Capítulo 29

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O nervosismo de Lestrade ao entrar no penúltimo andar era grande. Queria rir da forma como ele ajustava o aparelho, mexia nas abotoaduras douradas do smoking ou afrouxava a gravata a ponto de retirá-la do pescoço, sucumbindo ao calor proporcionado pela ansiedade. Também se desfizera de dois botões da gola da camisa social para permitir o refresco do ar frio dos amplos salões, cujas paredes de vidro permitiam uma visão majestosa do mar da Ligúria.

Paisagens sempre lhe acalmavam, tão quanto as telas e ecrãs de computadores e smartphones. Não líderes de um grupo envolvido com quem queria lhe matar, afinal para Chacal querer arquivos da Vault de sete anos para protagonista...

— Sabe, Lestrade, quando soube de sua habilidade com computadores e sua origem como alguém da nata mundial, eu fiquei radiante... — Villeneuve cortou seu pensamento. — Pois, eu posso lhe mostrar o que realmente é a Vault. Lior foi a cereja do bolo ao atestar seu passado.

Minha sorte, pensou Lestrade ao olhar por cima do ombro e ver Juneau caminhando a dois passos dele, mão sempre próxima ao quadril. Noor andava um pouco mais atrás, atenção redobrada não somente a conversa, mas também a sua nova guardiã.

— E o que é realmente a Vault?

— Pense comigo. — Villeneuve acenou para dois seguranças e eles abriram uma porta dupla, adornada com imagens de brasões e animais régios como leões, águias e tubarões. — Um proeminente nome do parlamento britânico vê um desfile da Vault e se interessa por uma de nossas modelos. Obviamente nós facilitaremos o encontro deles.

O quarteto caminhava por um corredor. À direita, havia a continuação das vidraças do chão ao teto. À esquerda, quadros realistas, quase fotografias de inúmeros senhores, todos trajados em roupas requintadas, uniformes. Suas expressões, no entanto, não variavam. Sempre sérias, compenetradas, profundas com olhares gélidos e frios.

Lestrade pôs as mãos no bolso da calça para sentir o pen-drive, o celular e claro, o frasco de Diazepam.

— Ela então satisfaz os desejos mais profundos do homem forte do governo. — Villeneuve deu leves risos debochados. — Sob seu encanto, minha modelo descobrirá até a cor da cueca que ele usa para trabalhar. Todos saem ganhando.

— Então a Vault lida com informação? — Lestrade engoliu em seco.

— A melhor moeda de todas. Mas a chegada de Bedford mudou tudo.

Lestrade recordou-se da transação que mudou sua vida. O segredo por trás das operações da Vault. Sete anos de trabalho, tudo o que coletamos. As palavras de Bedford ecoavam na mente e tiravam-lhe o sono.

— Bedford foi visionário. — Villeneuve continuou até parar no final do corredor onde mais dois guardas os esperavam. Lestrade esboçou um tenso sorriso à medida que Villeneuve retirava um cartão laminado do bolso aproximava o leitor QR deste em um leitor. — Principalmente quando uma de nossas meninas descobriu o poder inato da magia.

Magia... Já era a terceira pessoa a ter mencionado isso no período. Duas delas, sem o mínimo motivo para mentir. Podia acusar Lior e Villeneuve de desígnios de grandeza, mas nenhum dos dois eram pessoas do tipo. O príncipe gostava da riqueza, mas não da influência e Villeneuve parecia contente em ser um presidente de uma empresa ligada a moda.

E ainda tinha o tiro que levou no Heathrow. Ele não deveria ter braço, deveria dar entrada no serviço de assistência social, mas lá estava ele, no centro dos milionários, prestes a ter respostas.

Juneau fez algo com ele. Seria a famigerada magia?

Os segundos viraram minutos em sua cabeça, a tensão sendo palpável nos ombros dele e de Juneau, a qual trocava ferrenhos olhares com Noor, ao reparar na pistola com um silenciador na mão direita da mercenária e assassina.

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