Hotel Serrafiore. Monte Carlo, Principado de Mônaco. Dias atuais.
— Richard Bedford... era seu tio? — Lestrade mal conseguiu pronunciar aquelas palavras ao fitar o olhar triste por trás das lentes dos óculos de Lior. — Mas... Mas...
O príncipe bateu duas vezes na mesa para que ele passasse as cartas.
— Lembra das minhas histórias sobre meu tio Rick? — O príncipe recebeu as cartas das mãos trêmulas do amigo. — Tio Rick era Richard. Eu só não disse o nome inteiro dele. — Lior checou as cartas e esperou Lestrade.
— Então aquele atentado que você sofreu em Mer-de-Glace... — Lestrade não tinha um oito ou nove e, se Lior não anunciou sua mão, ele também não tinha. Ambos se entreolharam, procurando um tique nervoso ou qualquer outra coisa que indicasse se deveriam pedir mais uma carta ou se partiam para o resultado.
— Sim — Lior foi o primeiro a sucumbir e pedir uma nova carta. Ele tinha uma mão baixa ou estava arriscando? — Você não se encontrou com ele, por isso não fez a correlação. Foi Ignácio que lidou com meu tio e minha família quando eu estava internado. Stella sumiu para não sei onde enquanto você e Angélica preferiram voltar à St. Trevelyan.
— Mais pela Angie. — Suspirou, sentindo-se orgulhoso pelas mãos não suarem. Decidiu não pedir uma nova carta, estava com uma mão boa. — Depois de nossa visita, ela quis voltar e não atrapalhar a sua recuperação, nem ficar diante dos holofotes. Ignácio adorava esse tipo de coisa, então ficamos satisfeitos em saber das notícias por ele. E você sabe como, no passado, ela odiava imprensa.
— Ainda assim, anos depois, se tornou a queridinha deles. — Lior se lembrava com carinho da amiga. — Ironia do destino.
— Nove ao punto! — Anunciou o gerente de mesa. As cartas de Lior, somadas, davam dezenove. Maldito sortudo.
Lestrade passou a posição de banqueiro para Villeneuve.
— Vejo que finalmente colocaram as roupas sujas para lavar. — Villeneuve sorriu ternamente. — Mas vocês dois me lembraram de um dos motivos pelo qual a velha e a nova gerações se misturam em um novo mundo repleto de sombras.
— Por favor, você não vai me dizer que virou um vilão das histórias do 007, né? — Lestrade não jogaria nesta rodada, então se uniu aos membros nas apostas, reclinando-se na poltrona. Ameaçou afrouxar a gravata borboleta, desistindo na última hora. Não queria parecer nervoso naquela mesa. — Ou vou ter que me despedir encarecidamente de você.
— Alguns dos vilões são bastante realistas, meu caro Di Laurenti. — Villeneuve distribuiu as cartas. — Eliot Carver e a manipulação de mídia através de notícias falsas em Amanhã Nunca Morre é um exemplo disso. Greene em Quantum Of Solace, querendo as reservas de petróleo bolivianas, é outro vilão com objetivos tangíveis. Mas não, o topo não precisa disso para se manter no poder.
— Oito ao punto! — Lior venceu mais uma rodada. Parecia estar com sorte e isso dava à mesa mais riqueza.
— Nosso primeiro protagonista entendeu isso quando criou a Vault. — Villeneuve indicou que continuaria sendo o banqueiro. — O objetivo dele era ser a vanguarda, o protagonista de um mundo mais diversificado. Um mundo mais mágico.
— Então se presume que o presidente da Vault é protagonista?
Lestrade quase prendeu a respiração com a pergunta que saiu da boca. Ele sentiu Juneau, que se sentou em seu colo, aumentar a tensão dos músculos. Por outro lado, Lior agira com naturalidade, o nome não lhe dando medo ou receio.
— Sim e não. — Depois de tanto cercar a mesa, Noor finalmente se decidiu. Ela atravessou a linha que separava as mesas normais da área VIP e sorriu gentilmente, ignorando-o. Murmurou nos ouvidos do senhor acionista. Ele era o seu novo cliente?
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O Chacal
AksiChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...