Endless Love

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Marco Reus

Ao passar das horas, Robert parece lentamente recuperar a consciência, o polonês lembra das partidas de tênis e futebol que jogamos juntos, mas não muito além disso. Tenho minhas dúvidas se sua consciência está nublada...

— Robert, hey, está tudo bem?

— Ficamos muito tempo brincando de quebra-cabeça. Para que esse esforço todo se vamos desmontar tudo no final?

— Calminha aí, é só um jogo para exercitar a memória. Não dá para ficar jogando só Fifa.

— Afinal, você é algum tipo de professor ou babá?

— Por que você próprio não me responde isso, Robert? Acho que poderia me ajudar a falar sobre quem eu sou.

— Eu... Não consigo lembrar direito...

Fico em silêncio por alguns segundos, desviando o olhar, antes de retornar ao polonês.

— Deixa quieto, vamos só terminar de montar o quebra-cabeça. Depois fazemos outra coisa.

Robert parece adotar um semblante melancólico, sentindo-se culpado por não conseguir recordar os momentos.

(...)

Após terminarmos de montar o quebra-cabeça, permaneço na poltrona da sala, pensativo e com a cabeça abaixada, apoiada nas mãos. Como um homem adulto de vinte e seis anos passa a se comportar feito uma criança?

O tique-taque constante do relógio na parede acompanha a cadência acelerada de meu coração.

A hipótese de o álcool ser o único responsável pela mudança me parece incompleta. A chance de ter Robert feito o uso de algum entorpecente ou substância desconhecida, não é algo que me foge da realidade, mas se usou, qual foi?

Me vejo diante de um quebra-cabeça, um bem mais complexo do que simples castelos ou seres místicos. Um onde cada peça representa um aspecto obscuro da vida do meu namorado.

Será que isso é resultado de alguma ação maliciosa por algum rival ou até mesmo dentro da organização de Robert?

— Marco, o que é isso que você está bebendo? — A voz curiosa de Robert interrompe meus pensamentos enquanto seguro o copo com a bebida azulada em minhas mãos.

— Ah, oi, Robert. É uma bebida que preparei para mim. — Respondo, virando-me para encará-lo enquanto ele se aproxima, curioso.

— Posso dar um gole? — Ele pergunta, os olhos brilhando com interesse diante da cor peculiar do líquido.

— Claro, aqui está. — Entrego o copo para ele, observando enquanto ele toma um gole e faz uma careta leve ao experimentar.

— Hmm, é bom... meio adocicado e aguado. Quantos anos você tem mesmo, Marco? — Sua pergunta é casual, mas sinto um leve ar de confusão em sua expressão infantil.

— Vinte e quatro.

— Ah, entendi... É que eu pensei que os adultos geralmente bebiam álcool, ou você tem algum problema de saúde? — Ele questiona, inclinando a cabeça com curiosidade.

— Boa parte deles bebem, mas acontece que não toco em álcool há anos. — Respondo com sinceridade, sentindo o peso das lembranças do passado. — É uma escolha que fiz, aliás preciso me manter em forma e saudável.

— Entendi, mas sabe... Queria ir tomar um sorvete, daqueles com a calda de chocolate. — A mudança abrupta de assunto me pega de surpresa.

— Beleza, vá se arrumar no quarto, se precisar de algo é só chamar. — Ofereço-lhe um aceno de cabeça, observando-o ir em direção ao quarto com entusiasmo.

Após terminar de lavar meu rosto no banheiro, decido dar uma olhada no quarto para ver como Robert está se saindo. Com passos leves, atravesso o corredor e empurro a porta do quarto suavemente. Lá dentro, encontro o ambiente iluminado pela luz suave que se infiltra pelas cortinas entreabertas.

Ao entrar, meus olhos são imediatamente atraídos para Robert, parado diante do espelho de corpo inteiro. Ele está em pé, erguido e curioso, com os olhos fixos no reflexo diante dele. Sua expressão é uma mistura de fascínio e confusão, como se estivesse tentando decifrar um enigma.

Observo em silêncio enquanto ele move a cabeça de um lado para o outro, examinando-se cuidadosamente. Seus olhos percorrem cada centímetro do seu reflexo, como se estivesse tentando entender o que vê.

É como se estivesse descobrindo seu próprio corpo pela primeira vez, com toda a curiosidade inata de uma criança.

Por um momento, fico ali parado, apenas observando. É difícil pensar em alguma resposta lógica na situação incomum que me encontro.

Decido me aproximar lentamente, não querendo assustá-lo. Quando chego ao seu lado, olho para o reflexo no espelho e vejo seus olhos se encontrarem com os meus. Há um brilho de reconhecimento lá, um lampejo de familiaridade que parece transcender sua mente infantil.

— Como você está se sentindo, Robert? — pergunto suavemente, colocando uma mão em seu ombro.

Ele passa a língua entre os lábios, como se estivesse voltando à realidade, mas ainda com a mente nublada.

— Eu estou bem, Marco. Só estou tentando entender o que está acontecendo comigo. É tudo tão estranho... Se você já é um adulto, assim com a minha altura, isso quer dizer que eu...

Sua voz é suave e calma, mas há uma nota de incerteza lá, uma sombra de preocupação que não consigo ignorar. Suspiro silenciosamente, desejando poder oferecer-lhe todas as respostas que ele procura.

— Sim, é verdade, você não é uma criança, Robert, na verdade é até alguns anos mais velho do que eu... Você só pensa que é uma.

— Percebi que havia algo de estranho comigo... Mas eu quero saber, Marco, o que você é meu? De verdade.

Suspiro fundo, antes de responder essa pergunta com cuidado.

— Bem... Eu sou seu namorado.

Ele parece confuso por um momento, um pouco surpreso, mas ao mesmo tempo confortado em encontrar mais um quebra-cabeça de sua cabeça.

— Pensei que apenas homens e mulheres namoravam entre si. Não era para ser assim?

— A vida é feita de escolhas, Robert... Muita gente ainda pensa assim, o amor é complexo, pode se manifestar de várias formas. Conosco foi dessa forma, talvez com o restante não tenha sido assim, mas estou confortável com o rumo que seguimos.

Robert ouve atentamente minhas palavras, seu rosto exibindo uma mistura de curiosidade e compreensão. Parece estar processando a informação cuidadosamente.

— Então... Somos diferentes? — Pergunta, sua expressão refletindo uma leve confusão.

— De certa forma, mas não é bem assim também. Não vamos levar essa causa a um tamanho maior do que ela realmente é.

Em silêncio, o polonês parece ponderar minhas palavras por um momento, antes de finalmente assentir com a cabeça.

— Eu entendo, Marco. E obrigado por me explicar. Acho que estou começando a entender um pouco mais agora.

— Sou eu quem agradece. — Sorrio para ele, sentindo um alívio misturado com um profundo senso de compreensão. Ele sorri de volta, um sorriso suave e reconfortante que acalenta meu coração.

Dou o primeiro passo, estendendo meus braços para envolvê-lo em um firme abraço.

Robert hesita por um momento, como se estivesse pensando se era a coisa certa a se fazer, mas então seus braços se abrem em resposta ao meu gesto, reafirmando nosso vínculo. A troca de calor e o toque firme de segurança, acalenta meu coração.

O momento é simples, mas significativo, uma demonstração silenciosa de compreensão e ternura.

— Vamos dar um jeito nisso juntos, ok? — digo, tentando transmitir conforto com o tom da minha voz. — Você vai ficar bem, não se preocupe...

Robert sorri novamente, um sorriso tímido e reconfortante que ilumina seu rosto, o qual vejo através de um último olhar no espelho. 

Leweus - Fica ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora