— Você não tá nervosa? — neguei tentando acalmar os ânimos — Pois deveria ficar.
Eu estava completamente irritada com tanta falação da Antônia, era tudo que eu menos precisava naquele momento. Ficar irritada era a ultima coisa que eu deveria. Lembrei quando tinha sido a ultima menstruação e que já estava atrasada, mas isso era uma coisa muito comum durante toda a minha vida e se não fossem os outros sintomas eu estaria tranquila.
Banho, eu precisava de um banho. Mas tudo aquilo também podia ser minha ansiedade atacando. Talvez eu estivesse arrumando desculpa, mas a maior possibilidade dentro do cenário me assustava. Me assustava e muito, até porque existiam dois homens e eu não queria estar grávida de nenhum deles.
Saí do banho e a Antônia já estava me esperando, ela queria ir na farmácia a qualquer custo. E eu só pensei em brincar para amenizar o clima.
— Calma, é só um bebê.
— Como você está conseguindo ficar tão calma? — ela passou a mão na cabeça.
— Eu não tenho muito o que fazer, querida. É aceitar ou me lamentar, agora me lamentar não adianta nada.
— Pois eu estou muito preocupada com você.
— Não precisa, eu estou bem. — encostei em seu ombro — Quer ir lá? Eu vou por você.
Resumo: tive que ir. Contrariada e com o dia mais frio desde que cheguei a Calvià. Compramos o teste e ela já queria que antes que eu fizesse pegasse meu seguro viagem e marcasse as coisas no hospital. Mais ansiosa que eu, era ela quem tava correndo o risco? Neguei é óbvio, eu queria ter calma, antes de sair me precipitando.
Nem quis fazer o teste na mesma hora, fomos andar pela cidade, já que sábado e domingo eram as folgas dela nessa semana. Turista né? Gosta de bater perna, mesmo com tudo que estava sentindo. Eu só queria espairecer e ela só queria que eu entrasse no primeiro banheiro e fizesse o teste, mas é claro que eu não faria isso.
Paramos para almoçar e eu não queria comer nada forte demais, na esperança de ter passado mal por ter comido muito e uma comida forte. Pedi uma salada, mas até aquelas folhas me faziam revirar o estômago ou o cheiro do local, ainda não consegui distinguir.
— Se der positivo vamos em Madrid fazer compras antes de você ir embora. — revirei os olhos.
— Antônia, esquece isso. Parece que é você que pode estar grávida. — eu ri e ela me bateu.
— Uma criança é assunto sério, garota. — bufou.
— Eu sei que é, mas a gente nem sabe se essa criança existe. E se existir ela deve tá dormindo bêbada de tanto álcool de ontem. — eu ri e apanhei de novo.
— Você sempre acha tudo engraçado, Anna.
— É melhor eu rir do que chorar.
Depois do almoço não pude fugir, tive que ir para casa fazer o teste. Enrolei, disse que era melhor fazer no dia seguinte com a primeira urina do dia. Ela resmungou, me apertou, mas acabou aceitando. Ficamos o resto da tarde assistindo filmes na televisão, minha mãe me ligou e mentimos é óbvio, não porque ela me julgaria, mas porque eu não tinha certeza de nada.
Era muita coisa só para mim e para Antônia, então contei para Bárbara, que me tratou feito criança perguntando se eu não conhecia método contraceptivo, mas Deus quando quer não adianta, porque inclusive se tivesse uma criança ali dentro ela nasceria com um método junto, um DIU.
No final, ela estava mais preocupada em como eu contaria para eles. Mas eu nem sabia como e nem se iria, dependendo eu preferia ficar na minha. Não era hora de pensar nisso, nem em bebê, era hora de pensar em mim, amanhã depois do teste eu pensaria no que fosse preciso.
A noite saímos para jantar, não queríamos comer nada da gastronomia espanhola, então decidimos comer pizza e nunca vi um estômago tão feliz quanto o meu. Mesmo sonolenta e preocupada, comi aquilo com sorriso de orelha a orelha. Com essa preocupação ou não, os dias fora do Brasil estavam me deixando mais tranquila.
Voltar para casa me deixou ansiosa, não queria dormir para ter que acordar e fazer aquele teste. Dormi tendo pesadelos e em todos eles apareciam o Richard, acordei no meio da noite suada e atordoada. Por mais que existia a chance de ser o Diego, na minha cabeça ela era quase nula pelo tempo, mesmo sabendo que tem gente que descobre tarde.
Talvez fosse menos pior que eu descobrisse tarde, mas como eu ia ter cara de chegar nele e falar isso. Sei que ele aceitaria na mesma hora, mas era vergonhoso. Era vergonhoso tê-lo rejeitado e voltar jogando essa no peito dele. Mas era menos pior do que ser do Ríos, porque além de todas as coisas ruins, seria fruto de uma traição.
Eu precisava voltar a dormir e não podia tomar remédio, então tomei uma água e me aninhei na cama novamente. Demorei um pouco a pegar no sono, mas quando acordei já passavam das nove da manhã, a Antônia tinha ido trabalhar e eu não sabia se era melhor, porque eu poderia fazer em paz ou se era pior porque eu não teria ninguém para me consolar. Só sabia que teria que fazer.
Reuni toda a minha coragem, passei a mão no teste e fui para o banheiro. Minhas mãos tremiam, eu mal conseguia abrir a embalagem. Tinha que ter um apoio, liguei de vídeo para a Bárbara.
" — Fica comigo, não consigo sozinha.
— Ultimamente você só faz merda. Saudades de quando era eu quem fazia e você quem corrigia. — bufei e abri a caixinha.
— Bárbara, é para você me deixar mais tranquila. — respondi fazendo e o deixei de lado.
— Filha, parece que sou eu, eu nem dormi. — ela ficou me olhando — E aí, Anna? — eu nem conseguia responder."
Naquele momento foi um balde de água fria, eu ainda tinha esperanças de que não estivesse acontecendo comigo, mas a segunda barrinha acendeu e cravou direto no meu coração. Não tinha sensação que descrevia aquilo, eu fui cuidar de mim e acabaria tendo que cuidar de dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reserva- Richard Rios
FanfictionJá parou para pensar no que significa o banco de reservas? Você está ali esperando para substituir alguém, seja por performance, seja por problemas médicos ou só opção. Mas você já se viu sendo a reserva da vida de alguém? É como estar constantement...