Capítulo 39

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Acordei bem cedo.  Aparentemente Juliette tinha tido mais uma noite tranquila.

Desde o último surto, dou-lhe um comprimido para dormir e acho que está dando certo.

- Bom dia Alice.  Como disse mais uma vez, não deixes a Juliette sair sózinha.  Acompanha-a aonde ela for, mesmo se for ao escritório do trabalho.  Fica no carro e espera por ela se necessário.

- Fico sim, pode deixar.  Vou servir o café.   Como ela passou a noite?

- Bem.  Acho que no outro dia teve uma crise de ansiedade.  Nunca mais aconteceu.

Aproximava-se o dia do parto e a ansiedade voltou.  Rodolffo resolveu tirar uns dias fora da clínica para a acompanhar nesta última etapa.

- Eu quero ter parto normal.  Não quero dormir.

- E se não  for possível?  Lembra-te que eu vou estar ao teu lado.  Não vou deixar acontecer nada de ruim contigo e com a nossa Caetana.

- Eu sei, mas ainda assim eu quero estar consciente.

- Já pensaste.   Dentro de dias teremos a nossa menina connosco.

- Ela deve estar com pressa.  Não pára de chutar.  Vai jogar futebol.

- Que nada.  A minha filha não vai ser maria-rapaz.  Vai ser uma princesa.

- Que pensar tão antiquado, Rodolffo!  Ela vai ser o que quiser.

- Vai ser o que quiser sim.  Eu só gosto de te provocar.

- Aiiiii! Que dor!

- Onde, Juliette?

- Aqui na barriga.  Será que é ela que quer vir?

- Pode ser.  A médica disse que pode acontecer a qualquer momento.  Ela já estava posicionada para o nascimento.

- Diz à Alice para levar o Tomás à escola.  Quero que fiques aqui comigo.

- Queres ir para o hospital?  Ligar à médica?

- Ainda não.   Deixa ver se foi só aquela dor ou vem mais.

A meio da manhã Juliette começou com contrações.  Rodolffo pediu a Alice que cuidasse do Tomás e levou Juliette ao hospital.   Ela estava muito ansiosa e nervosa.

Foi consultada pela obstetra que lhe disse da hipótese de ter que fazer cesariana pois a pressão estava muito elevada.

- Ainda tem pouca dilatação,  mas o que me preocupa é a tensão.   Se não baixar teremos que recorrer à cirurgia.

- Não quero, Rodolffo.   Eles vão por-me a dormir e levar a minha bébé.

- Que história é essa?  Eu vou estar aqui e não deixo ninguém levar a nossa menina.

- Não acredito em vocês.  Vocês estão todos combinados.  Eu não quero que a minha filha saia de perto de mim.

- Lamento que penses isso de mim.  Parte-me o coração,  mas eu vou provar o contrário.  Agora acalma-te por favor.

- Desculpa, mas eu tenho tanto medo.

- Não tenhas.  Eu estou aqui.  A médica já vem aí.

Por estar tão nervosa, Juliette foi sedada ligeiramente, debaixo de protestos e xingamentos.  Rodolffo nem queria acreditar que aquelas palavras saíam da boca dela.

Pouco depois cortou o cordão umbilical da sua princesa com o rosto banhado em lágrimas.   O dia que tinha tudo para ser feliz era agora marcado por uma enorme desilusão.   Levaram a Caetana e ele teve que sair para tratarem de Juliette.

Livre para sentir Saudade.Onde histórias criam vida. Descubra agora