O meu bébé acabara de completar 4 anos. Parece impossível que tudo aconteceu já faz tanto tempo.
Hoje eu sinto-me completa e apesar de por vezes lembrar os maus bocados que passei, tento focar nos bons.
Rodolffo tem sido um marido exemplar. Está sempre comigo nas conquistas e fracassos. Comprámos uma casa nova. Optámos por uma casa maior, pois tanto a minha como a do Rodolffo só tinham 3 quartos e com o meu estúdio e o escritório de Rodolffo precisamos de mais espaço.
Vendemos as duas e comprámos esta no mesmo condomínio.
Alice veio viver para mais perto de nós. Ela vivia de aluguer e resolvemos presenteà-la com apartamento. Muito merecido. Alice é aquela amiga mais que irmã. Tem estado sempre ao nosso lado. É dela que recebo as broncas e na nossa casa sempre terá um cantinho caso precise.
- Hoje não acordei bem, Alice. Não quis falar na frente de Rodolffo para que não fique preocupado.
- O que tens? Vem tomar café.
- Indisposta, agoniada. Faz-me um chá de camomila e uma torrada seca.
- Juliette! Vem aí bébé. Será?
- Achas? Faz algum tempo que tentamos, mas não aconteceu. Eu já estava desanimada.
- É quando tem que ser. Vamos fazer exame de sangue depois de levarmos o Tomás ao colégio.
- Vamos sim, mas eu menstruei sempre, apesar de nos últimos meses o fluxo ser muito pequeno e irregular.
- Dizem que por vezes acontece. Eu não sei, pois nunca estive grávida.
- Nunca tiveste vontade de ser mãe? Casar, ter um companheiro fixo?
- Não. Gosto muito dos filhos dos outros, mas nunca senti esse apelo. Homem fixo, então! Nem morta. Gosto tanto da minha liberdade e independência.
- Porque nunca amaste a sério.
- Pode ser que seja isso e também não descarto a hipótese de acontecer quando eu for velhinha e precisar de bengala.
- Era bonito, era. O amor na terceira idade. Acontece às vezes.
Juliette deixou o filho na escola e logo depois estava na clínica a fazer colheita de sangue para análise.
Enquanto esperava o resultado foram as duas tomar um chá na padaria da frente.
- O Rodolffo vai chorar se for verdade. Ele não diz, mas eu sei que ele quer muito um filho do sangue dele.
- Mas ele adora o Tomás.
- Pois adora, mas sempre me disse que queria outro filho. Eu também quero.
Voltaram à clínica e receberam o resultado. Juliette abriu o envelope e logo os olhos ficaram cheios de lágrimas.
- Positivo amiga. Diz aqui 13 semanas. Tens noção que o meu bébé já tem mais de três meses? Como posso não ter sentido?
- Os sintomas só apareceram agora. Como vais contar ao Rodolffo?
- Não sei. Vamos que em casa eu penso num jeito.
- Eu faço um jantarzinho gostoso e levo o Tomás para ficar comigo. Assim vocês comemoram mais à vontade.
- Ai, amiga! Eu não quero abusar de ti, mas isso era óptimo.
- Não abusas. Como eu disse, eu adoro os filhos dos outros e o meu afilhado muito mais.
- Então vamos que estou com umas ideias.
- Não precisas comprar nada?
- Não. Uso o que tiver.
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Livre para sentir Saudade.
Fiksi PenggemarSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.