Ninho da Águia, Hindu Kush. Início de 2000.
— De novo!
A voz poderosa ecoou no saguão de treinamento dentro de uma fortaleza no sopé de uma das cordilheiras mais famosas do mundo. O treinador carrancudo não ligou para a garota que foi arremessada para longe no chão de madeira.
Seu oponente, um rapaz de quase dois metros de altura, riu de canto de boca e coçou a ponta do nariz ao vê-la se levantando com dificuldades. O chute na boca do estômago lhe deixou ofegante e precisou de muita força de vontade para voltar a ficar de pé, na posição inicial.
— Eu nunca vou vencer assim — arfou.
Olhando o combate entre os dois alunos, o mestre a circundou com passos pesados e lhe deu uma rasteira. Ela voltou a beijar o chão.
— Com essa mentalidade, não mesmo.
Massageou a parte de trás do joelho com um gemido de dor. O garoto imponente, que não era nem desagradável aos olhos nem atraente, sorriu maliciosamente em um deboche velado ao vê-la sendo punida pelo mestre. Era fácil ser arrogante quando o desgraçado era uma máquina do primor físico
Ignorou o cara e encarou o treinador.
— Eu não tenho e nunca terei o seu físico, os chutes dele são fortes demais...
— Na rua não existe ringue. — O treinador voltou para a posição onde estava. — Uma mulher vencerá um homem usando as regras das artes marciais apenas se for mais capaz e habilidosa. Caso contrário, você sempre terá desvantagem.
Ela se levantou e ajustou a postura.
— Somos assassinos. Somos a Espada de Dâmocles que repousa sobre a cabeça dos líderes. Somos os executores dos deuses.
Sob as palavras do mestre, o rapaz ficou sério, desfazendo o rosto prepotente. Os olhos alongados só viam a menina de cabelos ondulados.
— Usamos de todo nosso arsenal. Desde a perseverança até a trapaça.
Ela controlou a respiração. Recordou os ensinamentos e tentou ignorar a própria dor. Preparou-se para a segunda tentativa.
— Para levantar bem rápido após aquele chute do Daniel... — O treinador sorriu, encerrando a lição. — Você é especial, al-Shishani.
A altura e presença dominante de Daniel eram suas melhores armas. Ela também era alta para uma menina e sua compleição física era até bem desenvolvida para a idade. Mas quem não tinha beleza dentro dos corredores daquela fortaleza?
Houve diversas trocas de socos e chutes. Daniel usava e abusava do alcance, principalmente das longas e poderosas pernas. Ela se esquivou duas vezes, mas na terceira uma rasteira a pegou de jeito.
O maldito a acertou onde seu mestre a havia derrubado, fazendo uma dor intensa percorrer todo o corpo. Depois, veio mais um chute frontal e o baque das costas no chão de madeira.
Ela cuspiu um pouco de saliva. Daniel era uma verdadeira máquina, um exterminador mirim em formação.
Sem conseguir respirar, ela revirou os olhos e viu os lustres decorando o teto do salão de treinamento. Eram quantas luzes? Seis? Dez? Não sabia ao certo. Ao se virar e ficar de quatro, também viu dois Daniéis.
Respirou fundo algumas vezes antes de se erguer com dificuldade.
O treinamento naquela fortaleza era bem diferente dos centros de artes marciais comuns. Não havia proteção. Os homens treinavam apenas com uma calça jogger. As mulheres, de leggings e top. Nas ruas, não existiam os gi, dobok ou qualquer outra roupa de arte marcial.
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O Chacal
AcciónChacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade. Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...