- Que casa linda, Alice.
- Eu também acho. Tu gostaste?
- Amei. O doutor vive aqui sózinho?
- Faz dez anos que eu trabalho para ele, nunca vi mulherada por aqui.
- Ué! Quer dizer que ele nunca namorou?
- Se namorou, não era sério porque nenhuma teve o privilégio de entrar aqui. Eu sei que alguns dias ele ligava para avisar que não vinha jantar, mas isso faz tempo.
- E está a fazer obras? Eu vejo ali naquele quarto tudo bagunçado.
- Vamos remodelar. Devem chegar hóspedes por esses dias.
- Hóspedes?
- Sim. Só não sei quem é.
- Será que é namorada?
- Se fosse namorada ia para o quarto dele, não achas?
- É tens razão.
- Vamos almoçar. Vem ajudar-me com a mesa.
Aparentemente Juliette estava bem tranquila. Durante o almoço contou sobre o jantar que teve com Rodolffo em sua casa e de como se sentiu bem do lado dele.
- Vês como nem todo o mundo é igual? Ele é um amor de pessoa. A mulher que o levar será uma sortuda.
Ouviram a porta e Rodolffo entrou de rompante.
- Almoço de amigas? Porque não fui convidado?
- Chegou na hora do café. Já é alguma coisa.
- Como estás, Juliette?
- Estou muito bem. Com a Alice estou sempre bem.
- E comigo?
- Também me sinto bem.
- Óptimo, porque tenho um assunto sério para conversar contigo.
Juliette olhou para ele e mudou imediatamente a expressão.
- Alice, vamos para o jardim. Traz o café para os três.
O dia não estava muito quente. O sol era quente, mas soprava uma leve brisa que refrescava o ar. Sentaram-se os três nos cadeiras à volta de uma mesa.
- Juliette! Tudo o que eu disser agora, quero que penses que foi feito para teu bem. Em momento algum eu quis invadir a tua intimidade. Foi apenas no intuito de ajudar.
- O que foi? - questionou ela e pelo movimento das mãos, Rodolffo notou algum nervosismo.
- Sabes o teu caderno que começaste a escrever na clínica? Eu li o princípio.
- Não tinha esse direito. Eram coisas minhas.
- Eu sei, mas foi necessário e ainda bem que o li. Lá estava escrito que no dia em que foste para o hospital depois de caíres, ouviste risos e um choro de bébé.
- Sim. Eu ouvi. Porquê?
- Por causa disso, eu e o Alexandre fomos atrás desse choro e descobrimos... - Rodolffo engoliu em seco e depois tomou um pouco de àgua.
- O que descobriram? Eu estou a sentir-me mal.
- Respira. Bebe àgua e respira.
- Fala Rodolffo. O que descobriram?
- O teu bébé está vivo. Aquela gente lá da casa de repouso roubaram o teu bébé.
Juliette desatou a chorar compulsivamente. Alice abraçava-a e Rodolffo segurou-lhe nas mãos.
- Eu quero ele. Onde está o meu filho?
- Calma. Alice, vai buscar um dos calmantes que eu deixei em cima da mesa. Vais tomar um só para ficares menos ansiosa.
- Eu faço tudo, só quero o meu menino.
- E vais tê-lo. Nós vamos buscá-lo juntos, mas primeiro temos que resolver outras coisas.
- Tu viste-o Rodolffo. Como é ele?
- Não vi ainda.
- Como sabes que é o meu bébé?
Eles confessaram?- Sim. O Júlio confessou, mas eu mandei fazer o teste de DNA. Não há dúvidas.
Embora chorosa, Juliette estava mais calma depois do comprimido.
Rodolffo contou tudo até ao teste de paternidade e do pedido para retirar a criança da instituição.
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Livre para sentir Saudade.
Fiksi PenggemarSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.