Capítulo 43

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Dois meses depois

Juliette conforme prometeu, voltou a fazer terapia. Desta vez não recorreu à dra. Raquel. Procurou uma terapeuta particular e estava satisfeita com ela.

As coisas com Rodolffo estavam nem quente nem frio. Ele estava presente quando era necessário, principalmente em relação às crianças, mas fora disso a interacção deles passava por um bom dia, boa noite, uns beijos rápidos e só.

- Rodolffo, este final de semana podíamos fazer uma viagem.

- A Caetana ainda é muito pequena e não estou com espírito para viagens.

- Porquê? Porque estás tão frio comigo?

- Lembras-te das palavras que gritaste no parto? Eu recordo-te pois não esqueci.

- Além de me acusares de estar cogitando desaparecer com a nossa filha ainda gritaste para todos ouvirem

"Deixa-me. Quero sentir-me livre".

- Pensei que tínhamos passado essa fase. Eu pedi perdão pelo que disse.

- Vivemos na mesma casa, mas somos livres de fazer o que quisermos das nossas vidas.

- Eu quero a nossa vida de volta. Eu estou bem e tenho saudades tuas. Acho que neste momento precisas mais de terapia do que eu.

- Eu já faço terapia faz tempo.

- Não sabia. Já nem conversamos mais. Somos dois estranhos na mesma casa e eu não quero isso.

- Queres fazer o quê?

- Resolver isto de uma vez. Ou ficamos juntos ou separados. Assim não quero ficar. Não quero que os meus filhos cresçam com esta indiferença.

- Neste momento eu não sei ser de outro jeito.

- Existe mais alguém, Rodolffo? Podes ser sincero. Eu prefiro ouvir da tua boca.

- Não existe ninguém.

- Então porque não consegues perdoar-me?

- Porque doeu muito e eu também tenho as minhas vulnerabilidades.

- Vês, mais um motivo para me compreenderes melhor.
Eu estou bem. Desde o nascimento da Caetana nunca mais tive os pesadelos.

- Eu vou arranjar um apartamento aqui perto e vou mudar-me, mas não te vou abandonar nem às crianças.

- Sê sincero. Já não me amas?

- Amo-te muito, mas é necessário.

- Ok. Faz como quiseres. Avisa-me quando mudares para decidirmos os dias em que podes estar com as crianças.

- Como assim? Eu quero estar com as crianças sempre que quiser.

- Não. No dia em que saíres, um juiz vai decretar o dia das visitas.

- Isso é para me castigares? Ainda mais?

- Tal como estás a fazer comigo neste momento. Na minha pior fase aguentaste tudo, e agora? Porquê isto?

Rodolffo estava sentado na mesa da cozinha. Juliette terminava o jantar que Alice tinha adiantado.

Colocou o prato na frente dele e arrumou o restante.

- Não vais jantar?

- Como depois. Janta nas calmas que ninguém te vai incomodar. Vou ficar com as crianças.

Juliette arrumou a cama do quarto do Tomás e levou para lá o travesseiro de Rodolffo. Quando ele subiu ela indicou-lhe onde deveria dormir. Ele encolheu os ombros e entrou no quarto.

Tomás ficou contente pelo pai dormir com ele, mas Rodolffo não conseguiu pregar olho.

Juliette por seu lado, desceu e apenas bebeu um copo de leite. Deitou-se e chorou durante um bom período de tempo.
Lá atrás ela entenderia esta atitude dele, mas passado tanto tempo?

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