A menina do laboratório

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Liberdade sob Palavra

"Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,

silêncio que fala,

tempestades sem vento, mar sem ondas,

pássaros presos, douradas feras adormecidas,

topázios ímpios como a verdade,

outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro

duma árvore e são pássaros todas as folhas,

praia que a manhã encontra constelada de olhos,

cesta de frutos de fogo,

mentira que alimenta,

espelhos deste mundo, portas do além,

pulsação tranquila do mar ao meio-dia,

universo que estremece,

paisagem solitária."

- Octávio Paz.


Mike

 A morte do soldado Harrington era a notícia número 1 em todos os noticiários matinais.

 Analiso um repórter falar sobre o caso, mostrando uma foto dele e um retrato falado meu ao lado para indicar que era o acusado pelo homicídio doloso. Como sempre, eles haviam errado no meu cabelo, tipo do nariz e cor dos olhos. Não me lembro de parecer nenhum pouco com uma espécie de Justin Bieber moreno.

 Ao que parece, o soldados havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral hemorrágico irreversível após um ponto importante de sua veia jugular externa ter se rompido por causa da minha lâmina.

 O problema é que a faca jamais atingira tal região.

 Lucas e Lucky se aproximam. Após tomar conhecimento do que está sendo falado, meu amigo alcança o controle em minhas mãos e aperta o botão outrora vermelho para desligar o aparelho, deixando a tela voltar ao preto fosco.

 Estávamos no nosso ferro velho desde bem cedo da manhã e eu fui direto ao ônibus escolar abandonado para me apropriar da pequena televisão suspensa.

 Não era novidade que uma bomba como essas estouraria em algum momento, afinal o governo sempre estava preocupado em recrutar mais e mais marionetes para o seu show de horrores. Eles queriam fazer a cabeça das pessoas para que elas odiassem a mim e acabassem por entregar-me de volta à Base. 

 Como já tinha dito antes: eu sabia que daria ruim para o meu lado desde que havíamos saído do supermercado.

- Eles estão tentando incriminar você por uma coisa que não fez. - o Sinclair comenta, provavelmente lendo o meus pensamentos. - Você sabe que eles estão querendo te ferrar de todo jeito, não é?

Assinto, passando uma mão pelo cabelo.

- Não será fácil sair ileso dessa, pessoal - confesso com sinceridade - a atenção em qualquer movimento nosso será quadruplicada a partir de hoje.

 - E ainda não sabemos a opinião do povo - Lucky diz, o semblante tomado por linhas de preocupação.

 É, ela tinha razão.

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora