Capítulo 23

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Suíte dos Trench, Hotel Serrafiore. Monte Carlo, Principado de Mônaco.

Lestrade mal se reconhecia no espelho. Suas pálpebras se fecharam ao som de um suspiro. Queria evitar o julgamento por trás da beleza dos olhos verdes e azuis, marcas perversas da síndrome tão companheira. As olheiras, cada vez mais escuras, contrastavam com a pele cada vez mais pálida. A magreza também não ajudava, ele parecia bem frágil, como se fosse quebrar a qualquer momento.

Nem as aulas de ioga online me mantiveram em forma, lançou um sorriso torto para o próprio reflexo no espelho. Passou a mão na cicatriz que ficara no ombro, a mais nova adição. Um tiro de rifle que fez um ferimento de um tiro de pistola, e, para deixar a história ainda mais estranha, ainda fora curado em tempo recorde.

Teria que perguntar a Juneau seu segredo, quando se encontrasse com ela.

Para completar, a barba crescida acrescia uns dez anos a idade dele. Já havia passado da hora de fazê-la. Ele pegou a navalha longa de cima da pia, faria a barba aos moldes dos barbeiros do século passado. Com uma toalha amarrada à cintura e o creme de barbear a postos, ele decoraria o rosto de branco se não fosse as três batidas na porta.

Arqueou a sobrancelha, estranhando. Voltou a balançar o creme no pote e o aplicaria, mas novamente o som grave das batidas lhe tirou a concentração. Ainda com a navalha na mão, pronto para tocar o terror em quem lhe interrompia, ele cruzou a suíte e se aproximou da entrada.

— Quem é? — Não abriria sem verificar a identidade de quem batia a sua porta.

— Serviço de quarto. — Reconhecia de longe aquela voz, suave e carregada do sotaque londrino.

Lestrade abriu a porta sem demora para uma mulher loira, cujas pontas do cabelo curto emolduravam o rosto perfeitamente esculpido pela natureza. Mesmo um pouco folgada, a blusa de seda com um único botão aberto não escondia as suas belas curvas e as calças de alfaiataria contornavam delicadamente as pernas torneadas, fazendo pouco para diminuir a tentação que era aquela mulher.

Davina Ryan não era mais tão jovem, mas sua beleza rivalizava às deusas das epopeias gregas. Era como um ímã, que roubava toda a sua atenção e, às vezes, até seu fôlego. Até as roupas formais ganhavam um ar sensual quando ela as vestia.

Lestrade engoliu em seco.

— Eu não pedi nada. — Ele olhou para a única toalha que vestia e para Davina, e se encolheu atrás de um sorriso embaraçoso.

Davina devolveu o sorriso de Lestrade com um olhar perscrutador de cima a baixo. Ela sorriu maliciosamente antes de corrigir a postura e endurecer as expressões. Também não esperou ser convidada para entrar, cruzou a porta sem cerimônia.

— Eu tenho novas informações, Les. Sobre Chacal e quem está te caçando. — Apesar do tom sério, seu olhar era sugestivo.

Mi casa és su casa. — Ele fechou a porta, suspirou e voltou a fazer a barba no banheiro. — Você não está super qualificada para entregar mensagens corriqueiras? Por que não mandou uma mensagem ou me ligou?

— Você não atenderia...

Lestrade escutou o som dos saltos de Davina passando pelo o arco que dividia a sala de estar e a suíte de dois quartos.

— E também é uma conversa que quero ter cara a cara.

— Oh... — Finalmente passou o creme de barbear sobre o rosto, sentindo a refrescância do produto sobre a pele quente. — Vai finalmente dizer para quem trabalha?

— Como assim? — Davina cruzou os braços. Lestrade assistiu às reações dela através do espelho, até ameaçou a rir ao notar a surpresa em sua voz.

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