Juliette estava em casa a pensar na vida. Tinha acabado de vir do banco onde foi saber a realidade sobre a sua situação financeira.
Júlio tinha zerado a conta à ordem. Restavam-lhe todas as aplicações que existiam feitas ainda pelos seus pais.
Era por isso que ele precisava da assinatura dela.
Sobre o património imobiliário nada foi alterado. Juliette possuía alguns imóveis que lhe garantiam uma boa renda mensal.Faz um mês que ela deixou a clínica. Encontra-se com Alice com muita frequência, mas nunca mais viu nem falou com o doutor Rodolffo.
Nesse dia tinham combinado encontrar-se depois de Alice sair do trabalho. Juliette preparou o jantar e aguardava a chegada da amiga que demorou um pouco mais que a hora combinada.
- Desculpa, Juliette. Atrasei-me com o jantar do doutor.
- Como ele está?
- Está bem. Mandou dizer-te que não deves abandonar as consultas. Se não quiseres consultar-te com ele, ele indica-te um colega.
- Porque é que eu deveria trocar?
- Não sei. Ele diz que nunca mais falaste com ele e ele nem tem o teu número.
- Pedia-te a ti.
- Não pediu e eu também não dei. Esse bloqueio com as pessoas, tu é que tens que resolver.
- Que bloqueio, Alice?
- Tu percebeste muito bem, Juliette. Não afastes quem gosta de ti e sofre por ti.
- Vamos jantar.
- Vamos sim. No fim de semana vamos sair?
- Para onde? Eu ainda não me sinto à vontade com muita gente.
- Sair à noite. Dançar, beber um copo.
- Não. Nesses locais tem muita gente ruim.
- Em todo o lado há bons e maus, Juliette. Tu precisas de retomar a tua vida. Conviver com gente. Já viste que só convives comigo?
- Se eu estiver a atrapalhar a tua vida diz, Alice. Eu não quero isso.
- Vês como tu és? Quem falou que atrapalhas? Eu só gostava de ter a minha amiga de antigamente. A divertida, a bagaceira, a doida Juliette.
- Essa não existe mais. Morreu faz tempo. Sou uma nova versão da Juliette.
- Não sei se gosto muito desta nova versão, mas é a que temos.
À praia. Podemos ir à praia no final de semana?- Sim. À praia, cinema, almoçar, fazer compras, comer besteiras, podemos sim.
Terminaram de jantar e Juliette fez café. Tinha preparado um bolo de uma receita de caderno da sua mãe.
Serviu duas chávenas de café, cortou dois pedaços de bolo e colocou-os no tabuleiro para levar para a sala. Alice reparou que Juliette tinha os olhos rasos de lágrimas.
Abraçou-a antes de perguntar o porquê das lágrimas.
- Recordei a porrada que levei quando pedia café e lembrei-me da primeira vez que bebi lá na clínica. Foi no primeiro dia. O doutor mandou buscar café e bolo para mim.
- Vês que nem todo o mundo é ruim. Há pessoas boas e que gostam de ti. E vês que é bom continuares a ir às consultas? O passado é passado e deve ficar lá atrás.
- Não tem como eu esquecer tudo. Ainda está muito presente. As feridas ainda estão abertas.
- Eu sei amiga. Não quero que fiques triste. Queres que eu durma cá?
- Claro. A esta horas querias ir onde?
- Só se amanhã me emprestares roupa para eu ir trabalhar.
- Empresto sim.
- Este bolo está uma delícia.
- Podes guardar um pedaço para comeres amanhã no trabalho.
- Dois pedaços. Um para mim e outro para o doutor.
Juliette encolheu os ombros e não respondeu. Seleccionou um filme e deu play.
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Livre para sentir Saudade.
FanficSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.