Suíte dos Trench, Hotel Serrafiore. Monte Carlo, Principado de Mônaco.
Lestrade mal se reconhecia no espelho. Suas pálpebras se fecharam ao som de um suspiro. Queria evitar o julgamento por trás da beleza dos olhos verdes e azuis, marcas perversas da síndrome tão companheira. As olheiras, cada vez mais escuras, contrastavam com a pele cada vez mais pálida. A magreza também não ajudava, ele parecia bem frágil, como se fosse quebrar a qualquer momento.
Nem as aulas de ioga online me mantiveram em forma, lançou um sorriso torto para o próprio reflexo no espelho. Passou a mão na cicatriz que ficara no ombro, a mais nova adição. Um tiro de rifle que fez um ferimento de um tiro de pistola, e, para deixar a história ainda mais estranha, ainda fora curado em tempo recorde.
Teria que perguntar a Juneau seu segredo, quando se encontrasse com ela.
Para completar, a barba crescida acrescia uns dez anos a idade dele. Já havia passado da hora de fazê-la. Ele pegou a navalha longa de cima da pia, faria a barba aos moldes dos barbeiros do século passado. Com uma toalha amarrada à cintura e o creme de barbear a postos, ele decoraria o rosto de branco se não fosse as três batidas na porta.
Arqueou a sobrancelha, estranhando. Voltou a balançar o creme no pote e o aplicaria, mas novamente o som grave das batidas lhe tirou a concentração. Ainda com a navalha na mão, pronto para tocar o terror em quem lhe interrompia, ele cruzou a suíte e se aproximou da entrada.
— Quem é? — Não abriria sem verificar a identidade de quem batia a sua porta.
— Serviço de quarto. — Reconhecia de longe aquela voz, suave e carregada do sotaque londrino.
Lestrade abriu a porta sem demora para uma mulher loira, cujas pontas do cabelo curto emolduravam o rosto perfeitamente esculpido pela natureza. Mesmo um pouco folgada, a blusa de seda com um único botão aberto não escondia as suas belas curvas e as calças de alfaiataria contornavam delicadamente as pernas torneadas, fazendo pouco para diminuir a tentação que era aquela mulher.
Davina Ryan não era mais tão jovem, mas sua beleza rivalizava às deusas das epopeias gregas. Era como um ímã, que roubava toda a sua atenção e, às vezes, até seu fôlego. Até as roupas formais ganhavam um ar sensual quando ela as vestia.
Lestrade engoliu em seco.
— Eu não pedi nada. — Ele olhou para a única toalha que vestia e para Davina, e se encolheu atrás de um sorriso embaraçoso.
Davina devolveu o sorriso de Lestrade com um olhar perscrutador de cima a baixo. Ela sorriu maliciosamente antes de corrigir a postura e endurecer as expressões. Também não esperou ser convidada para entrar, cruzou a porta sem cerimônia.
— Eu tenho novas informações, Les. Sobre Chacal e quem está te caçando. — Apesar do tom sério, seu olhar era sugestivo.
— Mi casa és su casa. — Ele fechou a porta, suspirou e voltou a fazer a barba no banheiro. — Você não está super qualificada para entregar mensagens corriqueiras? Por que não mandou uma mensagem ou me ligou?
— Você não atenderia...
Lestrade escutou o som dos saltos de Davina passando pelo o arco que dividia a sala de estar e a suíte de dois quartos.
— E também é uma conversa que quero ter cara a cara.
— Oh... — Finalmente passou o creme de barbear sobre o rosto, sentindo a refrescância do produto sobre a pele quente. — Vai finalmente dizer para quem trabalha?
— Como assim? — Davina cruzou os braços. Lestrade assistiu às reações dela através do espelho, até ameaçou a rir ao notar a surpresa em sua voz.
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O Chacal
ActionChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...