29| Eu não te perdôo

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•Música de sugestão:
Damien Rice - 9 Crimes

Estou sentado sozinho no pátio da escola, tentando afastar da minha mente a imagem do Ran entubado na UTI. Cada vez que fecho os olhos, vejo seu rosto pálido e a sala cheia de máquinas apitando. Respiro fundo, tentando focar em qualquer outra coisa, mas a dor é constante.

Pedi para que todos da Tenjiku me deixassem sozinho. Eu preciso disso. Mesmo que seja muito difícil, eu preciso ficar sozinho.

De repente, ouço uma voz que me faz gelar. Sassy. Ela é a causa de todo esse pesadelo. Tento ignorar ele, me concentrando em um ponto fixo no chão, mas ela se aproxima.

— Rindou, por favor, precisamos conversar.

Reviro os olhos e olho lentamente para ela.

— O que você quer, Sassy? — minha voz sai mais dura do que eu pretendia, mas não consigo disfarçar a raiva.

Ela hesita, olhando para os próprios pés antes de encontrar meu olhar.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com Ran. Eu não sabia que... eu tinha medo de continuar perto dele. Sabia que ele estava envolvido com uma gangue e isso me assustava. Achei que poderia me machucar de alguma forma. — ela diz com a voz trêmula.

Suas palavras me atingem como um soco no estômago. Eu seguro a raiva que ferve dentro de mim, tentando não explodir.

— Medo? Você deixou meu irmão naquela situação por medo?

Ela abaixa a cabeça, visivelmente perturbada.

— Eu só queria me afastar para me proteger. Nunca imaginei que isso aconteceria...

Um silêncio se instala entre nós, e é pesado. Ela finalmente levanta a cabeça e me olha com olhos cheios de lágrimas.

— Eu sinto muito, de verdade. Eu estava errada e me arrependo de tudo. Por favor, me perdoa.

Minha mandíbula se contrai. Eu eu balanço a cabeça negativamente.

— Você está pedindo desculpas? — falo e arrumo o meu óculos no rosto.

Ela balança a cabeça, com um fio de esperança em sua voz.

— Sim, eu estou pedindo perdão. Sei que cometi um erro terrível e não consigo parar de pensar nisso.

Respiro fundo, tentando manter a calma. Mas é praticamente impossível.

— Eu sei que você está pedindo perdão, Sassy. Mas eu não te perdôo.

Ela dá um passo para trás, chocada. Se aproxima mais de mim e diz:

— Mas Rindou, por favor, estou realmente arrependida.

Eu a encaro com firmeza.

— Eu sei disso. Sei que você está arrependida. Mas isso não muda o fato de que meu irmão está na UTI por sua causa. Não vou te perdoar.

Ela tenta dizer algo, mas as palavras parecem não sair. Eu me levanto da mesa e me afasto dela. Ela sabe o quanto suas ações custaram a alguém que eu amo. E eu jamais vou perdoar alguém que é capaz de com apenas um único ato, machucar o meu irmão.

Ela não apenas o machucou emocionalmente, mas fisicamente e possivelmente psicologicamente também. Pois eu tenho certeza de que o dia que Ran acordar, ele vai estar atordoado, sem entender nada e possivelmente abalado psicologicamente com tudo que aconteceu, caso ele se lembrar.

Perdão para mim é algo que eu não consigo fazer a alguém que comete algo tão grave. E quero que Sassy fique ciente de que o seu perdão não vai mudar nada. Não vai trazer Ran de volta, não vai reverter o que aconteceu e muito menos adiantar alguma coisa.

 Não vai trazer Ran de volta, não vai reverter o que aconteceu e muito menos adiantar alguma coisa

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Entro na UTI com um nó na garganta, o ambiente frio e silencioso me sufoca. O cheiro de desinfetante é forte e as luzes brancas me deixam tonto. Sigo em frente até o quarto e a cama do Ran, onde ele está entubado e imóvel. É uma visão que nunca vou me acostumar. Cada vez que o vejo assim, sinto meu coração se partir um pouco mais.

Me aproximo devagar, tentando manter a calma. Seguro a mão dele, que está fria e inerte, e começo a acariciá-la com carinho.

— Oi, Ran. — murmuro, tentando manter a voz estável. — Estou aqui de novo.

Sento na cadeira ao lado da cama e continuo segurando sua mão.

— Hoje na escola foi um dia difícil. — começo a contar, como se ele pudesse me ouvir. — O intervalo foi horrível sem você. Eu tentei focar nas aulas, mas minha mente não parava de pensar em você.

Olho para seu rosto pálido e continuo.

— Sassy veio falar comigo. Ela disse que está arrependida pelo que aconteceu, que não sabia o que fazer e estava com medo. — falo e olho para ele, na esperança que ele acordasse. — Eu... eu não consegui perdoá-la, Ran. Não depois de tudo o que você está passando.

Faço uma pausa, esperando algum sinal, qualquer coisa. Mas ele permanece imóvel, o som das máquinas é a única resposta. Respiro fundo e continuo.

— Eu sinto tanto a sua falta. A escola não é a mesma sem você, assim como a nossa casa parece tão vazia sem a sua presença. — falo com os olhos lacrimejando. — Ninguém entende minhas piadas, e as coisas que antes eram divertidas agora são só... vazias.

Passo minha mão pelo cabelo dele, que está perfeitamente arrumado, do jeitinho que ele sempre gosta.

— Lembra de quando jogávamos basquete na quadra da escola? Sinto falta desses momentos. Eu daria qualquer coisa para ter você de volta, rindo e me dizendo para não ser tão competitivo. — falo e começo a chorar enquanto seguro a sua mão.

O silêncio da UTI é esmagador, mas eu continuo falando.

— Todos os dias, eu vou torcer para que você acorde, que abra os olhos e me diga que tudo isso foi só um pesadelo. Preciso que você volte, Ran. Eu não sei como seguir em frente sem você. — falo chorando desesperadamente, enquanto as lágrimas molham as lentes do meu óculos e rosto.

Seguro sua mão um pouco mais firme, como se pudesse transmitir toda a minha força e esperança para ele.

— Eu vou continuar vindo aqui, contando sobre meu dia, esperando que você acorde. Não vou desistir de você. Nunca irei.

Fico mais um tempo ao seu lado, em silêncio, apenas sentindo a presença dele. Finalmente, me levanto e beijo sua testa.

— Até amanhã, irmão. Eu te amo. Te amo mais que tudo, você sabe disso. — falo e acaricio o seu rosto. — Volte logo para mim... por favor.

Saio da UTI com lágrimas nos olhos, mas com a esperança de que, um dia, ele me responda. E por mais algum médico algum dia diga que ele tem apenas 1% de chance de viver ou que não tenha, eu vou continuar do lado dele... até o fim.

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