Opressão

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Mike

 Um fato que talvez eu não tenha mencionado antes é que o Dustin previra a chegada (ou suposto retorno) da Jane em minha vida.

 Estávamos conversando durante uma caminhada noturna, enquanto Lucas e Max provavelmente se pegavam na esquina mais próxima. Eu estava meio estranho nesse dia, até onde lembro, com uma dor de cabeça insuportável que não ia embora com nenhum tipo de analgésico. 

 Repentinamente, meu amigo se auto interrompeu na explicação sobre campos magnéticos e me lançou essa bomba. Ele abriu aquele seu grande e típico sorriso banguela, dizendo que "alguém de um passado próximo, seria reintegrado ao meu presente".

 Falar com ele num de seus vários momentos de "clarividência", como eu e os outros gostávamos de brincar, era esquisito. Dustin ficava mais sério, olhava dentro de nossos olhos e até mesmo seu tom de voz modificava-se; lembrava bastante um médium no momento em que recebia uma entidade.

 Não tenho visto Jane pelo último trio de dias, apesar de ter saído bastante para alguns "passeios" na série de laboratórios. Também não houveram mais sonhos com ela, o que me deixava cada vez mais intrigado com os poucos fragmentos que me restaram do sonho anterior.

 A sensação era tão vívida, tão real, que eu começara a duvidar sobre a origem desses sonhos. Se é que eu os poderia chamar assim.

 A maioria dos testes laboratoriais me deixavam enjoado. Assim que os cientistas me liberavam, eu corria para o banheiro e vomitava meu estômago inteiro por tantos minutos que posteriormente acabava desmaiando. Os militares que me acompanhavam nesses momentos, os mesmos da primeira vez (Gordo e Magro como eu os nomeara), já sabiam sobre minha debilidade e nem mais reclamavam sobre o pequeno desvio de rota que fazíamos depois de sair do laboratório.



 Passar as primeiras horas do dia com Will Byers no meu encalço a cada passo que eu desse, não estava nos meus planos para a manhã do sábado, contudo a cara de tédio do soldado quando adentrara na sala em que eu estava, às exatas 7:11 da manhã, indicaram o quão esse sentimento estava sendo partilhado entre nós dois.

- Pensei que seu turno fosse só amanhã à tarde. - assovio.

 Will vinha passando algumas tardes comigo, vigiando a sala no caso, e era o militar que eu mais trocava palavras em toda a Base. Apesar de sua postura na maioria das vezes restritamente profissional e do semblante fechado, ele não me tratava como lixo, o que fazia-me cultivar o mínimo de respeito por ele.

 - Trouxe comida - anuncia, me oferecendo uma maçã quase maior do que a palma de sua mão e um sanduíche embalado por papel filme.

 Minhas sobrancelhas vão de encontro ao couro cabeludo. Aquilo era uma pegadinha, certo?

- Eu não quero.

 Byers franze a testa de leve para o olhar desempolgado que dou à fruta avermelhada e ao seu rosto por conseguinte.

- Não está envenenada, Branca de Neve.

 Volto o olhar aleatoriamente para a tornozeleira eletrônica que hoje está estranhamente mais folgada do que de costume.

- Não adianta, eu não vou cair nessa.

- É sério? - o irmão de Jane me encara incrédulo.

- Aham.

- Você não pode ficar sem comer. - diz, como um daqueles pais que são encarregados de cuidar dos filhos e não fazem ideia de como convencer a criança a se alimentar antes que a mãe chegue - Essa cirurgia e todos os testes vem deixando a sua imunidade baixa. Não vai resistir muito mais tempo se continuar assim.

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora