Don't Look Back

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Robert Lewandowski

Sem perder tempo, abro meu caminho até alcançar a saída de emergência. Assim que a abro, sou deparado com uma escadaria estreita e mal iluminada.

Escuto a chuva cair incessantemente, nublando ainda mais meu campo de visão.

Desço apressadamente pelos degraus, sentindo as rajadas úmidas dos ventos gelados atingirem meu rosto e balançarem meus cabelos. Ao longe, avisto Marco, seus ferimentos evidentes, com movimentos são lentos e trôpegos.

O cheiro de asfalto encharcado invade minhas narinas enquanto corro, a água fria escorrendo pelo rosto. Em meio ao borrão causado torrente de chuvas, enxergo a silhueta do alemão ferido fugindo em direção a avenida próxima, se locomovendo com um esforço doloroso.

Sigo pelo mesmo caminho que o alemão percorreu, com os pés batendo nas águas, olhos fixos na direção em que ele havia desaparecido. Sobre a calçada, as luzes dos postes e estabelecimentos brilhavam como faróis difusos no aguaceiro.

Percebo algo me chamar a atenção abaixo de meus pés: Uma pequena mancha de sangue, ainda fresco, contrastando contra a superfície molhada do concreto... A vida dele está em risco, devo encontrá-lo antes que seu quadro se torne irreversível.

Meu reflexo é refletido pelas luzes néon azuis brilhando nas vitrines, refletindo-se nas águas sobre o concreto. Cada segundo sem encontrar Marco parece uma eternidade angustiante.

Acelero o passo, me sinto envolta de um turbilhão, meu coração começa a se pressionar forte com batimentos descompassados. Vasculho cada detalhe, cada rosto em meio a chuva que possa revelar uma pista sobre seu paradeiro.

O frio da noite se mistura com a umidade das nuvens, criando uma atmosfera pesada, apenas intensificando minha inquietação. Há quase ninguém nessas paralelas. De repente, tudo ao meu redor parece ter perdido as cores e se tornado mais de um tom mais cinza escuro e frio.

Encontro outro pequeno traço, um pouco menor que o anterior de sangue... Em seu estado debilitado, Marco não consegue se manter de pé por muito tempo, então ele se esconde em algum lugar.

A sensação de urgência cresce, tornando cada minuto uma eternidade.

Perto do fim da avenida, passo por um pequeno terreno entre dois pequenos prédios comerciais, as luzes da avenida atrás de mim desaparecendo enquanto avanço com os passos.

A chuva começava a diminuir de intensidade, batendo contra os telhados de metal e escorrendo pelas paredes de tijolo. De repente, um isolado som abafado chamou minha atenção — um arfado fraco, quase inaudível em meio ao barulho chuvoso.

Sigo o som, investigando, ao me aproximar de uma antiga árvore que parece ter resistido ao tempo e às tempestades, vi Marco debaixo dos galhos retorcidos. Ele estava encostado no tronco, com os pés visivelmente feridos e dormentes, incapacitado de continuar.

— Marco, sou eu, Robert. Vim para te tirar daqui. — Sussurrei, me ajoelhando ao lado dele. Olhei ao redor, tentando avaliar a melhor maneira de tirá-lo dali. A situação era crítica; ele precisava de auxílio médico imediato.

Ao tentar segurá-lo pela mão, notei que sua palma estava ensanguentada, lesionada por um corte profundo, respingando sangue por onde passe.

— Não temos mais nada a conversar, Robert... Nosso acordo acabou; dê meia volta, ande para longe de mim e nunca mais cruzaremos caminho... — Relutou em aceitar minha ajuda, afastando seu rosto pálido do meu toque.

— Marco, reconheço que falhei com você, o que aconteceu hoje foi inaceitável. Mas sabe que o que disse não é verdade, temos muito a conversar quando for a hora apropriada. Importa é garantir que esteja seguro e recebendo a ajuda de que precisa. —Disse, tentando transmitir calma, embora meu coração estivesse apertado.

— Que tal guardar sua complacência, Lewy?! Não preciso dela! — Sua respiração se torna mais arrastada e irregular a cada palavra.

— Não se trata de complacência, Marco. Seus ferimentos são graves, não vou deixá-lo sozinho, ainda que você queira. Discutir não nos ajudará em nada, nem mudará o passado. Há luz no fim do túnel. — Estendo minha mão para o alemão cabisbaixo, ainda relutante.

— Tínhamos um acordo... Não me arrependo do que fiz, mas não quero mais isso... Paguei o preço pelas minhas escolhas, só vá embora, me escutou!? — Ele está claramente perturbado e instável, suas palavras não eram uma ameaça real. Sua pele perde calor a cada minuto e começa a ficar trêmula.

Temo que Milik o feriu ao ponto de que não seja possível recuperá-lo por total.

— Não vou embora sem você, Marco. Isso não está em discussão. — Mantenho a voz firme, mas reconfortante.

O alemão se mantém em silêncio por alguns segundos, de repente bufa, visivelmente irritado.

— Quer me ver assim, Robert, não é? Seu imbecil! — Em um ímpeto repentino, Marco se ergue do chão e se vira, apenas para avançar hostilmente com um contra meu rosto.

Ao invés de abrir uma postura defensiva, abro os braços, me resignando como um alvo sem resistência.

— Faça o que quiser comigo, Marco, mas quero que olhe bem para mim. — Vejo-o parar abruptamente, sua fúria se dissipando tão abruptamente quanto surgiu. Ele me encara, a dor e o desamparo evidentes através de seus olhos marejados. Mantenho a postura firme, sem desviar o olhar. Em seguida, vejo-o perder a compostura e desabar diante de mim, seu rosto confuso agora coberto por um véu de lágrimas.

Marco ergueu levemente a cabeça, desviando brevemente o olhar de mim. Por um segundo, hesitou antes de finalmente agir, permitindo que eu o ajudasse a se levantar.

Envolvo-o em um abraço firme, buscando trazer algum conforto afável, ao mesmo tempo em que deposito levemente um beijo leve em sua testa.

— Eu te amo. — Sussurro em seu ouvido, escutando sua respiração irregular, acariciando seus cabelos.

Sem pensar duas vezes, tirei minha jaqueta e a coloquei sobre seus ombros, tentando protegê-lo do frio e das gotas de chuva ainda remanescentes, a noite ainda avançava.

O desconforto dos ferimentos era evidente em seu rosto. Com cuidado, coloquei um dos braços dele sobre meus ombros e o ajudei a ficar de pé, suportando o peso do seu corpo enfraquecido. Sem perder mais tempo, caminho firme em direção ao carro antes que os ferimentos de meu parceiro se agravem ainda mais. 

Leweus - Fica ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora