Dois meses depois
Juliette conforme prometeu, voltou a fazer terapia. Desta vez não recorreu à dra. Raquel. Procurou uma terapeuta particular e estava satisfeita com ela.
As coisas com Rodolffo estavam nem quente nem frio. Ele estava presente quando era necessário, principalmente em relação às crianças, mas fora disso a interacção deles passava por um bom dia, boa noite, uns beijos rápidos e só.
- Rodolffo, este final de semana podíamos fazer uma viagem.
- A Caetana ainda é muito pequena e não estou com espírito para viagens.
- Porquê? Porque estás tão frio comigo?
- Lembras-te das palavras que gritaste no parto? Eu recordo-te pois não esqueci.
- Além de me acusares de estar cogitando desaparecer com a nossa filha ainda gritaste para todos ouvirem
"Deixa-me. Quero sentir-me livre".
- Pensei que tínhamos passado essa fase. Eu pedi perdão pelo que disse.
- Vivemos na mesma casa, mas somos livres de fazer o que quisermos das nossas vidas.
- Eu quero a nossa vida de volta. Eu estou bem e tenho saudades tuas. Acho que neste momento precisas mais de terapia do que eu.
- Eu já faço terapia faz tempo.
- Não sabia. Já nem conversamos mais. Somos dois estranhos na mesma casa e eu não quero isso.
- Queres fazer o quê?
- Resolver isto de uma vez. Ou ficamos juntos ou separados. Assim não quero ficar. Não quero que os meus filhos cresçam com esta indiferença.
- Neste momento eu não sei ser de outro jeito.
- Existe mais alguém, Rodolffo? Podes ser sincero. Eu prefiro ouvir da tua boca.
- Não existe ninguém.
- Então porque não consegues perdoar-me?
- Porque doeu muito e eu também tenho as minhas vulnerabilidades.
- Vês, mais um motivo para me compreenderes melhor.
Eu estou bem. Desde o nascimento da Caetana nunca mais tive os pesadelos.- Eu vou arranjar um apartamento aqui perto e vou mudar-me, mas não te vou abandonar nem às crianças.
- Sê sincero. Já não me amas?
- Amo-te muito, mas é necessário.
- Ok. Faz como quiseres. Avisa-me quando mudares para decidirmos os dias em que podes estar com as crianças.
- Como assim? Eu quero estar com as crianças sempre que quiser.
- Não. No dia em que saíres, um juiz vai decretar o dia das visitas.
- Isso é para me castigares? Ainda mais?
- Tal como estás a fazer comigo neste momento. Na minha pior fase aguentaste tudo, e agora? Porquê isto?
Rodolffo estava sentado na mesa da cozinha. Juliette terminava o jantar que Alice tinha adiantado.
Colocou o prato na frente dele e arrumou o restante.
- Não vais jantar?
- Como depois. Janta nas calmas que ninguém te vai incomodar. Vou ficar com as crianças.
Juliette arrumou a cama do quarto do Tomás e levou para lá o travesseiro de Rodolffo. Quando ele subiu ela indicou-lhe onde deveria dormir. Ele encolheu os ombros e entrou no quarto.
Tomás ficou contente pelo pai dormir com ele, mas Rodolffo não conseguiu pregar olho.
Juliette por seu lado, desceu e apenas bebeu um copo de leite. Deitou-se e chorou durante um bom período de tempo.
Lá atrás ela entenderia esta atitude dele, mas passado tanto tempo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Livre para sentir Saudade.
FanfictionSaudade Palavra com um sentido enorme. Sentimento que cabe no peito. Sensação de partida e também chegada. Temos de quem está longe, mas por vezes de quem está perto também. Olhei para trás e conclui que só queria ser livre para sentir Saudade.