Chacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiões. Ele jamais deixou um alvo viver. Exceto Lestrade.
Lestrade di Laurenti estava no lugar errado, na hora errada. Não era para ele presencia...
Semana de Moda de Milão. Noite de 25 de fevereiro de 2012.
Matar era gratificante. Não havia melhor sentimento.
Ver os últimos segundos de alguém desaparecendo em seus olhos ou ver alguém implorar por ajuda enquanto a chama da vida se apagava, ouvir o eco do último suspiro e as batidas cada vez mais lentas do coração causavam-lhe mais orgasmos que sexo.
Eu sou um Deus nessas horas. Só em pensar, o corpo tremia de excitação.
Sob o brilho da noite estrelada, passou pelos corredores externos do imenso prédio, ouvindo o tique-taque dos mocassins no piso frio. Só parou diante de uma porta no final do corredor e inclinou a cabeça para o lado ao bater nela duas vezes.
Olhos sombrios lhe encararam por longos minutos, analisando-o de baixo para cima, antes de autorizarem sua entrada. Queria ser um Deus presente, e não um Deus que se escondia nas sombras. Mas nem tudo era perfeito.
Contornou a zona dos maquiadores e abotoou o paletó escuro, feito sob medida: tinha que esconder a pistola silenciadora dos olhos treinados dos príncipes, modelos, atrizes, cantores e seguranças. Nada poderia lhe impedir de executar a ordem dos céus.
Ou seria do Inferno? Não importava.
Prensado, escutou os gritos desvairados e ordens sem sentido. Até ameaçou gargalhar quando ouviu a exigência maluca de uma modelo para desfilar em frente a uma audiência requintada.
Suspirou. Era triste não poder ficar para ver o resultado.
Lentos e seguros, esses eram o ritmo de seus passos. Quem os escutasse fatalmente os compararia a aproximação de um monstro, digno dos filmes de terror e suspense. O aviso suave de um predador em seu ápice, prestes a silenciar mais uma vítima de forma quase invisível.
Talvez por isso checou novamente sua arma ao trocar a extravagância do hall dos maquiadores pelos túneis repletos de canos correndo pelas paredes.
A aproximação de seu objetivo fez a doce adrenalina correr loucamente pelo corpo, inebriando-o. As mãos, ásperas pelos treinos e devidamente protegidas, ansiavam por entrar em ação. Agir em nome dos céus, dos regentes das nuvens.
Era suicida em fazer aquilo em nome de uma compreensão?
Talvez Chacal não fosse o melhor codinome. Hermes, o mensageiro dos deuses, seria uma escolha prudente. Só que Hermes não tinha a conotação, nem a imponência de um animal que vive pelo sabor da caçada.
Alcançou um amplo espaço, ocupado com supercarros, supermotos e até um quadriciclo. Naquela garagem, próximo a uma BMW escura, havia um homem de um rosto esquálido e pálido, com rugas profundas. As pálpebras caídas e o nariz agressivo o tornavam perigoso.
Ele é do submundo. Alguém que não teme a morte. Ocultou um riso.
O homem fumava um cigarro. A fumaça da nicotina e do tabaco voou e se dissipou na noite agradável demais para um assassinato.
— Richard Bedford. — Sem muitas delongas e de forma direta, se aproximou.
— Como foi em Washington? — Richard jogou o cigarro no chão e apagou com um pé.
— Antagonista está morto. Não foi muito difícil colocá-lo na mira das facções que mais desejam a segurança da nação americana. — Ajustou a luva negra que vestia. — Imagino que a CIA e a NSA estejam tentando varrer o fiasco para debaixo do tapete.
Abaixou o queixo e o encarou com os olhos elevados.
— Sua vez.
— Muito bem. — Richard abriu a porta do carro e retirou uma série de pastas e um pendrive. — O segredo por trás das operações da Vault. Sete anos de trabalho, tudo o que coletamos.
Ameaçou pegar os documentos oferecidos, apenas para Bedford segurá-los com força.
— Tome muito cuidado com isso aqui. — Ele cerrou os lábios. — Se você revelar essas informações, não é só a sua cabeça que estará a prêmio, assassino.
— Pode ficar tranquilo em relação a isso. — Puxou com força a pasta e a pôs dentro de um espaço em seu terno. — Não irei vazar. A caneta é mais forte que as armas, não é mesmo?
— Quem detém o poder das armas decide quem irá segurar a caneta. — Bedford fitou os dois lados. — Aprendi isso da pior maneira possível. E agora?
— Agora eu tenho uma mensagem de Protagonista.
— Protagonista?
Ele ignorou as sobrancelhas arqueadas.
— Dê a Bedford aquilo que ele realmente merece — repetiu as palavras de Protagonista.
Do coldre de ombro, oculto pelo tecido do terno e pela penumbra da noite, retirou a pistola e, em um movimento rápido, deu dois tiros na caixa torácica do homem quando a música do desfile atingiu seu clímax.
Sorrindo, se aproximou e viu com o maior prazer Bedford engasgar no próprio sangue, os pulmões se enchendo pelo líquido viscoso e o brilho marcante da vida sumindo aos poucos. Uma pena ele ter pouco tempo para admirar o trabalho.
Antes do refrão da música terminar, ele deu mais um tiro na cabeça, onde as sobrancelhas se encontravam. As agências de inteligência diriam que era seu modus operandi. Ele chamava de garantir a morte.
Não importava a nomenclatura.
Porém, ele cometeu um erro. Um erro fatal. Pois escutou o som de sapatos correndo e a porta do elevador de serviço se fechando. Fitou o andar onde ele parou antes de voltar ao que fazia. Perseguir a testemunha era inútil, o movimento incessante de pessoas da Semana de Moda ajudaria qualquer um a escapar de suas garras.
Não se preocupe, minha adorável testemunha, eu vou te caçar tranquilamente. Majestosamente.
Com paciência, guardou os cartuchos caídos e limpou toda sua presença antes de abraçar gentilmente os tentáculos da eterna noite, sua amada amante.
Pois não posso deixar você atrapalhar planos há muito criados.
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