Esconderijo de Davina, Londres, Inglaterra.
O sol forte brigava por espaço com as pesadas nuvens no céu. Seus raios imponentes atravessavam-nas em alguns pontos, criando bolsões de luz naquele dia maldito. Fitando o céu, Lestrade teve a certeza de dias melhores, de que a luz jamais se esconderia, por mais que a escuridão provocada pelas cúmulos-nimbo tentassem.
Davina os conduziu sem pressa até algumas alamedas da cidade de Londres. Ao longe, ouvia a incansável movimentação do Mercado Portobello, tão quanto o sempre pontual metrô. Diferente dos becos obscuros de Whitechapel, ou do bairro popular de Barking, ali era mais tranquilo e aconchegante.
E caro.
A mulher reduziu a velocidade e ele pôde admirar o Palácio de Kensington e um pouco mais longe o Hyde Park. Não foi difícil se localizar quando ela dobrou mais uma curva, entrando em uma rua tranquila e colorida, escondida em um dos bairros nobres da capital.
Na verdade, a entrada dela era tão escondida que durante a noite seria muito fácil para alguém passar por ela sem a notar. Talvez fosse esse o motivo pelo qual Davina escolheu seu esconderijo, na Saint Lukes Mews.
— Eu já vi essa rua em algum lugar, apesar de nunca ter vindo aqui... — Caminhando pelos paralelepípedos que formavam as ruas e calçadas, Lestrade franziu o cenho para as casas. — Sério...
— A rua é famosa por alguns filmes. — Davina desceu da moto e a arrastou até um banquinho de madeira. — Simplesmente Amor é um dos mais famosos deles.
— Ah... — Boquiaberto, ele girou nos calcanhares enquanto checava cada casa. — E seu esconderijo é... aqui? Estava pensando em um lugar mais... vil e cruel.
— Por que sou uma mafiosa? — Davina levantou uma pedra pequena da janela e retirou a chave da casa. — Nem todo esconderijo é nos lugares mais afastados ou criminosos, Lestrade.
— Me chame de Les.
— Só se você me chamar de Davi ou Ina.
Ela abriu a porta e indicou com a mão para que ele entrasse.
— Lar, doce Lar.
Lestrade entrou e assoviou pelo estilo espartano. Havia um amplo espaço na sala onde um saco de areia com luvas penduradas fazia companhia a um tatame, típico dos praticantes de jiu-jítsu. Nas paredes, o hacker engoliu em seco ao ver diversos tipos de espadas e adagas.
Pareciam estar bem afiadas.
Mas nada lhe surpreendeu mais do que ver Davina.
Ela tirou o capacete para deixar os fios ondulados balançarem sobre as maçãs altas. Quase lisos, eles pintavam-na ainda mais como o anjo da guarda, caso anjos tivessem cabelos escuros. Colocando o capacete sobre a mesa de centro, ela abriu o casaquinho e pôs as mãos na cintura.
— O que você fará agora?
A blusa negra de bojo que mais parecia um corpete lhe deixou distraído. Muitos afirmavam com veemência sobre a proximidade incrível, entre duas pessoas, forjadas no calor de uma fuga ou batalha. Tal convívio, por vezes, virava uma atração física fatal.
— Lestrade? — Davina agitou uma das mãos à sua frente. — Me ouviu?
Angie. Desde sua antiga noiva, seus romances foram efêmeros, quase sempre com mulheres perigosas, capazes de matar com as próprias mãos homens duas vezes maiores do que elas. Atrações eram recorrentes e ele mentiria se dissesse que não ansiava por um romance vindouro, por mais que não pudesse tê-lo.
Afinal tinha um alvo às costas.
Ele respeitava demais suas paixões para que elas sacrificassem suas vidas ao lutar suas batalhas. Jamais aceitaria que elas morressem, não uma segunda vez. Elas eram mulheres valorosas, íntegras e não mereciam a vida que Lestrade levou nesses seis anos à base de remédios contra ansiedade e pânico, sem falar dos terrores noturnos.
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O Chacal
ActionChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...