Depois daquele almoço tudo ficou igual. Durante a semana, os dois não se falavam, mas chegava o dia da psicóloga e Juliette passava sempre no gabinete de Rodolffo e ele fazia questão de não ter nada marcado para poder almoçar e estar um pouco com ela.
- Um dia queres ir jantar na minha casa? - perguntou ele.
- Com a Alice?
- Os dois sózinhos Juliette. Já está na hora de fazeres coisas normais.
- Tem que perceber o meu lado.
- Percebo. Primeiro, aqui sou o Rodolffo, não o doutor. Trata-me por tu por favor.
- Está bem. Vou tentar. O jantar pode ser na minha casa?
- Pode sim. Não tem problema, aliás eu nem conheço ainda a tua casa. Pode ser hoje?
- Já hoje? Eu vou cozinhar o quê? Não sei o que gosta...gostas.
- Muito melhor assim. Surpreende-me.
Rodolffo precisava verificar alguns comportamentos de Juliette. Os resultados do teste de ADN tinham chegado. Tomás, assim se chamava a criança era realmente filho de Juliette.
Alice ainda não sabia. Rodolffo precisava da opinião dela sobre a capacidade de Juliette lidar com esta nova situação. Ele não iria buscar a criança enquanto não tivesse certeza de deixá-la segura.
Chegou a casa dela com um buquê de flores e chocolates.
- Ai que lindas! Obrigada, Rodolffo. Adoro chocolates.
- E café com bolo. Isso eu sei.
Juliette sorriu para ele enquanto colocava as flores numa jarra.
- Anda, vou colocá-las lá no meu quarto e mostro-te a casa toda. Deitei fora tudo o que estava cá, aliás, doei e fiz algumas alterações.
- Fizeste bem. Está muito bonita, a tua casa e o que fizeste para jantar?
Cheira muito bem.- Frango no forno com arroz de cogumelos e batata assada. Salada, mousse de chocolate e pudim.
- Duas sobremesas?
- Não sabia o que gostavas. Quando almoçamos juntos nunca comes sobremesa.
- Só como ao fim de semana e festas.
- Hoje vais comer?
- Vou. Hoje é como se fosse festa.
Voltaram para a cozinha. Juliette desligou o forno e juntos foram por a mesa.
- Não tenho vinho, Rodolffo.
- Eu também não trouxe porque tu não podes beber, mas não faz mal, posso fazer uma limonada. Já vi alguns limões na geladeira.
- Sim. Pode ser limonada ou de laranja. O que quiseres.
- Prefiro limonada.
Rodolffo fazia a limonada e Juliette terminava de temperar a salada. Retirou um pão de alho do forno e colocou sobre a mesa juntamente com um patê de atum e outro de marisco, com algumas tostas.
- Eita! Isto é um banquete. Vou querer sempre.
- Eu fazia sempre com a minha mãe. Isto e muito mais coisas. Adorava quando tínhamos gente em casa. As duas fazíamos tantas coisas deliciosas.
- Vês! São essas as lembranças que deves guardar. As ruins deixa lá no fundo onde não lhe possas chegar. - Rodolffo falou isto segurando na mão dela que depois beijou.
Vamos sentar e comer.Juliette parecia estar feliz. Conversaram durante toda a refeição e no final, depois do tradicional café e bolinho, decidiram caminhar um pouco no condomínio.
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Livre para sentir Saudade.
Hayran KurguSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.