Aos poucos Juliette foi-se libertando das más recordações. Não que as tivesse esquecido, mas outras melhores vieram substituí-las. Os sonhos por vezes ainda se faziam presentes, agora já não eram tão relevantes.
O julgamento de Júlio e os outros três estava marcado. Juliette não precisou ir depor, mas disse que queria assistir à leitura da sentença.
- Tens a certeza, amor?
- Sim.
Rodolffo não questionou e conversou com Alexandre sobre o assunto.
- E bom, Rodolffo. Sinal de que ela está a superar. Sabes que o Júlio fez uma petição ao juiz para ver o filho?
- Filho? Que grande lata. Se não fosse eu essa criança sabe-se lá onde estaria.
- É claro que o juiz não vai autorizar.
Aliás o pai oficial és tu. Ele é só um progenitor.Manhã de sexta feira no tribunal...
Advogado de Júlio.
- Senhor doutor Juiz, antes da leitura da sentença, podemos saber a resposta à petição do meu cliente?
- Sobre a visita ao suposto filho?
- Suposto não. A criança é mesmo filho dele.
- Um filho que ele ia vender e ao qual nem se dignou registar e dar o nome. A resposta é não. A criança hoje vive com a mãe e um pai que esse sim é o seu pai de verdade. Ao seu cliente resta apenas o papel de progenitor.
Agora passemos à leitura da sentença.O senhor Júlio Tavares, acusado de vários crimes de violência doméstica, estupro, subtração de menor recém nascido e tentativa de homicídio na pessoa de sua companheira é condenado a 35 anos de reclusão efectiva sem direito a recurso.
Os proprietários da casa de repouso, a senhora Rosa, acusada de violência e associação criminosa, é condenada e 25 anos de reclusão efectiva sem direito a recurso.
A senhora Maria e esposo, senhor Artur, pelos crimes de associação criminosa, violência contra incapacitados, subtracção de recém nascido e estupro são condenados a 35 anos de reclusão efectiva sem recurso.
Juliette ao lado de Rodolffo estava satisfeita com a sentença. Estes animais dificilmente saíriam vivos da prisão ou em condições de fazer mal a mais alguém.
Ao levarem os detidos, passaram perto dela e puderam olhar-se nos olhos. Juliette fazendo-se forte não desviou o olhar ao contrário de Júlio que depois de mirá-la baixou a cabeça. Juliette achou-o bem diferente. Magro, a barba grisalha e uma certa calvice.
Os outros três preferiram alguns insultos dirigidos a ela, mas que ela ignorou.
Juliette saiu dali abraçada a Rodolffo com a certeza de que aquele dia seria um divisor de àguas.
- Estás bem, meu amor?
- Estou óptima. Leve, como há muito não me sentia.
Trocaram um beijo e entraram no carro. Juliette tinha uma entrevista num gabinete de design de moda e Rodolffo ofereceu-se para a levar.
No final foi aceite. Poderia trabalhar em casa e ir ali uma vez por semana. Juliette aceitou. Estava na hora de mudar o rumo dos acontecimentos.
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Livre para sentir Saudade.
Hayran KurguSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.