Capítulo 18

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Chalé dos Romanov. Chamonix, França. Dezembro de 2007.

A ida para a Suíça foi extenuante, mas gratificante. Não importava se o vapor das respirações ou os narizes vermelhos lhe irritassem, nada era melhor que ver as montanhas revestidas com a maciez da neve e do gelo. Nunca se cansaria de ver aquela paisagem.

Uma pena que não estava lá para curtição. Era triste não poder viajar com os amigos nas férias de verão ou nesses intervalos invernais que o colégio permitia, porém era incrível como, no mundo dos ricos e poderosos, havia aqueles que trabalhavam vinte e quatro horas por dia para manter seus filhos ou parentes seguros.

Stella era uma delas. Quando foi a última vez que viajou para tirar férias? Existia isso para a ordem?

Escutou as histórias dos seguranças, de como a família de Lior, preocupada com os tiroteios letais nas escolas, recentes massacres étnicos e de cunhos religiosos e o mundo sempre invasivo das redes sociais, procurou protege-lo da melhor forma possível. Ouviu da boca do motorista sobre uma tentativa de sequestro no passado.

Seria ele o motivo pelo qual o Velho Sábio a quis ali? Ou Lestrade era o homem mais importante daquele grupo? As habilidades incomuns na frente de um computador o tornavam uma peça preciosa no jogo dos Deuses.

No banco da frente, Angélica apoiava o braço no recosto da porta, olhando para a neve caindo nas folhas largas. Como uma bolsista brasileira, de uma minoria marginalizada, conseguiu fazer amizade com gigantes era algo que ela não sabia.

Naturalmente Angélica era o alvo de seus relatórios. Queria ter sororidade, mas a paranoia era uma droga desgraçada, capaz de tornar a mais simples das pessoas em um demônio perverso. No meio de gigantes, Angie destoava. Era a que mais ganharia se envolvendo com o trio.

As mentes mais fracas chamariam tudo isso de ciúmes. Angélica, até sua chegada, era a única mulher no AltF4.

Olhou por cima dos ombros, para o carro de trás, onde Ignácio Cortez se reclinava no banco, colocando os pés em cima do porta-luvas. Displicente, indolente, mulherengo e gênio. Perdia o amigo, mas não a piada, algumas delas bem indecentes, entretanto ele era a menor de suas preocupações.

Era também o vice-líder do grupo, logo ela deveria respeitá-lo e evitar antagoniza-lo, o que era bem difícil. Quantas vezes teve que salvá-lo de um namorado ciumento ou de uma garota iludida por suas carinhosas palavras? Queria dar uma chave de braço, um soco no nariz, uma joelhada no saco...

Suspirou triste. Fazer isso era incutir a ira de Lior e ela não correria este risco. Lestrade dizia que eles eram amigos de infância. Não achava nada anormal nisso, afinal, eles eram os únicos de linhagem nobre do grupo e os sangue-azuis adoravam ficar juntos.

Ela tinha uma relação tensa com ele, mas respeitosa pelo menos.

Ignácio nunca dera em cima dela. Seria por que ela namorava Lior ou por que ela colocou um rapaz alterado para dormir, em uma bonita guilhotina, para evitar que o adorável vice-líder fosse espancado? Talvez fosse a união das duas coisas, já que o desgraçado adorava cutucar a onça com vara curta.

Balançou a cabeça em negação e voltou a admirar a paisagem à medida que adentravam em ruas completamente cobertas pelo fino orvalho da manhã.

A sensação de estar em um lugar tão remoto tinha seu quê de emocionante. Era impossível não se fascinar com as vistas e a quietude do lugar. Quem não gostava era seu corpo, tremendo sobre o rugido da altitude ao saltar do carro quando este estacionou. Os guarda-costas, altamente profissionais, desceram e fizeram uma varredura.

Cansou de ter que imitar os mesmos procedimentos. Riu ao se lembrar dos treinamentos no Ninho da Águia. Era difícil evitar o assassinato, quando conseguiam, era motivo de festa. Derrotar alguém versado na arte da morte era um feito e tanto.

O ChacalOnde histórias criam vida. Descubra agora