Capítulo 7

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Rodolffo correu 10 km e regressou a casa.  Cansado entrou no banheiro e deixou a àgua cair sobre o corpo.

Enxugou-se e de seguida foi à cozinha.  Fez um sanduíche de queijo e comeu com um copo de leite.

O sono não veio e ele resolveu sentar-se na varanda do quarto e ler o restante relato de Juliette.

"Acordei no hospital e parecia ter vindo de um sono profundo.  Ouvi vozes rindo.  Custava-me abrir os olhos mas deu para ver que junto a mim havia médicos e enfermeiros.  Hoje sei que uma das vozes era da Maria mas com máscara não a vi.  Não sei se foi sonho ou realidade, mas ouvi o chorinho de uma criança.

Fui levada para o quarto e lá estavam o Júlio e a Rosa.  A Rosa era a moça que esteve lá em casa.

Fiquei dois dias sem ver ninguém e depois um homem veio buscar-me num carro.  Eu apenas dormia.  Acordava para comer e dormia de novo.

Entrei com ele numa casa feia e velha.  Tinha uns muros muito altos.

Levaram-me para um quarto onde só havia a cama e nada mais.  Vestiram-me uma camisola e levaram as minhas roupas.  Espreitei pela janela que tinha grades e do lado de fora era só mato.

Lembro-me de estar horas sem ver ninguém.  Já era noite, trouxeram-me uma sopa para comer.

Gritei com a pessoa e ela deu-me um estalo.  Obrigou-me a tomar alguns comprimidos e foi embora.  Eu estava com fome e comi a sopa toda., depois dormi.

Nos dias seguintes era sempre assim.  Eu tinha apenas uma refeição e não adiantava protestar senão apanhava.  Comecei a fingir tomar a medicação e escondia-a na boca.  Quando eles saíam eu guardava.

Um dia veio o homem que me foi buscar ao hospital.   Deixou a comida e foi-se aproximando de mim.  Eu fugi para o banheiro, mas a porta não fechava.  Ele arrastou-me pelos cabelos e atirou-me para cima da cama e prendeu-me.  Depois abusou de mim como quis e bem lhe apeteceu.
Nessa noite eu chorei e amaldiçoei a minha vida.  Pela manhã,  depois de não ter conseguido dormir, tomei os comprimidos todos que tinha junto.

Para minha infelicidade encontraram-me desacordada.  Nunca ia ninguém de manhã e logo naquele dia foram.   Eu só queria terminar com aquele sofrimento.

Lembro-me que a Maria me deu muitas coisas para beber e eu vomitei muito.  Fiquei muito mal.
Nunca mais me deram comprimidos, mas eu continuava a dormir muito.

Eu já estava enjoada de comer sempre a mesma sopa.  Por vezes estava gelada.
Um dia pedi um café e além de não mo darem, riram-se de mim e espancaram-me.

Eu tremia quando vinha o homem, mas ele veio muitas vezes e de todas eu fui violentada.

Do Júlio nunca mais ouvi falar a não ser um dia que Rosa conversava com Maria lá no meu quarto.  Eu acabei a fazer-me de doida.  Percebi que de vez em quando iam lá umas pessoas estranhas e nesses dias até nos tratavam bem.

- Temos a consulta de psiquiatria amanhã.   É necessária pois temos que justificar os gastos e receber as verbas do mês. - dizia Rosa.

- Ainda mais essa.  Esta inútil só dá trabalho.

- Tem que ser, Maria, mas ouvi dizer que o psiquiatra vai mudar.  Com este o esquema estava certo.  Vamos ter que ver como é o novo.  O ideal era levarem este encosto.

- O Júlio não deu mais as caras?

- Não.  Deixou  de pagar.  Era o que nos faltava.

E foi assim que eu vim parar aqui onde me trataram bem e não me bateram.

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