Rodolffo correu 10 km e regressou a casa. Cansado entrou no banheiro e deixou a àgua cair sobre o corpo.
Enxugou-se e de seguida foi à cozinha. Fez um sanduíche de queijo e comeu com um copo de leite.
O sono não veio e ele resolveu sentar-se na varanda do quarto e ler o restante relato de Juliette.
"Acordei no hospital e parecia ter vindo de um sono profundo. Ouvi vozes rindo. Custava-me abrir os olhos mas deu para ver que junto a mim havia médicos e enfermeiros. Hoje sei que uma das vozes era da Maria mas com máscara não a vi. Não sei se foi sonho ou realidade, mas ouvi o chorinho de uma criança.
Fui levada para o quarto e lá estavam o Júlio e a Rosa. A Rosa era a moça que esteve lá em casa.
Fiquei dois dias sem ver ninguém e depois um homem veio buscar-me num carro. Eu apenas dormia. Acordava para comer e dormia de novo.
Entrei com ele numa casa feia e velha. Tinha uns muros muito altos.
Levaram-me para um quarto onde só havia a cama e nada mais. Vestiram-me uma camisola e levaram as minhas roupas. Espreitei pela janela que tinha grades e do lado de fora era só mato.
Lembro-me de estar horas sem ver ninguém. Já era noite, trouxeram-me uma sopa para comer.
Gritei com a pessoa e ela deu-me um estalo. Obrigou-me a tomar alguns comprimidos e foi embora. Eu estava com fome e comi a sopa toda., depois dormi.
Nos dias seguintes era sempre assim. Eu tinha apenas uma refeição e não adiantava protestar senão apanhava. Comecei a fingir tomar a medicação e escondia-a na boca. Quando eles saíam eu guardava.
Um dia veio o homem que me foi buscar ao hospital. Deixou a comida e foi-se aproximando de mim. Eu fugi para o banheiro, mas a porta não fechava. Ele arrastou-me pelos cabelos e atirou-me para cima da cama e prendeu-me. Depois abusou de mim como quis e bem lhe apeteceu.
Nessa noite eu chorei e amaldiçoei a minha vida. Pela manhã, depois de não ter conseguido dormir, tomei os comprimidos todos que tinha junto.Para minha infelicidade encontraram-me desacordada. Nunca ia ninguém de manhã e logo naquele dia foram. Eu só queria terminar com aquele sofrimento.
Lembro-me que a Maria me deu muitas coisas para beber e eu vomitei muito. Fiquei muito mal.
Nunca mais me deram comprimidos, mas eu continuava a dormir muito.Eu já estava enjoada de comer sempre a mesma sopa. Por vezes estava gelada.
Um dia pedi um café e além de não mo darem, riram-se de mim e espancaram-me.Eu tremia quando vinha o homem, mas ele veio muitas vezes e de todas eu fui violentada.
Do Júlio nunca mais ouvi falar a não ser um dia que Rosa conversava com Maria lá no meu quarto. Eu acabei a fazer-me de doida. Percebi que de vez em quando iam lá umas pessoas estranhas e nesses dias até nos tratavam bem.
- Temos a consulta de psiquiatria amanhã. É necessária pois temos que justificar os gastos e receber as verbas do mês. - dizia Rosa.
- Ainda mais essa. Esta inútil só dá trabalho.
- Tem que ser, Maria, mas ouvi dizer que o psiquiatra vai mudar. Com este o esquema estava certo. Vamos ter que ver como é o novo. O ideal era levarem este encosto.
- O Júlio não deu mais as caras?
- Não. Deixou de pagar. Era o que nos faltava.
E foi assim que eu vim parar aqui onde me trataram bem e não me bateram.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Livre para sentir Saudade.
FanfictionSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.