Capítulo 6

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Centro de Treinamento Externo. Ninho da Águia, Hindu Kush. Início de 2001

— Treine seu corpo para ter eficiência máxima! — Os gritos do instrutor machucavam os tímpanos de al-Shishani.

Se havia uma regra naquela escola preparatória, era a de não pegar leve com ninguém. Não se importavam com gênero, religião ou credo. Os exercícios na altitude eram duros e, para os olhares assustados da turma, mortais.

O exercício do dia era um percurso, mas não um percurso qualquer. O instrutor insistia que eles carregassem pesos enquanto eles escalavam construções na montanha e pulavam entre os telhados das casas dos empregados.

— Eles querem nos matar — sussurrou uma de suas colegas.

— Há um sentido nisso tudo. — Outro estremeceu sobre o leve casaco, fitando de soslaio o responsável por aquele teste. — Tem que haver...

Cada um tinha teorias sobre as palavras imponentes do professor. Força e velocidade deveriam estar lado a lado. Sibilou. Por que não testavam isso em um ambiente fechado e controlado? Por que gastariam dinheiro em treiná-los apenas para vê-los morrer em uma vala qualquer na montanha?

Ela cerrou os punhos, apertando-os até a ponta dos dedos ficarem brancas e tentou disfarçar a raiva, mascarando suas feições em uma cara de pôquer, um dos primeiros mantras desde sua entrada na escola.

As emoções são o espelho para a alma. Nunca as deixe refletir.

Alguns garotos, os ratos de academia como eram chamados pelos corredores, riram e debocharam da missão. Tinham mais massa muscular, mais envergadura, e um deles se vangloriava do próprio muque. A confiança dele era tanta que, por um momento, muitos relaxaram.

Risos de conforto ecoavam entre eles e, entre os últimos ajustes, um ar tranquilo tomou conta do pessoal. Tirariam de letra, não é?

Não.

Os olhos arregalados, os engasgos de susto, as engolidas em seco e as feições horripilantes do rosto da segunda fileira disseram tudo o que ela precisava saber. Não precisou escutar os gritos para entender.

Ninguém riu quando o líder dos ratos caiu na vala, engolido pela montanha.

O que mais enervou al-Shishani não foi a queda em si, mas a cara de deboche do instrutor. Não deveriam ser indiferentes? Não deveriam não reagir às provocações ou piscarem os olhos ao verem eles se lançando à morte? Que quebra de decoro era essa?

Impassíveis, insólitos, imóveis. Os alunos passavam muito tempo controlando suas emoções para se deixar levar pelo deboche escancarado dos instrutores. Se pudesse, al-Shishani se lançaria no pescoço do maldito e o asfixiaria. Só precisava de seis segundos...

Mas ainda não tinha força nem habilidade para vencer um instrutor. Engoliu a raiva e a angustia. O pior de tudo foi ver os passos lentos de um menino, cujo sorriso angelical era encantador. A caminhada era de um derrotado, de quem jamais passaria pelo circuito e teria a montanha gelada e insólita como mausoléu.

Cerrou os olhos e deixou uma lágrima escapar da prisão de suas pálpebras. Só escutou o estalo dos ossos quebrados quando o corpo dele se chocou com o paredão. Os ombros até foram para cima. Malditos calafrios.

Encolheu-se dentro do casaco.

— Al-Shishani! — O instrutor gritou seu nome, o vapor saindo de sua boca devido ao frio. Estavam no verão, mas o frio da montanha nunca os permitia agraciar o calor. — Sua vez.

Contando com seu casaco, botas, bastões de alpinista e a bolsa marcada com seu nome, tinha quase trinta quilos a mais. Os mestres diziam que as bolsas eram calculadas de acordo com o peso e altura, porém desconfiava disso.

O ChacalOnde histórias criam vida. Descubra agora