Capítulo 20

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Sala de Interrogatório 3, Scotland Yard. Londres, Inglaterra.

Fazia tempo que Juneau não entrava em uma sala de interrogatório. Outrora em cubículos espalhados em países de primeiro mundo ou em lugares que tornavam qualquer cela prisional um verdadeiro paraíso, o caminho em direção a um mundo que havia deixado para trás lhe trouxe nostalgia.

Desta vez, contudo, não estava protegendo um ativo ou interrogando um terrorista. A dureza do olhar e a firmeza dos passos ao se dirigir à porta, que separava a sala de interrogatório das estações de trabalho minimalistas e transparentes, fundidas com a mais alta tecnologia, tinha mais a ver com a urgência em descobrir os motivos de uma caçada perversa, iniciada em Milão.

Suspirou e não tardou a enxergar Demétrius com uma cara fechada, de poucos amigos, como se comesse algo e não gostasse.

— Se quiser eu posso entrar sozinha. — Arqueou os lábios. — Estarei até satisfeita com isso.

— Engraçadinha. — O detetive arremessou uma pasta para ela. — Seu relatório está impresso e o suspeito será levado para a sala três. Siga-me.

— Garanto que a comissária Strike não está nada satisfeita com você.

— Se dependesse dela, eu estaria demitido. — Demétrius passou as mãos pela nuca, cabisbaixo. — A sorte é que alguém lá em cima, superior a Strike, tem uma atração singular por mim. Ainda sou o líder da força-tarefa. Croft, por algum motivo, me deu todo o suporte. Não sei o que o soldado da SRR quer com isso.

— Eu conheço Smith de outras operações, não Croft, mas se me permite um conselho — ela esperou Demétrius anuir com a cabeça —, não confie nele. Pessoas de divisões obscuras demais sempre tem uma agenda própria.

— Experiência.

— Sim. — Juneau trocou o peso das pernas e o encarou com firmeza. — Lembre-se dessas palavras, ó chefe.

Demétrius deu uma gargalhada enquanto Juneau arqueou os lábios em um sorriso sem dentes e checou o relatório compilado pelas agências. Antes, de esguelha, notou a modernização da força-tarefa, aos poucos sendo abastecida com uma tecnologia digna dos filmes de James Bond. Até telões de plasma hipersensíveis ao toque passaram a decorar as salas do ambiente.

Assobiou impressionada. Não somente pelas telas. Os papeis nos dedos calejados lançavam as primeiras luzes contra a escuridão macabra daquele dia eterno.

O relatório era sucinto. A unidade de contraterrorismo havia rastreado o site com a recompensa até um servidor em Mônaco. Seria esse o motivo para Davina ter dito para eles se encontrarem em Mônaco ou haveria outras razões? Ainda segundo o relatório, o mesmo fórum fornecia em tempo real a localização de Lestrade e aumentava o preço da cabeça dele a cada tentativa infundada.

No submundo, Lestrade já valia dez mil em Etherium, o que valia mais de quinze milhões de dólares no mercado.

Por que Lestrade valia isso tudo? Talvez encontrasse a resposta na sala três.

Demétrius abriu a porta da sala de interrogatório, Juneau entrou em seguida e imediatamente viu o criminoso vestindo uma camiseta branca e calça de poliéster, sentado diante a uma mesa acinzentada e metálica.

Ele era um rapaz alto e robusto de tez clara, com o rosto descascando devido à queimaduras solares, o que deu a Juneau uma vantagem: ele passava muito tempo sem proteção sob o sol. Também tinha o nariz meio retorcido e um sorriso falhado.

Algemado com as mãos atrás das costas em uma cadeira torta, estava com uma corrente em volta dos tornozelos presas em um ilhó de aço no chão. Ela se sentou na mesa diante dele.

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