Capítulo 21

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Faz exactamente uma semana que todos os dias eu tenho sacrificado a minha hora de almoço para ir com Juliette visitar o Tomás.   O quarto lá em casa está pronto para os receber e esse dia chegou.

Alexandre disse-me ontem que está com a guarda do menino na sua posse e hoje vai ter connosco à instituição.   Juliette não sabe nem sonha que hoje é a última visita ali.  A partir de agora ela terá o seu menino com ela.

- Almoçaste Rodolffo?  Não, como habitualmente.

- Comi um lanche num dos intervalos.  Depois como melhor.

- Não vejo a hora disto terminar.  Estou a prejudicar a tua saúde.

- Não estás nada.  E está quase.  Vês ali o Alexandre?  É hoje o grande dia.

- Hoje já posso levá-lo?

- Já.  Hoje o meu afilhado já dorme na casa do padrinho.

Sem demonstrar muito, Rodolffo já estava apaixonado pelo Tomás.   No quarto dele havia imensas sacolas com brinquedos.  Alice viu-as, mas não mencionou nada.

Depois da burocracia estar tratada, Juliette e Rodolffo saíram com Tomás em direcção a casa.  Alexandre saiu atrás deles e segui-os no seu carro.  Tinha algumas novidades que queria transmitir-lhes.

Primeiro pensou em falar apenas com Rodolffo,  mas decidiu que já era hora de Juliette ser confrontada directamente com a realidade.

- O que aconteceu Alexandre?  O que vem aí de novo?

- É sobre o Tomás.   Quando pedi a documentação dele disseram-me que não havia.

- Como não havia?  O pai não registou o filho?

- Ai é que está.  Como recebi essa resposta fui averiguar e cheguei à fala com o Júlio.   De facto ele não registou a criança e o motivo chocará a todos, tenho a certeza.

"Assim que fizesse um ano, o Tomás deveria ser entregue a uma família estrangeira americana que já tinha em seu poder os documentos com a nacionalidade americana.  Foram eles inclusive que escolheram o nome Tomás.   Na verdade é Thomas, mas todo o mundo fala Tomás".

- Ele vendeu o filho?

- Na verdade quem tratou de tudo foi a Maria,  mas ele ajudou e recebeu dinheiro por isso.
Se não o tivéssemos encontrado, hoje seria tarde demais.
Precisamos tratar do registo dele logo.  Juliette,  se quiseres podes até trocar o nome dele.

- E posso não colocar o nome do pai?  Eu não quero o nome daquele homem no meu filho.

- Acho que não.   Ele tem que ter pai.  Vou saber isso.

Juliette chorava enquanto ninava a criança que dormia nos seus braços.

- Quantas atrocidades esses animais cometeram?  Espero que apodrecem na prisão porque cá fora vão ter uma vida bem difícil.

- Não vão sair tão cedo.  Creio que todos eles vão apanhar muitos anos de prisão.

- Juliette,  vai deitar o menino na cama.  Lá estará mais confortável.

- Deixa eu ficar assim, Rodolffo.   Deixa eu aproveitar o meu príncipe um pouco.

- Está bem.  Fica à vontade.

Alexandre foi embora.  Alice estava entretida nos seus afazeres.
Juliette estava sentada no sofá com o Tomás a dormir no colo e Rodolffo olhava para os dois com o coração cheio de amor.

Se voltasse atrás faria tudo de novo, - pensou.  Nada supera a felicidade de ver uma mãe com o seu filho nos braços.

- O que foi, Rodolffo?

- Adoro o que vejo à minha frente.  Espero que sejas feliz aqui.  Que sejam felizes os dois.

- Os três,  padrinho.  Os três.

Os dois sorriram um para o outro.  Esperemos que reine a paz a partir de agora.

Livre para sentir Saudade.Onde histórias criam vida. Descubra agora