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CHARLES LECLERC


Quebrado.

Era assim que eu me encontrava no momento. A dor parecia estar dilacerando meu coração.

- Pode dizer novamente onde estava quando tudo aconteceu? — O policial do hospital veio a perguntar e suspirei brevemente.

- Sim. Estava voltando da Áustria para Mônaco. — Respondi e molhei os lábios antes de continuar. - Sou piloto da Ferrari e estava correndo pela equipe no grand prix austríaco.

Tudo isso era ridículo e soava irreal para mim. Estava respondendo pela terceira vez as mesmas perguntas. Jamais machucaria Madelyn e estive falando a verdade desde o início: Não tive relação alguma com o seu acidente e estava tão surpreso quanto toda a equipe médica por ela não se lembrar de mim.

Surpreso ainda era um eufemismo. A dor que eu sentia era tanta que parecia estar se tornando em algo físico. Quando vi o medo transparecer em seus olhos ao tentar me aproximar foi como uma facada em meu peito.

- Por que a garota demonstrou pavor ao ver você? — A mesma pergunta voltou a ser feita e joguei meu corpo para trás na cadeira.

- Honestamente? Eu não sei. Madelyn parecia estar assustada desde quando abriu os olhos. — Falei e neguei com a cabeça. - Ela claramente está com algum quadro de perda de memória! Isso é ridículo. Jamais a machucaria. Namoramos tem praticamente 1 ano e moramos juntos há pouco de 6 meses.

O policial a minha frente apenas voltou a assentir com a cabeça e dei um suspiro pesado. Minha cabeça estava latejando de dor e meu corpo pedia por descanso. Fazia pouco mais de 7 dias que não dormia direito, levando em consideração a race week, e esses últimos dois dias em que Madelyn esteve apagada foi um completo caos. Mal consegui fechar meus olhos, se cochilei por 5 minutos ainda foi muito. Minha preocupação com minha namorada era maior do que qualquer outra coisa.

Duas batidas na porta e em seguida ela foi aberta. Me virei para atrás e encontrei Maelle. Fiquei um pouco mais feliz e respirei mais aliviado. Maelle como irmã mais velha de Madelyn estava tão preocupada quanto eu, largou tudo em Londres quando a liguei e veio o mais rápido que pode para Mônaco.

- Como ela está? — Perguntei a Maelle e me levantei. - Estou liberado ou preciso responder mais alguma coisa?

A revirada de olhos foi inevitável. Ainda não estava acreditando que era o principal suspeito por todo o que aconteceu. Estive fora do país por mais de 10 dias. Não fazia o menor sentido.

- Vamos entrar em contato com seu advogado e analisar o que nos foi dito. — Ele veio a falar e dei uma risada sem graça. - São protocolos que precisamos seguir para a segurança de Madelyn.

- Tenho certeza que Charles não fez nada. — Maelle falou os olhando e sai daquela sala. Já estava começando a ficar com falta de ar de estar ali. - Ainda não acredito que foi interrogado...

- Como ela está? — Voltei a perguntar meio desesperado. Talvez Maelle teve mais sorte do que eu.

- Madelyn está bem na medida do possível, ela não se lembra de algumas coisas... inclusive a morte de nosso pai. — Maelle disparou e me escorei na parede atrás de mim. - Acha que ainda tem 21 anos e que está no último na faculdade. Sua mente retrocedeu há 1 ano, não se lembra de absolutamente nada que viveu durante esse período.

Meus olhos se fecharam com força e passei a mão no rosto. Sabia o que isso significava. Madelyn não devia ter memória alguma sobre mim. Sobre nós. Sobre o que construímos juntos.

- Sinto muito. — Ela retornou a falar parecendo sentir mesmo e passou a mão em meu ombro. - Conversamos poucas coisas. Ela não se recorda do que aconteceu e nem sabe como veio parar aqui, e...

- Não fiz nada. — Me defendi antes mesmo que Maelle pudesse dizer alguma coisa. - Quando cheguei já a encontrei caída próxima a escada e com alguns cortes saindo sangue. Já estava inconsciente quando liguei para emergência.

- Desculpe. Não quis insinuar algo assim. — Sua voz saiu mais suave dessa vez. - Mostrei algumas fotos de vocês na tentativa de refrescar sua memória, mas ela apenas parecia incrédula demais.

Vim a me sentar na cadeira de espera atrás de mim e apoiei meus cotovelos em minha perna, vindo a por meu rosto entre minhas mãos. Não sabia como deveria agir diante de uma situação como essa. Nunca me passou pela cabeça que do dia para a noite minha namorada perderia a memória e passaria a querer me manter afastado. Toda a situação ainda parecia inaceitável demais.

- O que vamos fazer? — Questiono Maelle, que veio a sentar-se ao meu lado. - Madelyn estará em observação pelos próximos dois dias e depois disso se continuar como está será liberada. O médico disse que a memória tende a voltar com o passar dos dias, semanas ou meses.

Dei um sorriso triste. Sabia que isso afetaria minha vida para sempre.

- Vamos ter que ajudar ela a se readaptar. Ela não se lembra de você, o que torna a situação mais difícil... mas vamos dar um jeito. — Maelle falou me olhando e sorriu apertando meu ombro. - Vou ter que voltar para Londres em três dias, mas eu vou voltar o mais rápido possível para cá.

- Vai levar Madelyn com você? — Perguntei e minha voz saiu meio trêmula. Estava acostumado com sua presença. - Posso ir fazer as malas dela agora.

- Eu não sei. Se ela quiser ir não vou conseguir impedir ela. — Ela disse virando o olhar para mim e negou com a cabeça. - Não se preocupe com isso agora, ela tem uma vida aqui, não vai poder abandonar tudo.

- Não acho que vai querer ficar comigo. — Minhas palavras saíram mais duas do que achei que fossem sair. - Tudo o que ela sentiu ao me ver foi medo.

Queria poder tentar conversar com Madelyn mais uma vez, mas não queria piorar as coisas. Sabia que ela estava confusa.

- É normal, ela não sabia  onde estava e o que estava acontecendo, mas vai ficar tudo bem, Charles. — Ela disse e senti suas mãos em minhas costas, estava tentando me confortar de alguma forma.

- É. — Falei e forcei um sorriso. Não queria a preocupar.

Tudo o que eu mais queria fazer era no momento era correr em direção ao quarto que Madelyn e a abraçar e dizer que tudo ficaria bem. Mas sabia que não seria uma ideia tão boa assim, então apenas me contive. Precisava a deixar colocar a mente no lugar.

[...]

é culpado ou não é? 🤫

traces of love | charles leclerc Onde histórias criam vida. Descubra agora