Day

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Jane

Os pensamentos agitados se transformam numa dor de cabeça irritante ao final do dia.

Já passa do horário do toque de recolher, eu sei, mas não tinha mais como ficar confinada dentro da Base. Não desejava ficar no meu quarto assistindo a nada na TV, nem jogando, nem lendo, nem mesmo lutando. Eu só queria andar um pouco e espairecer a mente.

Assim que saio da loja de conveniência, a apenas três ruas e meia da Base, bebo cerca de metade da garrafa de Mountain Dew, sentindo um momentâneo alívio pelo sabor refrescante da mistura de laranja e limão.

Caminho até um banco de praça solitário, adiante, e me deixo descansar sobre a madeira por alguns instantes. Levo a garrafa aos lábios distraidamente, tomando mais um gole da bebida enquanto rememorio os últimos acontecimentos pela ducentésima vez.

Mais cedo, quando estava com a Barb na cafeteria da sra. Wheeler, eu recebera uma ligação do comandante Hopper solicitando a minha presença na sala do tenente general o mais rápido possível para uma nova tarefa.

Despedira-me de Barb ainda com a taça de latte antes da metade, prometendo que em breve marcaria outro dia para passarmos juntas e conversarmos um pouco mais. Isso pareceu ser o bastante para que ela aceitasse a interrupção do nosso papo e me deixasse voltar, sem ressentimentos, às pressas para a Base.

A chuva grossa que antes deixara cada milímetro de Hawkins molhado há algumas horas, voltou a cair em gotas razoáveis, fazendo com que eu instintivamente erguesse os braços acima da cabeça para tentar me proteger.

No meio do trajeto avistei, num canto um pouco afastado do prédio principal, a recruta Coopland.

Ela não estava sozinha.

Uma figura trajando uma capa de chuva preta conversava com a morena, de costas para mim, e segundo tensão perceptível a metros de distância, eu diria que a conversa não estava sendo assim tão agradável à jovem militar.

Não tinha mais ninguém no beco além de nós três, justo por ser um atalho esquisito, e podendo notar a aflição no rosto da garota mais nova, escondi-me atrás de alguns arbustos do jardim de uma casa para tentar descobrir quem era a pessoa que trocava informações aparentemente sigilosas com a recruta.

Por estarem protegidas na sombra de uma árvore de tamanho considerável, não dava para ver os seus rostos com exatidão.

Com cautela, me esgueirei atrás dos arbustos justo no instante em que vi a figura de capuz depositar alguma coisa no bolso da jaqueta de Lorena, trazendo uma palidez visível ao rosto da garota.

Agora, um rapaz também encapuzado, montado numa bicicleta, se aproximara das duas. Pus minha mão instintivamente no revólver de bolso dentro das roupas, preparada caso fosse algum assalto ou coisa do tipo.

A primeira figura de capuz se despede da recruta apertando suas mãos e então se vira para o garoto de bicicleta, tomando bastante cuidado para seu rosto não ficar à mostra durante o processo. Devido a chuva e a falta de proximidade necessária, não consigo distinguir com clareza as suas feições e isso me aturde.

Todavia, apesar da primeira figura tomar extremo cuidado com a sua identidade, a segunda não é semelhantemente cuidadosa quando ri de algo que a outra diz e seu rosto ergue-se no ar apenas alguns segundos, o suficiente para que eu associasse a sua fisionomia à de alguém que vira apenas uma vez antes dessa.

O ar me deixa por alguns instantes assim que volto a pressionar as costas contra a parede, por muito pouco não havia sido pega em flagrante.

Aquele era Bryce, o amigo que Bruce/Mike me apresentara num dos primeiros dias em que estive na sua casa e quem eu apostava dizer se tratar de Dustin Henderson, o Fugitivo com o dom de saber o futuro a partir de um simples contato pele a pele.

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora