Hopeless

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Marco Reus

Meus passos são lentos e arrastados, caminho mancando, corpo enfraquecido ainda latejando com uma dor aguda. Meu nariz não para de respingar sangue por onde quer que eu passe. A ardência dos ferimentos está me agonizando, essa dor não está aliviando, não sei por quanto tempo conseguirei me manter de pé.

Não tenho um destino em mente, sigo sem rumo definitivo, perdido nos confins da cidade... O céu está encoberto por uma camada de densas nuvens cinzentas, prenunciando uma chuva iminente.

Escuto os ventos uivarem, atormentando tudo o que há em seu caminho, refletindo o meu estado de espírito conturbado e traído... Não consigo tirar o gosto amargo da derrota de minha boca.

Só preciso continuar de pé e consciente... Essa dor está me matando, mas não posso ser encontrado por nenhum desses poloneses.

De repente, o som de um sino quebra o silêncio da tarde, o toque é grave e solene, ressoando através das ruas vazias e ecoando em meus ouvidos. Intrigado, sigo o som, atraído por sua melancolia.

Chego a uma pequena igreja de pedra, as portas abertas revelando um interior iluminado por velas. Do lado de fora, um grupo de pessoas está reunido ao redor de um caixão. O funeral está em andamento, e apenas o sacerdote fala enquanto faz a sua oração, a voz firme e compassiva, repleta de reverência.

Pétalas de rosas estão espalhadas por todo canto. Mantenho-me à distância, observando em silêncio. O cheiro das rosas, doce e suave, mistura-se com o aroma úmido da grama, criando uma sensação agridoce no ar. Os enlutados, todos vestidos de preto, parecem sombras na paisagem cinzenta. Alguns seguram lenços molhados de lágrimas, enquanto outros mantêm as cabeças baixas em uma tristeza resignada. A atmosfera é densa, carregada de pesar, e cada suspiro parece longo e pesado.

Estão sepultando um rapaz, jovem, provavelmente da mesma idade que a minha, cujos sonhos foram interrompidos pela fatalidade inoportuna. A cena me atinge com impacto ainda mais profundo; a dor da perda não é estranha em minha vida, mas enxergo de forma diferente dessa vez.

Assim que o sacerdote pede um minuto de silêncio, o som das primeiras gotas de chuva atinge o chão. A umidade aumenta, sinto as gotas frias molharem a pele de meu rosto ao mesmo tempo em que os ventos úmidos arrastam as folhas secas espalhadas pelas ruas.

A cerimônia prossegue, e eu permaneço ali, uma figura solitária e invisível observando à distância. A mãe se agarra ao caixão, soluçando, enquanto o pai tenta manter a compostura, embora as lágrimas continuem a escorrer de seus olhos. A linha que separa a vida da morte nunca pareceu tão tênue e definitiva...

Escuto o sino tocar novamente, o caixão é lentamente baixado à terra. Lágrimas dos enlutados misturam-se com a chuva constante.

Não o conheci, mal sequer sei seu nome, mas enxergo que não estou intocável ou sequer em uma circunstância tão diferente... Ninguém está isento desse fato.

Estou coberto por um manto de impotência... Se eu tivesse visto dessa forma antes... Com o funeral encerrado, lentamente as pessoas começam a se dispersar, mas as lembranças e momentos distantes sempre as acompanharão.

Por fim, me afasto da cena, os passos pesados e a mente turva, as gotas de chuva escorrendo pelo meu rosto lavando-o das feridas e lágrimas.

Caminho pelas ruas em meio à chuva crescente. As luzes dos prédios se tornam manchas borradas ao horizonte, o barulho constante das gotas batendo no asfalto ecoa. Sinto meu corpo ficar cada vez mais exausto, a dor está grande demais, mas sigo em frente, procurando um lugar para me abrigar temporariamente da chuva.

Após alguns minutos de caminhada, encontro um prédio escuro, algum tipo de clube. O local me parece meio antiquado, mas a promessa de um pouco de calor e bebida me atrai. Empurro a porta pesada e adentro.

Leweus - Fica ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora