Faz exactamente uma semana que todos os dias eu tenho sacrificado a minha hora de almoço para ir com Juliette visitar o Tomás. O quarto lá em casa está pronto para os receber e esse dia chegou.
Alexandre disse-me ontem que está com a guarda do menino na sua posse e hoje vai ter connosco à instituição. Juliette não sabe nem sonha que hoje é a última visita ali. A partir de agora ela terá o seu menino com ela.
- Almoçaste Rodolffo? Não, como habitualmente.
- Comi um lanche num dos intervalos. Depois como melhor.
- Não vejo a hora disto terminar. Estou a prejudicar a tua saúde.
- Não estás nada. E está quase. Vês ali o Alexandre? É hoje o grande dia.
- Hoje já posso levá-lo?
- Já. Hoje o meu afilhado já dorme na casa do padrinho.
Sem demonstrar muito, Rodolffo já estava apaixonado pelo Tomás. No quarto dele havia imensas sacolas com brinquedos. Alice viu-as, mas não mencionou nada.
Depois da burocracia estar tratada, Juliette e Rodolffo saíram com Tomás em direcção a casa. Alexandre saiu atrás deles e segui-os no seu carro. Tinha algumas novidades que queria transmitir-lhes.
Primeiro pensou em falar apenas com Rodolffo, mas decidiu que já era hora de Juliette ser confrontada directamente com a realidade.
- O que aconteceu Alexandre? O que vem aí de novo?
- É sobre o Tomás. Quando pedi a documentação dele disseram-me que não havia.
- Como não havia? O pai não registou o filho?
- Ai é que está. Como recebi essa resposta fui averiguar e cheguei à fala com o Júlio. De facto ele não registou a criança e o motivo chocará a todos, tenho a certeza.
"Assim que fizesse um ano, o Tomás deveria ser entregue a uma família estrangeira americana que já tinha em seu poder os documentos com a nacionalidade americana. Foram eles inclusive que escolheram o nome Tomás. Na verdade é Thomas, mas todo o mundo fala Tomás".
- Ele vendeu o filho?
- Na verdade quem tratou de tudo foi a Maria, mas ele ajudou e recebeu dinheiro por isso.
Se não o tivéssemos encontrado, hoje seria tarde demais.
Precisamos tratar do registo dele logo. Juliette, se quiseres podes até trocar o nome dele.- E posso não colocar o nome do pai? Eu não quero o nome daquele homem no meu filho.
- Acho que não. Ele tem que ter pai. Vou saber isso.
Juliette chorava enquanto ninava a criança que dormia nos seus braços.
- Quantas atrocidades esses animais cometeram? Espero que apodrecem na prisão porque cá fora vão ter uma vida bem difícil.
- Não vão sair tão cedo. Creio que todos eles vão apanhar muitos anos de prisão.
- Juliette, vai deitar o menino na cama. Lá estará mais confortável.
- Deixa eu ficar assim, Rodolffo. Deixa eu aproveitar o meu príncipe um pouco.
- Está bem. Fica à vontade.
Alexandre foi embora. Alice estava entretida nos seus afazeres.
Juliette estava sentada no sofá com o Tomás a dormir no colo e Rodolffo olhava para os dois com o coração cheio de amor.Se voltasse atrás faria tudo de novo, - pensou. Nada supera a felicidade de ver uma mãe com o seu filho nos braços.
- O que foi, Rodolffo?
- Adoro o que vejo à minha frente. Espero que sejas feliz aqui. Que sejam felizes os dois.
- Os três, padrinho. Os três.
Os dois sorriram um para o outro. Esperemos que reine a paz a partir de agora.
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Livre para sentir Saudade.
FanfictionSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.