Capítulo 11

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Ninho da Águia, Montanhas do Hindu Kush. Setembro de 2001.

— Existem vários tipos de especializações para um assassino.

Al-Shishani não tirava os olhos da professora. Não somente ela, mas a classe, sentada em carpetes com as pernas cruzadas, escutava atentamente tudo o que aquela mulher tinha a dizer. Quase em transe, hipnotizados, admirando a voz doce e suave da instrutora.

— E, apesar das vantagens, nada te impede de almejar a especialização que deseja.

Sim. Era possível para uma garota como ela ser uma especialista em inúmeras artes marciais e quebrar a maioria dos humanos na porrada. Entretanto, reconhecia bem as vantagens de um corpo repleto de curvas. Deixaria os combates brutais contra três, quatro ou cinco oponentes para pessoas como Daniel.

Não queria ter que pagar plásticas para o nariz ou estar repleta de cicatrizes.

Ela preferia a sutileza, as vozes doces, o jeito delicado, a forma como ela tecia uma teia para envolver seus alvos. Sedução era a principal arma. Seu melhor instrumento. Nada mais eficaz que atrair um general com promessas doces em uma noite de paixão para envenená-lo depois.

Planejar um ataque furtivo durante a calada da noite, neutralizando guardas e atravessando soldados para chegar no comandante? Até parece. A vida jamais seria como um filme de Hollywood.

Em outras missões, caso quisesse empoderamento, esfaquearia seu alvo durante o sexo, tal como as assassinas da era romana. A instrutora era bem clara ao passar suas experiencias, tanto no mundo mundano quanto na verdadeira sociedade que existia atrás de um véu etéreo. Na maioria das vezes, mulheres eram subestimadas.

Para um homem do bem e criado nos preceitos protetores de sua família, o primeiro instinto era sempre querer proteger a mulher. Bastava demonstrar fraqueza e eles seriam os primeiros a pularem em sua defesa, a baixar a guarda perante ao choro e pedidos de socorro. Sorriu ao imaginar as possibilidades de matar um homem desta maneira.

Tinha os machistas, sedentos por provar a superioridade masculina. Ela nutriria as desilusões, permitiria que fossem arrogantes e prepotentes. Até a hora em que eles engasgassem com um ataque preciso da donzela indefesa. Nada de uma luta de igual para igual, o pragmatismo reinava sobre a mente de uma assassina. Uma facada por trás, na coluna dava conta do recado.

E com o novo milênio, veio as causas sociais. Minorias querendo vozes, buscando emancipação. Nada mais justo que matá-los da mesma maneira. Não seria preconceituosa desse jeito. Eles eram um grupo igualitário, sem distinção de gênero ou credo.

Tudo em nome da Legião, do Velho Sábio da Montanha, de uma ordem milenar que transformou a morte em uma verdadeira arte.

A aula terminou quando um homem esbaforido interrompeu as lições da professora para pedir que ela ligasse a televisão. Ela ergueu sua fina sobrancelha e pegou um controle em cima de uma mesinha de madeira. Notícias de um atentado terrorista nos Estados Unidos estamparam a tela da televisão de plasma.

América chocada: dois aviões atingem o World Trade Center, derrubam as Torres Gêmeas e cobrem Manhattan com cinzas!

A professora trincou os dentes e franziu o cenho. Ela passou por outros canais de notícias, cuja manchete era pior do que a do canal anterior. Os imbecis atingiram até o Pentágono! Um outro avião havia caído na Pensilvânia.

Sua professora não perdeu tempo.

— A aula está encerrada. — Desligou a televisão e meneou a cabeça para o mensageiro. — Sigam até seus quartos e procurem seus monitores. Arrumem suas coisas, não deixem nada nos seus alojamentos e esperem futuras ordens!

O ChacalOnde histórias criam vida. Descubra agora