The lawyer and the journalist

Tudo nas minhas mãos

P.O.V. Sadie

"Parabéns, você já está se recuperando". Entendi, os médicos queriam me deixar mais feliz ou o que? Eu mal conseguia organizar meus pensamentos. Eu começava a pensar muito e... 

QUE, QUE? Ah. Ah é. Continuando. Eu começava a pensar muito e apagava por causa dos remédios. E aí acordava assustada do nada, sem saber onde tava. Porra, cacete. Me prometeram que essa seria a última vez e eu espero que seja mesmo, porque eu não sei se vou aguentar tanto. Sabe, viver lutando pela vida é cansativo. Eu tentei o máximo ficar acordada quando colocaram a pequena TV perto de mim pra eu acompanhar as eleições. Diminuíram a sedação e acho que dessa vez eu conseguia. Eu tinha um botãozinho pra apertar só esperando pra me encher de morfina caso eu sentisse dor, tava quietinha, operada... Minha pressão subindo pro normal, batimentos mais fortes... A anemia tava indo embora, também né com tanto sangue que eu perdi, não sei como não fiquei seca. E pra variar... A fome tava começando a vir. É, definitivamente esse é meu normal. Mas comidinha de hospital era foda e eu ainda não podia comer sólido. Porra, essa é a pior parte. Suspirei e revirei os olhos. A televisão estava ligada e era só enrolação dos patrocinadores até começar o grande momento, isso já tava me dando sono de novo. Quando estava prestes a capotar de novo, ouvi a porta abrindo. Claro que eu queria visita, mas ao mesmo tempo pensei... Aquelas fudidas deveriam estar lá, pra cobrir as eleições e não perdendo tempo comigo. Mas a surpresa foi outra.

-Oi Sadie. Fiquei sabendo do que aconteceu, eu... Eu sinto muito. - era o Malcolm. Alguém avisou ele, será? - Como você está? - eu ainda não tinha total força pra falar, então balancei a mão devagar, indicando que estava "mais ou menos". Ele fez uma expressão chateada e deixou as flores que trazia na cabeceira do meu lado. Estranho, nosso último encontro foi bem conturbado e ele parecia todo bonzinho agora... - Bom, logo você vai estar 100% curada. - ele deu um leve sorriso e eu só continuava olhando pra ele, tava entendendo nada. - Eu queria pedir desculpa por aquele dia esquisito. Eu tava de cabeça quente, saí do controle. Me perdoa. - eu joguei meu braço na direção dele e mostrei o roxão que ainda tava da segurada que esse filho da puta me deu. Ele estreitou os olhos. - Desculpa. - eu desviei o olhar e suspirei. Não sei se era uma boa ideia perdoar ele, porque gente abusiva é sempre assim. Faz merda, pede desculpa e tá fazendo de novo quase que no mesmo instante. Então ia deixar ele sem resposta. Só queria que fosse EMBORA. Tava muito desconfortável. Sacudi a mão tentando fazê-lo entender que não queria ele lá. Depois, desviei o olhar. - Isso é pra te deixar em paz? Quer que eu vá embora?

-Hum-hum. - eu consegui "falar" que SIM, queria que ele fosse embora. Minha voz tava rouca, então eu não tinha tanta autoridade quanto pensava.

 -Olha, eu podia ir embora sem falar nada, mas acho que não vai ter graça nenhuma se eu fizer isso.

-Que? - consegui soltar com a maior dificuldade do mundo. Acho que eu usei todas as forças pra falar isso, vai se fuder. Do que ele estava falando?

-Tipo... Você não morre nunca! É imortal pelo visto! Acidente de ônibus, acidente de carro, tiroteio, prisão armada, facadas! E olha você aí inteira! Nossa! - eu tava começando a ficar com medo de verdade. - Não adianta tentar te eliminar, né? Eu nunca vou conseguir te matar. - oh porra. Então era ELE que tava tentando! Puta que pariu mesmo! Como que eu não desconfiei antes? Ele tinha todo padrão de psicopata mesmo nessa caceta! Agora ele tá aqui no meu quarto de hospital e eu toda fudida sem nem conseguir falar direito. Ou seja, ele finalmente vai conseguir realizar o desejo dele. O que, vai enfiar um travesseiro na minha cara e me sufocar até a morte que nem nas novelas? - E olha que eu tentei te dar chances, corri atrás... Quando eu achava que finalmente você ia ficar comigo, que é o seu lugar... Você se desviava. Ah, Sadie você desperdiçou tantas chances...