Acordei bem cedo. Aparentemente Juliette tinha tido mais uma noite tranquila.
Desde o último surto, dou-lhe um comprimido para dormir e acho que está dando certo.
- Bom dia Alice. Como disse mais uma vez, não deixes a Juliette sair sózinha. Acompanha-a aonde ela for, mesmo se for ao escritório do trabalho. Fica no carro e espera por ela se necessário.
- Fico sim, pode deixar. Vou servir o café. Como ela passou a noite?
- Bem. Acho que no outro dia teve uma crise de ansiedade. Nunca mais aconteceu.
Aproximava-se o dia do parto e a ansiedade voltou. Rodolffo resolveu tirar uns dias fora da clínica para a acompanhar nesta última etapa.
- Eu quero ter parto normal. Não quero dormir.
- E se não for possível? Lembra-te que eu vou estar ao teu lado. Não vou deixar acontecer nada de ruim contigo e com a nossa Caetana.
- Eu sei, mas ainda assim eu quero estar consciente.
- Já pensaste. Dentro de dias teremos a nossa menina connosco.
- Ela deve estar com pressa. Não pára de chutar. Vai jogar futebol.
- Que nada. A minha filha não vai ser maria-rapaz. Vai ser uma princesa.
- Que pensar tão antiquado, Rodolffo! Ela vai ser o que quiser.
- Vai ser o que quiser sim. Eu só gosto de te provocar.
- Aiiiii! Que dor!
- Onde, Juliette?
- Aqui na barriga. Será que é ela que quer vir?
- Pode ser. A médica disse que pode acontecer a qualquer momento. Ela já estava posicionada para o nascimento.
- Diz à Alice para levar o Tomás à escola. Quero que fiques aqui comigo.
- Queres ir para o hospital? Ligar à médica?
- Ainda não. Deixa ver se foi só aquela dor ou vem mais.
A meio da manhã Juliette começou com contrações. Rodolffo pediu a Alice que cuidasse do Tomás e levou Juliette ao hospital. Ela estava muito ansiosa e nervosa.
Foi consultada pela obstetra que lhe disse da hipótese de ter que fazer cesariana pois a pressão estava muito elevada.
- Ainda tem pouca dilatação, mas o que me preocupa é a tensão. Se não baixar teremos que recorrer à cirurgia.
- Não quero, Rodolffo. Eles vão por-me a dormir e levar a minha bébé.
- Que história é essa? Eu vou estar aqui e não deixo ninguém levar a nossa menina.
- Não acredito em vocês. Vocês estão todos combinados. Eu não quero que a minha filha saia de perto de mim.
- Lamento que penses isso de mim. Parte-me o coração, mas eu vou provar o contrário. Agora acalma-te por favor.
- Desculpa, mas eu tenho tanto medo.
- Não tenhas. Eu estou aqui. A médica já vem aí.
Por estar tão nervosa, Juliette foi sedada ligeiramente, debaixo de protestos e xingamentos. Rodolffo nem queria acreditar que aquelas palavras saíam da boca dela.
Pouco depois cortou o cordão umbilical da sua princesa com o rosto banhado em lágrimas. O dia que tinha tudo para ser feliz era agora marcado por uma enorme desilusão. Levaram a Caetana e ele teve que sair para tratarem de Juliette.
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Livre para sentir Saudade.
FanficSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.