Capítulo 16

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Sala da Superintendente Strike. Londres, Inglaterra.

Nem nos maiores sonhos de Demétrius, ele imaginou estar recostado em uma das mais confortáveis poltronas na qual teve o prazer de sentar. Fechou os olhos e sentiu o aroma, o vapor da xícara de seu chá da tarde inebriando todo o corpo, ignorando as recriminações exacerbadas de Strike.

Em pé, a superintendente, devidamente uniformizada, se destacava contra o horizonte londrino. Não iria negar a imagem sedutora como plano de fundo, ainda mais naquele crepúsculo maravilhoso, onde o pavilhão, talhado e envidraçado, transformava-se em um farol azul brilhante.

Imagem era tudo para a Met. Quando uma força tarefa não demonstra resultados nas primeiras horas em que foi formada, cabeças rolavam. Sem contar a ambição de Strike: não duvidaria que ela usasse a plataforma da polícia para lançar uma candidatura à prefeitura de Londres.

Por um momento, Demétrius sentiu a escala de sua insignificância no mundo. Tinha um currículo que padecia em comparação aos outros, pois Smith parecia um homem capaz de matar outro apenas com o polegar. Croft era suave, simpático. Era fácil baixar a guarda e revelar seus segredos mais vis perto dele.

E subestimar uma agente da Interpol que colocava a mão na massa, envolvendo-se em operações do nível da força-tarefa... bem, só se fosse louco. Logo, voltou a se fazer a pergunta.

Por que eu? O que eu fiz para liderar essa força tarefa?

Uma pena que Strike não estava nem aí para seus devaneios.

— Então, deixa eu ver se entendi. — A superintendente Strike olhou por cima dos ombros. — Quer dizer que não tem ideia dos autores dos ataques ao Dragon's Breath e da morte dos armênios?

— Não, mas sabemos o motivo. — Juneau já havia dispensado o blazer e só mantinha as calças sociais e a camiseta branca. — Ele.

Apontou para o retrato falado em cima da mesa de madeira.

— Lestrade Di Laurenti, hacker extraordinário. Nível elite. — Cruzou os braços delineados. — O nome dele está em um fórum na dark web com uma recompensa de quase dez milhões e contando.

— E contando? — Strike arqueou uma sobrancelha.

— A cada tentativa falha de alguém, o preço sobe. — Juneau cerrou os lábios.

Bloody Hell. — Demétrius quase riu quando Strike xingou.

— Lestrade sumiu há seis anos depois de presenciar um crime bárbaro em Milão. — Croft tomou a palavra após bebericar o chá ainda quente, ocultando o rosto no vapor da xícara. — Ele é a única testemunha viva de um crime do Chacal.

O silêncio que se formou na sala foi ensurdecedor, rompido somente pelo engasgo de Juneau na própria saliva. Outrora uma carranca contínua, o rosto de Smith empalideceu mais do que o comum. Strike arregalou os olhos, claramente incrédula.

Demétrius era o único que não entendia. Chacal? Quem era esse? Como se escutasse seus pensamentos, Croft colocou a xícara em cima do pires.

— Chacal, o maior assassino de todos, uma lenda capaz de matar testemunhas guardadas a sete chaves. Ninguém nunca viu seu rosto, os que conseguiram, jamais viveram para contar a história.

— Você não pode ter certeza que é sobre ele. Você sabe quantos rumores os serviços de inteligência têm que lidar anualmente sobre Chacal? — Smith fungou. — Quase todos falsos.

— Você disse bem, Smith. — Croft rebateu. — Quase todos.

A tensão entre os representantes era real. Para Croft estar em pé de igualdade a Smith... Demétrius sentia uma curiosidade mórbida de saber de onde ele viera.

O ChacalOnde histórias criam vida. Descubra agora