Hotel Serrafiore. Monte Carlo, Principado de Mônaco. Novembro de 2018.
Ah... Mônaco. As ruas estreitas lhe traziam ao passado renascentista, já os carros esportivos e exóticos a levavam para um cenário futurista. Os jardins de roseiras eram tão impecáveis que até pareciam falsos e o padrão de vida da população era bastante elevado.
Davina correu por entre as sacadas e marquises dos prédios, os quais pintavam em cores vívidas as curvas bruscas do principado. As marcações vermelhas e brancas das zebras, devido ao famoso percurso de fórmula um, davam um toque especial ao glamour da cidade, fazendo-a se lembrar de tempos há muito esquecidos.
Cruzou as curvas Mirabeau, subindo a colina depois de ir à praia. Transitou em frente a um famoso Grand Hotel, admirando a mistura dos terraços modernos com os jardins suspensos das muitas edificações. As muretas baixas lhe permitiam espiar a baía onde Mônaco se situava.
A Riviera Francesa agraciava-lhe majestosamente com a sua presença e anestesiava suas preocupações. Abrindo o zíper do top esportivo e permitindo o abraço gentil do ar fresco dos mares, Davina debruçou-se em um dos muros e desligou o airpod na metade de uma música da Adele.
Davina sorriu antes de contornar algumas vielas, se esquivar da movimentação cada vez maior de motos e carros em uma pequena praça com uma fonte e entrar no hotel. No saguão, ela não destoava das pessoas que acordavam cedo para se exercitar. De top e leggings rubro-negras, ela seria mais uma das madames a esbanjar as curvas bem definidas.
Os homens não ficavam muito atrás e mostravam, em toda sua intensidade, o físico bem trabalhado. De sungas apertadas e peitorais nus, eles tiravam suspiros de muitos por onde passavam.
Havia muitas diferenças entre os hóspedes do hotel, porém todos eram ricos. A elegância jamais sumia dos corredores folheados a ouro. Todo dia muitos chegavam a Mônaco, vestindo ternos e roupas extravagantes e caros, para jogar nos cassinos e criar redes inteiras de conhecidos e informações.
Através dos jogos de Baccarat, Blackjack, Pôquer e Roleta, os mais ricos do planeta viravam amigos de longa data. Aos não jogadores, serviam as quadras de tênis nos terraços ou o campo de golfe em La Turbie, perto do principado.
Ela se dirigiu aos elevadores, já imaginando a água morna do banho de rosas. Entretanto, o corpo tensionou ao notar uma aproximação através do polimento de algumas superfícies espelhadas.
Davina cerrou os punhos, pronta para confrontar a pessoa.
— Madame Trench? — Por cima do ombro, viu o recepcionista se aproximar com um envelope estufado.
— Sim? — Davina respondeu com um ar desconfiado, assumindo completamente a nova identidade de Sylvia Trench, esposa de Julius Trench. Lestrade achou as novas identidades escolhidas por Lior engraçadas, principalmente por causa da referência a um espião, mas ela ignorou as tiradas dele.
— Isto chegou para a senhora. — O recepcionista a cumprimentou e se retirou da mesma forma que viera: com passos treinados, leves e deslizantes, que lhe lembravam um assassino disfarçado.
Ela ignorou o recepcionista e abriu o envelope, que continha uma chave eletrônica de um carro, um documento e um smartphone.
Davina voltou para a praça e procurou pelos carros estacionados na rua. Caminhando lentamente por entre os automóveis, apontou a chave para alguns veículos populares, mas nenhum apitou. Daria uma segunda volta, pelo estacionamento do hotel, quando reparou em um belíssimo carro esportivo.
Um Aston Martin da nova geração estava encostado, em um ponto próximo a saída do hotel, à beira da ladeira que descia a colina. Não é possível, pensou Davina ao apontar a chave eletrônica para o carro, eles não fariam isso...
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O Chacal
AksiChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...