Realidades paralelas (especial)

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Max

Dois dias antes do bilhete ser entregue ao Mike


Levanto-me do colchonete com uma dor de cabeça que insiste em continuar interferindo mesmo após eu ingerir dois tipos de analgésicos diferentes.

Lucas ronca abertamente, sem um único traço de preocupação marcando o rosto sereno. Está em sono profundo desde ontem, e nem mesmo vira as diversas vezes que me acordei durante a noite para ir ao banheiro ou para apenas levantar e andar por aí, em busca do sono perdido na metade da madrugada.

Levo os dedos até os seus lábios entreabertos, fazendo um carinho suave ali para não acordá-lo. Eu o amo tanto que chega a doer, mas esse sentimento anda sendo massacrado pela sua falta de atitude, me deixando sem saber o que fazer, ou dizer, para mostrá-lo o quão sofrendo.

Desde que conseguimos fugir da Base, ainda no início da adolescência, que nós permanecíamos nesse impasse. Bom, no começo não, no início eu o achava apenas outro garoto irritante como os que eu havia conhecido na escola, antes de ser levada aos laboratórios militares.

Diferente de Mike e Nancy, eu não estivera lá dentro desde bem jovem e, por consequência, não passara tantos anos sob o controle daquelas pessoas insanas, mas tinha passado pelo bastante para que lutasse com toda a minha vida para não voltar a aquele lugar.

Há tempos não tinha contato com o meu irmão, Billy, porém ele era apenas mais um que eu queria distância. Dominado por uma personalidade imperativa e completamente agressiva, Billy era a fiel cópia do nosso pai, um homem que eu nunca gostaria de ter conhecido. Ele trouxera sofrimento à nossa família e não sei dizer se um dia poderia perdoá-lo por tudo que nos fez, embora estivesse morto há alguns anos.

Lucas Sinclair sempre foi o mais sisudo do grupo, o mais insistente e talvez o mais teimoso; ele batia de frente com o Mike muitas vezes, como no dia em que ele entregou nosso único pacote de macarrão instantâneo para uma garotinha chamada Holly, contudo nada disso era o suficiente para abalar a amizade dos dois.

De alguma forma, não lembro exatamente do instante em que comecei a vê-lo com outros olhos.

Nancy havia me dado uns toques, dizendo que os olhos dele reluziam quando me via, porém eu achava que ela poderia estar se confundindo. Mas não dava para fugir do sentimento que surgira, gradativamente, se alimentando de cada sorriso, cada conversa, cada olhar que trocávamos: e bom, cá estamos.


Dylan está sentado no chão quando entro no pequeno quartinho que construímos no ferro velho, lendo um mangá japonês que não sei onde conseguiu. Cumprimento-o com um aceno de cabeça rápido, me jogando sobre a cadeira do papai mais disputada de toda Hawkins.

Por ser o único assento confortável que tínhamos ali, era quase sempre uma briga para decidir quem iria passar algum tempo sobre a sua superfície acolchoada.

Não sou capaz de falar muita coisa com essa dor de cabeça persistente e os milhões de pensamentos que transitam dentro da minha cabeça, o que deixa a mim e Dylan envoltos por um silêncio inespecífico.

Ciro se une a nós poucos minutos depois, parecendo animado.

- Consegui algo que pode nos ajudar. - decreta, indo até o frigobar para pegar uma garrafa de água gelada.

Eu e Dylan nos entreolhamos e em seguida o questiono:

- O que foi?

- É sobre as câmeras usadas na Base. Quero dizer, pelo menos nos lugares que pudemos ter um bom alcance visual. - ele explica, rápido e visivelmente empolgado, estava louco para tirar Mike e a irmã das garras do governo - Segundo Dustin observou, ontem tivemos um declínio no funcionamento dos dispositivos de vídeo e imagem, por volta de 1h da manhã.

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora