Capítulo 4

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Whitechapel, Londres, Inglaterra. Outubro de 2018

Lestrade elevou as sobrancelhas ao abrir o porta-malas para Noor. Sob a calada da noite, a mulher enchia a mala do Audi com certos brinquedinhos perigosos. Como não ficar assustado em vê-la colocando um arsenal no carro?

Também reparou que no meio dos itens havia algumas mudas de roupa, vestidos e até uma peruca. Absorto, mal reparou na forma com que ela tomou a chave da mão dele e o obrigou a sentar no banco do carona do próprio carro. Mandona? Ou prática, afinal ela era a única que sabia para onde iriam?

Abastecidos, seguiram para um dos bairros mais famosos da East End, que causava arrepios pelas histórias que sempre escutou. Cético em relação ao que fariam, ele apoiou o cotovelo no apoio de mão da porta e inclinou sua cabeça.

— Por que temos que ir a Whitechapel?

— O melhor forjador de documentos em Londres está em Whitechapel. — Atravessou em um sinal vermelho, pouco ligando para a multa que viria. — Precisamos de passaportes para sair da cidade. Quanto mais cedo escaparmos do cerco da polícia, melhor.

— E como sabe que a polícia virá atrás da gente?

— Contei três câmeras e duas caixas-pretas de carros no beco por onde saímos. — O coldre de ombro dela estava solto e batia no tecido grosso de seu vestido. Ela não fez questão de se trocar, apenas entrou no apartamento e tirou uma mala já pronta. — A polícia não nos considerará suspeitos, mas somos pessoas de interesse.

Mantendo o rosto impassível, sem tiques nervosos, ela lhe fitou com o canto dos olhos.

— Fugimos do local do crime. Isso é um agravante.

Lestrade engoliu em seco, o conforto e aconchego de seu carro assemelhando-se cada vez mais a uma prisão. Noor parou em um cruzamento, surpreendentemente movimentado pelas horas ímpias da noite, e repousou a mão na sua coxa, apertando-a levemente.

— Calma. — Suave, a voz melódica o enfeitiçava a cada palavra. Seus cânticos o acalmavam, pelo menos por hora. — Temos no mínimo vinte e quatro horas para fugirmos. Depois disso, a coisa vai se complicar.

— Você está tentando me deixar mais calmo ou me assustar?

— Sendo realista. — Ela engatou a primeira e pisou firme no acelerador. — Soube que você é bem rico.

— Rudolf deu nos dentes, não é?

— Falava direto o quanto você era o melhor cliente dele. — Noor manobrava seu carro maestriamente, ajustava a potência, entrava nas curvas sem perder o controle, o que era difícil devido a fina camada de água da chuva que passou a decorar o clima sombrio da capital inglesa. — Tem acesso a fundos de bilhões ou algo do tipo.

— Imagino que queira chegar a algum lugar com isso. — Afundou no banco.

— É preciso muito dinheiro para atrair a atenção dos contrabandistas. — Noor o encarou de soslaio. — Isso se você não quiser se arriscar a ir de avião.

— O que sugere?

— Avião é mais rápido, mas teríamos que sair imediatamente para o aeroporto. Se você tem alguns afazeres na cidade, recomendo ir até a máfia albanesa. Eles são os mais eficientes no tráfico de pessoas.

— Nada me prende a Londres. — Não mais, pensou. Os amigos, os contatos e as conversas adoráveis morreram no ataque de Chacal ao pub onde se refugiava. — Quero sair daqui o quanto antes.

— Avião, então. — Noor meneou positivamente a cabeça.

— Virá comigo? — Tentou uma segunda vez convencê-la a fugir com ele. Estar sozinho de novo doía e não seria nada mal ter uma mulher capaz de fazer marmanjões beijar o chão com poucos movimentos.

O ChacalOnde histórias criam vida. Descubra agora