Três meses tinham passado desde que Juliette chegara à clínica de Rodolffo.
As melhoras eram significativas. Ela já conseguia ter uma conversa com pés e cabeça. Não falava do passado,. Cada vez que tocavam no assunto ela fechava-se.
Ia ao jardim todos os dias e até começou a ler um livro que viu na secretária de Sofia. Ficava por lá mergulhando na leitura.
Rodolffo ficava por vezes a olhá-la da sua janela. Ela tinha recuperado algum peso e o rosto já tinha outra aparência.
Hoje ela tinha-lhe feito um pedido que muito o surpreendeu. Um caderno e um lápis.
Nem questionou. Tratou logo de providenciar o pedido. Talvez ela escrevesse algo que o elucidasse sobre o passado dela e como as coisas aconteceram. Ele tinha posto a hipótese de recorrer à hipnose, mas decidiu esperar por enquanto.
Terminou o seu dia na clínica e regressou a casa.
- Como está hoje, doutor?
- Estou bem, Alice e tu?
- Também. Um pouco preocupada com uma amiga minha que desapareceu há vários meses. Ninguém sabe dela e estava grávida.
- Não comunicaram o desaparecimento às autoridades?
- O companheiro dela no início disse que ela tinha viajado e agora ele também não está cá. Pensamos que foi ter com ela.
- Pode ser. Ninguém ficou na casa?
- Não. Há muito tempo que ninguém é visto lá.
- Vais ver que ela decidiu ter o filho noutro país. Logo aparece aí com a criança já crescida.
- Duvido. A falta de notícias é que me preocupa. A minha amiga nunca ia deixar de ter contacto com as amigas. Apesar da nossa condição financeira ser bem diferente, eu conheço-a desde criança e ela nunca se mostrou superior.
- E a família?
- Conheci os pais dela, mas faleceram muito novos. Ela andava na faculdade quando houve o acidente onde eles perderam a vida. Ficou muito abalada, mas arranjou um namorado e aparentemente tudo ficou bem.
- Porquê aparentemente?
- Porque ela mudou um pouco. Terminou a faculdade de design. Adorava moda, mas nunca exerceu qualquer profissão. Contou-me um dia que o namorado não queria que ela trabalhasse e eu fiquei admirada pois não conhecia a minha amiga assim submissa. Entretanto engravidou e os nossos encontros foram escasseando.
A desculpa era que passava mal com a gravidez e a médica aconselhou repouso.- Isso é muito normal.
- Não com ela. Só quem a conhecia bem sabia que havia outra coisa.
Doutor, já vou indo. Hoje tem assado no forno. Até amanhã.
- Obrigado Alice.
Rodolffo tomou um duche, jantou e foi ver um filme. Queria esquecer os problemas da clínica por um momento.
A meio do filme achou-o aborrecido, desligou a TV e foi dormir.
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Livre para sentir Saudade.
FanficSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.