Capítulo 36

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O meu bébé acabara de completar 4 anos.   Parece impossível que tudo aconteceu já faz tanto tempo.

Hoje eu sinto-me completa e apesar de por vezes lembrar os maus bocados que passei, tento focar nos bons.

Rodolffo tem sido um marido exemplar.  Está sempre comigo nas conquistas e fracassos.  Comprámos uma casa nova.  Optámos por uma casa maior, pois tanto a minha como a do Rodolffo só tinham 3 quartos e com o meu estúdio e o escritório de Rodolffo precisamos de mais espaço.

Vendemos as duas e comprámos  esta no mesmo condomínio.

Alice veio viver para mais perto de nós.   Ela vivia de aluguer e resolvemos presenteà-la com apartamento.  Muito merecido.  Alice é aquela amiga mais que irmã. Tem estado sempre ao nosso lado.  É dela que recebo as broncas e na nossa casa sempre terá um cantinho caso precise.

- Hoje não acordei bem, Alice.  Não quis falar na frente de Rodolffo para que não fique preocupado.

- O que tens?  Vem tomar café.

- Indisposta, agoniada.  Faz-me um chá de camomila e uma torrada seca.

- Juliette!  Vem aí bébé.   Será?

- Achas?  Faz algum tempo que tentamos, mas não aconteceu.  Eu já estava desanimada.

- É quando tem que ser.  Vamos fazer exame de sangue depois de levarmos o Tomás ao colégio.

- Vamos sim, mas eu menstruei sempre, apesar de nos últimos meses o fluxo ser muito pequeno e irregular.

- Dizem que por vezes acontece.  Eu não sei, pois nunca estive grávida.

- Nunca tiveste vontade de ser mãe? Casar, ter um companheiro fixo?

- Não.  Gosto muito dos filhos dos outros, mas nunca senti esse apelo.  Homem fixo, então!  Nem morta.  Gosto tanto da minha liberdade e independência.

- Porque nunca amaste a sério.

- Pode ser que seja isso e também não descarto a hipótese de acontecer quando eu for velhinha e precisar de bengala.

- Era bonito, era.  O amor na terceira idade.  Acontece às vezes.

Juliette deixou o filho na escola e logo depois estava na clínica a fazer colheita de sangue para análise.

Enquanto esperava o resultado foram as duas tomar um chá na padaria da frente.

- O Rodolffo vai chorar se for verdade.  Ele não diz,  mas eu sei que ele quer muito um filho do sangue dele.

- Mas ele adora o Tomás.

- Pois adora, mas sempre me disse que queria outro filho.  Eu também quero.

Voltaram à clínica e receberam o resultado.  Juliette abriu o envelope e logo os olhos ficaram cheios de lágrimas.

- Positivo amiga.  Diz aqui 13 semanas.  Tens noção que o meu bébé já tem mais de três meses?  Como posso não ter sentido?

- Os sintomas só apareceram agora.  Como vais contar ao Rodolffo?

- Não sei.  Vamos que em casa eu penso num jeito.

- Eu faço um jantarzinho gostoso e levo o Tomás para ficar comigo.  Assim vocês comemoram mais à vontade.

- Ai, amiga!  Eu não quero abusar de ti, mas isso era óptimo.

- Não abusas.  Como eu disse, eu adoro os filhos dos outros e o meu afilhado muito mais.

- Então vamos que estou com umas ideias.

- Não precisas comprar nada?

- Não.  Uso o que tiver.

Livre para sentir Saudade.Onde histórias criam vida. Descubra agora