Capítulo 13

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Juliette estava em casa a pensar na vida.  Tinha acabado de vir do banco onde foi saber  a realidade sobre a sua situação financeira.

Júlio tinha zerado a conta à ordem.  Restavam-lhe todas as aplicações que existiam feitas ainda pelos seus pais.

Era por isso que ele precisava da assinatura dela.
Sobre o património imobiliário nada foi alterado.  Juliette possuía alguns imóveis que lhe garantiam uma boa renda mensal.

Faz um mês que ela deixou a clínica.  Encontra-se com Alice com muita frequência,  mas nunca mais viu nem falou com o doutor Rodolffo.

Nesse dia tinham combinado encontrar-se depois de Alice sair do trabalho.  Juliette preparou o jantar e aguardava a chegada da amiga que demorou um pouco mais que a hora combinada.

- Desculpa, Juliette.   Atrasei-me com o jantar do doutor.

- Como ele está?

- Está bem.  Mandou dizer-te que não deves abandonar as consultas. Se não quiseres consultar-te com ele, ele indica-te um colega.

- Porque é que eu deveria trocar?

- Não sei.  Ele diz que nunca mais falaste com ele e ele nem tem o teu número.

- Pedia-te a ti.

- Não pediu e eu também não dei.  Esse bloqueio com as pessoas, tu é que tens que resolver.

- Que bloqueio, Alice?

- Tu percebeste muito bem, Juliette.   Não afastes quem gosta de ti e sofre por ti.

- Vamos jantar.

- Vamos sim.  No fim de semana vamos sair?

- Para onde?  Eu ainda não me sinto à vontade com muita gente.

- Sair à noite.  Dançar, beber um copo.

- Não.   Nesses locais tem muita gente ruim.

- Em todo o lado há bons e maus, Juliette.  Tu precisas de retomar a tua vida.  Conviver com gente.  Já viste que só convives comigo?

- Se eu estiver a atrapalhar a tua vida diz, Alice.  Eu não quero isso.

- Vês como tu és?  Quem falou que atrapalhas?  Eu só gostava de ter a minha amiga de antigamente.   A divertida, a bagaceira, a doida Juliette.

- Essa não existe mais.  Morreu faz tempo.  Sou uma nova versão da Juliette.

- Não sei se gosto muito desta nova versão, mas é a que temos.
À praia.  Podemos ir à praia no final de semana?

- Sim.  À praia, cinema, almoçar, fazer compras, comer besteiras, podemos sim.

Terminaram de jantar e Juliette fez café.  Tinha preparado um bolo de uma receita de caderno da sua mãe.

Serviu duas chávenas de café, cortou dois pedaços de bolo e colocou-os no tabuleiro para levar para a sala.  Alice reparou que Juliette tinha os olhos rasos de lágrimas.

Abraçou-a antes de perguntar o porquê das lágrimas.

- Recordei a porrada que levei quando pedia café e lembrei-me da primeira vez que bebi lá na clínica.  Foi no primeiro dia.  O doutor mandou buscar café e bolo para mim.

- Vês que nem todo o mundo é ruim.  Há pessoas boas e que gostam de ti.  E vês que é bom continuares a ir às consultas?  O passado é passado e deve ficar lá atrás.

- Não tem como eu esquecer tudo.  Ainda está muito presente.  As feridas ainda estão abertas.

- Eu sei amiga.  Não quero que fiques triste.  Queres que eu durma cá?

- Claro.  A esta horas querias ir onde?

- Só se amanhã me emprestares roupa para eu ir trabalhar.

- Empresto sim. 

- Este bolo está uma delícia.

- Podes guardar um pedaço para comeres amanhã no trabalho.

- Dois pedaços.   Um para mim e outro para o doutor.

Juliette encolheu os ombros e não respondeu.  Seleccionou um filme e deu play.

Livre para sentir Saudade.Onde histórias criam vida. Descubra agora