ele ver a Mali e eu falei que aqui não precisava de convite, que poderíamos vir.

— Podia ter me avisado, eu cheguei quase agora da viagem a trabalho, nem tem nada aqui. Vamos combinar outro dia?

— Que foi? Você nunca foi de nos expulsar. — ela olhou para mim primeiro e só quando percebeu que meu olhar não saía dela olhou pro Richard — Já entendi, depois conversamos então.

— Você e a Mali podem ficar, bom que eu mato a saudades. — ela assentiu e ele acordou.

— Por que eu não posso?

— Não to no clima pra isso hoje. Eu estou cansadona, deixa o teatro pra outro dia. — olhei apenas para ele.

— A Mali também tá com sono, amiga. Amanhã a gente combina de vir mais cedo, aí você sai mais cedo do trabalho também. — ela me abraçou mandando a Mali pedir bença e dar tchau e saiu, deixando mais uma vez só eu e ele ali.

— O que você quer? — cruzei os braços o olhando.

— Quero entrar, quero ficar, eu to precisando.

— Mas eu não, por favor. — respirei fundo algumas vezes tentando não me descontrolar.

— Por que a gente não pode ficar mais?

— Porque você mente. Porque você não presta. Porque eu não sou tampa buraco pra ninguém. Porque eu não quero. Porque eu não preciso. Porque eu não estou afim. — falei enumerando com os dedos — Pode escolher qual vai ser. — revirei os olhos antes de olhar pra ele novamente.

— Mas você não quer mesmo? — ele se aproximou agarrando minha cintura e eu tentei sair, mas ele me puxou de volta, o que me fez arrepiar e eu não queria que aquilo tivesse acontecido.

— Não. — disse fechando os olhos para não olha-lo.

— Então me olha, fala olhando no meu olho. — ele disse sussurrando em meu ouvido e passeou encostando seus lábios em minha pele, me fazendo arrepiar novamente.

— Por favor, vai embora. Eu já te pedi. — eu não conseguia abrir os olhos e nem tentava mais sair dos seus braços.

Ele sabia que eu queria e eu sabia que devia me afastar, mas entre saber e fazer tinha uma distância muito grande. Ele continuou distribuindo beijos pelo meu pescoço e eu sentia sua respiração próxima a minha boca, mas ele parou, parou no momento em que sentiu o gosto da lágrima que começou a escorrer pelo meu rosto. Era óbvio para ele, eu queria, mas me fazia mal.

—Desculpa. — ele disse limpando as lágrimas que vieram em seguida — Eu vou embora. — ele beijou meu rosto antes de ir.

Fiquei paralisada, travada, passei longos minutos na porta do meu apartamento sem conseguir me mexer, só sentia lágrimas molharem incessantemente o meu colo. Meu celular tocou e eu me mexi, mas não atendi. Entrei correndo pro banheiro, foram longos minutos chorando debaixo da água.

Lembrei de todos os momentos que eu passei naquelas 3 semanas, sem comer, sem viver, só chorando e me dopando de remédios para dormir, como eu ainda podia querer alguém que me causou aquilo? Como eu poderia sentir algo por alguém que me destruiu?

Saí do banho sem forças, tinha gastado todas as restantes para chorar. Mas tive que atender o Diego, já que eu tinha prometido.

"—Oi, amor!

—Oi! — falei meio desanimada.

— Tá tudo bem? Estava chorando? — vi sua expressão preocupada.

—Chorei um pouquinho no banho de cansaço, mas tá tudo bem, não se preocupa, ok? — sorri um pouco.

— Só liguei para te dar boa noite, mas agora eu estou preocupado.

— Tá tudo bem, só saudades de você, daqui uns dias melhora. — sorri verdadeiramente ao ver que ele tinha um sorriso enorme no rosto ao me ouvir falar que estava com saudades.

— Eu também estou com saudades, já já eu volto. Eu preciso dormir, mas me liga qualquer coisa.

— Descansa, amanhã é um jogo importante. Vai dar tudo certo!"

Não conversamos muito mais, nos despedimos e eu me joguei na cama. Estava com fome, mas não tinha forças. Estava cansada, mas não conseguia dormir. Eu estava destruída novamente e ver o Diego sorrir me deu um pouco mais de calma, mas não o suficiente para esquecer de tudo.

Passei a madrugada toda me sentindo SOZINHA. Era tão solitário aquele lugar, eu sentia medo, medo de me entregar novamente, medo de perder o que eu tinha com o Diego só pela possibilidade quase inexistente de ter o Ríos, medo de viver para sempre daquela forma. Eu precisava procurar ajuda e dessa vez precisava ser sério. Não era normal sentir tanta vontade e tanta dor. Não era normal ter alguém que te cuida, te exalta, te dá tudo que precisa e mesmo assim você se sentir sozinha. Eu precisava sarar, porque eu não queria fazer ninguém chorar de tabela por algo que nem foi ele quem causou. Por isso era tão solitário, era um caminho que eu precisava trilhar sem envolver quem tinha me feito tanto bem.

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora