Contratempos

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Mike

O silêncio absoluto me deixa incomodado, o cheiro forte de algum composto similar à rifocina só piora esse desconforto.

Eu havia visto o Lucas uns poucos instantes antes do carro ser atacado por aquele demogorgon, e ele também havia me visto. Meu amigo estava em cima de um dos prédios de condomínios da rua, observando-nos a uma distância muito menor do que gostaria de vê-lo, pela periculosidade da situação.

Se ao menos a Lucky estivesse por perto naquele momento, eu poderia ter ponderado jogar tudo ao alto e fugir para junto dos meus amigos outra vez, mas não podia fazer isso quando ela ainda estava trancada na Base, e Jane lutava para sobreviver ao ataque inesperado. Agora ela era uma das minhas maiores preocupações também, e não havia como ignorar mais que desde sempre, não obstante ao fato de ter passado dias irritado por ter me deixado enganar mesmo sabendo qual era a sua verdadeira identidade desde o princípio, eu me importava com ela.

A primeira coisa que vejo, assim que consigo abrir os olhos, é uma silhueta feminina. Mas aquela não é uma silhueta qualquer, pertence a alguém que vem alterando as batidas do meu coração, deixando-o agitado e estranhamente aquecido aí mesmo tempo.

Eu a reconheço sem precisar de muito, apesar de não estar com a visão completamente recuperada, porque não havia outro ser humano na face da Terra que fizesse meus sentidos se embaralharem daquela maneira.

Não nos conhecíamos de agora, e muito menos meu interesse é recente; aquele sentimento sempre estivera ali, guardado dentro de mim, e viera à tona no instante em que nos reencontramos, mesmo que não tivéssemos reconhecido de cara, nossas almas tinham-o feito, e sim, eu era capaz de saber o quanto aquilo era profundo de se pensar.

Estamos em uma espécie de enfermaria privada, onde há apenas eu de paciente, a cama, um puff verde água, monitores cardíacos e todo tipo de equipamento hospitalar. Também há computadores do outro lado de um extenso balcão, lembrando bastante o típico padrão dos laboratórios.

Jane se aproxima no instante em que percebe o meu despertar, deixando para trás o seu lugar no assento acolchoado.

- Como você se sente? - pergunta, tão gentil quanto quando viera me socorrer.

Quase fecho os olhos perante o som da sua voz. Era bom saber que estávamos vivos após toda aquela bagunça nas ruas da Base, e que ela era a primeira pessoa que eu via depois de não sei quanto tempo desacordado.

- Bem, eu acho. - minha voz sai esganiçada, trazendo uma careta de estranheza ao meu rosto - E você? E o Will?

- O Will está bem. Ele fraturou uma clavícula, mas por sorte também não foi uma fratura grave. O colete também ajudou bastante a livrá-lo do pior, graças a Deus. - ela suspira, e só então desço meus olhos pela tipóia ao redor do seu pescoço, percebendo que não apenas a sua mão está enfaixada agora, mas também todo o braço.

Jane segue o meu olhar, dando um pequeno sorriso quando diz:

- Parece que você tinha razão. Foi bom ter ido procurar o Dr. Owens.

Sento na cama devagar, mantendo o olhar em sua mão imobilizada.

- O que aconteceu afinal?

- Minha luxação estava muito grave para cuidados médicos serem ignorados, e realmente iria à enfermaria depois de toda aquela sua insistência, mas então tive que ir atrás dos soldados e bom, tudo aconteceu. - resume, com um olhar preocupado - Durante o combate, eu levei uma baita queda em um contra-ataque e adivinha?

- Caiu bem em cima da mão machucada. - eu completo, balançando uma cabeça em frustração. - Por favor, me diga que não rompeu articulações importantes e não vai precisar passar por algum procedimento de reestruturação?

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora