012

761 69 37
                                    

MADELYN LAURENT

  Meus olhos se encontram com os de Charles do outro lado da mesa e no mesmo momento desvio o olhar. Ainda não sabia direito como olhar para ele. Venho a dar mais uma garfada no macarrão que estava em meu prato e dou um suspiro, estava tão gostoso. Nisso Charles era bom.

Levanto meu olhar para Charles novamente e vejo que estava me encarando, então semicerro os olhos e o de olhos verdes que da um sorriso fraco. Tinha sido assim o jantar todo. Se tínhamos trocado dez palavras era muito. Não sabia como iniciar uma conversa e ele também não iniciou dessa vez, então estava de mãos atadas.

Ouço um barulho de talheres e vejo Charles afastando seu prato, tinha terminado de comer. Então faço o mesmo com o meu e tomo um pouco do suco que estava em meu copo.

- Acho que vou me deitar. — Ele falou prestes a se levantar.

- Espera! Vamos conversar, queria te fazer algumas perguntas. — Falei o olhando engoli em seco.

- Que tipo de perguntas? Pode fazer, sou um livro aberto. — Ele falou se acomodando na cadeira novamente e manteve seu olhar em mim.

- Aonde você estava hoje pela manhã? — Vim a perguntar e o ouvi dar um suspiro alto.

- Resolvendo algumas coisas. — Ele respondeu dando de ombros e apoiou os braços na mesa.

Assenti com a cabeça e continuei o olhando. Seu olhos verdes pareciam estarem mais verdes do que o normal.

- Você já me traiu? — Perguntei e ele franziu as sobrancelhas. Por mais que eu soubesse que jamais perdoaria uma trairia.

- Não. Nunca faria isso. — Ele falou de uma forma séria e fez uma careta em seguida. - Sei que não se lembra, mas uma pergunta dessas me ofende.

- Quando foi nosso primeiro beijo? — Perguntei novamente e um sorriso apareceu em seus lábios, só então vim a reparar que tinha covinhas enormes.

- Três semana depois que nos conhecemos, estávamos bebados em uma festa e você me beijou. — Ele disse ainda com um sorriso, acho que era uma boa memória para ele.

Honestamente, não parece ser algo no qual eu faria. Mas acredito que Charles não tinha motivos para mentir sobre isso.

Queria saber sobre nós dois para tentar de alguma forma me lembrar.

Não aguentava mais o espaço em branco que vinha ocupando minha mente.

- Como foi... você sabe. — Murmurei sem saber ao certo como perguntar e um sorriso de lado apareceu em seus lábios.

- Não vou te contar, um dia você vai descobrir. — Ele falou sorrindo de lado e eu o olhei incrédula.

- Eu estava bêbada?! — Disparei o olhando com meus olhos arregalados e ele veio a negar com a cabeça rapidamente.

- Não faria nada com você bebada, é algo que está fora de cogitação. — Ele deu de ombros e se levantou. - Estou ficando cansado, podemos terminar o interrogatório no quarto?

- Não vou dormir com você. — Falei me precavendo antes mesmo que Charles tivesse a chance de pedir. Não me sentia confortável.

- Tudo bem, se é isso que você quer. — Ele soltou um suspiro e deu de ombros.

Charles voltou a se sentar onde estava antes e acabou bocejando. Parecia estar mesmo bem cansado.

- Como era a sua relação com meu pai? — Perguntei e sua atenção se voltou toda para mim.

- Madelyn, eu estou cansado.. vamos terminar isso outro dia. — Ele falou e coçou a garganta em seguida. Seu olhar se desviou o olhar e se levantou no mesmo segundo. - Quer que eu te ajude a voltar para o quarto?

Franzi as sobrancelhas e neguei com a cabeça. Era uma pergunta importante. Queria saber como meu pai se sentia em relação a Charles, já que eu não podia saber a opinião dele por conta própria.

- Vocês eram amigos? — Voltei a perguntar mais vez e ele passou as mãos no rosto, me deixando confusa.

- Eu vou dormir, Madelyn. Estou cansado demais para isso. — Ele respondeu ainda sem me olhar e caminhou até a escada. - Tem certeza que não quer ajuda até o quarto?

- Está cansado demais para responder uma pergunta mas não para me ajudar a chegar até o quarto?! — Perguntei o olhando incrédula e neguei com a cabeça.

Eu queria falar sobre isso. Não sabia o porquê de parecer evitar uma pergunta tão simples como essa.

- Uma resposta não salva a sua vida. Eu te ajudar a subir a escada pode ser que salve, caso você quase caia de novo. — Ele respondeu dando um suspiro pesado, e se virou para mim de novo. - Vamos subir logo, não quero que acabe se machucando.

Neguei com a cabeça. Estava mesmo evitando minha pergunta. Não queria tocar no assunto e isso me deixou desconfiada. Deveria ter algum motivo.

Será que eles não eram os melhores dos amigos?

- Não quero. — Falei o olhando e cruzando meus braços. - Vou limpar a cozinha e mais tarde eu subo.

- Não deveria nem estar aqui embaixo, mas eu cedi as suas vontades deixando que saísse do repouso. — Charles disse se apoiando na escada e levou uma das mãos até a testa, negando com a cabeça. - Quando voltarmos ao médico vou falar que não fez repouso algum e vão te manter lá para que fique de repouso.

Não podia acreditar no que estava ouvindo. Não era como se eu estivesse indo para festas ou algo do tipo.

- E eu vou falar que omitiu informações. Afinal, eu deveria estar com minha irmã. — Vim a falar dando um breve ênfase na palavra que referia se Maelle, que no momento estava com o namorado.

- Eu já te falei várias vezes que não está presa aqui, se quer ir ficar com a Maelle, pode ir ficar com ela. — Charles falou com um tom sério e seus olhos pareciam encarar até minha alma. - Desde que voltou para cá tem me tratado mal e com indiferença. Não vou implorar para ficar aqui se não quiser.

Apenas continuei o olhando por longos segundos e molhei meus lábios antes de falar.

- Ótimo. Amanhã eu vou para minha casa. — Vim a falar e Charles apenas virou as costas para mim, passando a subir as escadas.

Dei um suspiro frustrado apoiando meu rosto em minhas mãos e fechei meus olhos com força. Cada vez que as coisas pareciam estarem melhorando um pouco rapidamente voltavam a estaca zero.

Queria ligar para Maelle e pedir que retornasse para o apartamento. Precisava dela e nos últimos dias esteve mais fora do que aqui.

Para ser honesta, vinha me sentindo sozinha mesmo ao lado de minha irmã. Me sentia cada vez mais triste e pensar em meu pai, o que eu estava tentando não fazer, não vinha ajudando.

Sei que ele estaria aqui ao meu lado caso ainda estivesse vivo. Meu pai sempre foi um bom homem e exemplo de ser humano, não sabia porque Charles parecia evitar tocar no assunto, já que não era algo no qual me incomodava. Falar sobre meu pai de alguma forma me fazia se sentir mais próxima dele.

Mesmo que não fosse de uma forma física.

[...]

pega fogo o cabaré

traces of love | charles leclerc Onde histórias criam vida. Descubra agora