O nervosismo de Lestrade ao entrar no penúltimo andar era grande. Queria rir da forma como ele ajustava o aparelho, mexia nas abotoaduras douradas do smoking ou afrouxava a gravata a ponto de retirá-la do pescoço, sucumbindo ao calor proporcionado pela ansiedade. Também se desfizera de dois botões da gola da camisa social para permitir o refresco do ar frio dos amplos salões, cujas paredes de vidro permitiam uma visão majestosa do mar da Ligúria.
Paisagens sempre lhe acalmavam, tão quanto as telas e ecrãs de computadores e smartphones. Não líderes de um grupo envolvido com quem queria lhe matar, afinal para Chacal querer arquivos da Vault de sete anos para protagonista...
— Sabe, Lestrade, quando soube de sua habilidade com computadores e sua origem como alguém da nata mundial, eu fiquei radiante... — Villeneuve cortou seu pensamento. — Pois, eu posso lhe mostrar o que realmente é a Vault. Lior foi a cereja do bolo ao atestar seu passado.
Minha sorte, pensou Lestrade ao olhar por cima do ombro e ver Juneau caminhando a dois passos dele, mão sempre próxima ao quadril. Noor andava um pouco mais atrás, atenção redobrada não somente a conversa, mas também a sua nova guardiã.
— E o que é realmente a Vault?
— Pense comigo. — Villeneuve acenou para dois seguranças e eles abriram uma porta dupla, adornada com imagens de brasões e animais régios como leões, águias e tubarões. — Um proeminente nome do parlamento britânico vê um desfile da Vault e se interessa por uma de nossas modelos. Obviamente nós facilitaremos o encontro deles.
O quarteto caminhava por um corredor. À direita, havia a continuação das vidraças do chão ao teto. À esquerda, quadros realistas, quase fotografias de inúmeros senhores, todos trajados em roupas requintadas, uniformes. Suas expressões, no entanto, não variavam. Sempre sérias, compenetradas, profundas com olhares gélidos e frios.
Lestrade pôs as mãos no bolso da calça para sentir o pen-drive, o celular e claro, o frasco de Diazepam.
— Ela então satisfaz os desejos mais profundos do homem forte do governo. — Villeneuve deu leves risos debochados. — Sob seu encanto, minha modelo descobrirá até a cor da cueca que ele usa para trabalhar. Todos saem ganhando.
— Então a Vault lida com informação? — Lestrade engoliu em seco.
— A melhor moeda de todas. Mas a chegada de Bedford mudou tudo.
Lestrade recordou-se da transação que mudou sua vida. O segredo por trás das operações da Vault. Sete anos de trabalho, tudo o que coletamos. As palavras de Bedford ecoavam na mente e tiravam-lhe o sono.
— Bedford foi visionário. — Villeneuve continuou até parar no final do corredor onde mais dois guardas os esperavam. Lestrade esboçou um tenso sorriso à medida que Villeneuve retirava um cartão laminado do bolso aproximava o leitor QR deste em um leitor. — Principalmente quando uma de nossas meninas descobriu o poder inato da magia.
Magia... Já era a terceira pessoa a ter mencionado isso no período. Duas delas, sem o mínimo motivo para mentir. Podia acusar Lior e Villeneuve de desígnios de grandeza, mas nenhum dos dois eram pessoas do tipo. O príncipe gostava da riqueza, mas não da influência e Villeneuve parecia contente em ser um presidente de uma empresa ligada a moda.
E ainda tinha o tiro que levou no Heathrow. Ele não deveria ter braço, deveria dar entrada no serviço de assistência social, mas lá estava ele, no centro dos milionários, prestes a ter respostas.
Juneau fez algo com ele. Seria a famigerada magia?
Os segundos viraram minutos em sua cabeça, a tensão sendo palpável nos ombros dele e de Juneau, a qual trocava ferrenhos olhares com Noor, ao reparar na pistola com um silenciador na mão direita da mercenária e assassina.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Chacal
ActionChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...