Capítulo 42

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Stella Lancellotti

Há desenhos da família do rei dos lobos espalhados por toda parte, admirei encantada as formas lindas com a qual seu pai o desenhava. Seth sempre estava neutro quando criança, e eu nunca tive a chance de conhecer esse lado dele.

Havia um esboço dele com um sorriso, mas pelos traços confusos e incompletos, seu pai apenas tentou imaginar como seria se seu filho sorrisse para ele.

— Não é um dos meus melhores. — A voz rouca se pôs atrás de mim, mas não me assustei com a presença do rei. Apenas suspirei ainda admirando Seth na parede. — Graças a você, eu talvez consiga ter um desenho dele sorrindo.

— Ele tem um sorriso lindo. — murmurei baixo.

— Puxou a mãe dele...

— Ele é mais bonito. — provoquei dando de ombros.

— Você é impossível, garota. — resmunga rindo baixo. — Por que veio me importunar?

— Não sei se o Senhor Evans conseguiu falar com senhor ontem à noite, ou com o marido dele, mas eu decidi aceitar sua oferta. — Os olhos do lobo brilharam junto de um sorriso, cruzei os braços arqueando a sobrancelha. — Mas quero receber um salário gordo por isso, e eu decido quem eu vou treinar.

Aiden franziu o cenho ainda sorrindo, parecia raciocinar o que eu disse.

— Senhorita Lancellotti, está barganhando comigo?

— Não ficou claro?

O rei dos lobos deitou a cabeça para o lado, evitei sorrir ao lembrar de Seth fazendo isso. Ele tem muitos traços do pai dele, até a barba rala é igual. Entretanto, havia tanto da mãe nele também, como uma junção linda e perfeita dos dois. Um pedaço divino deles no mundo.

— Quando estiver na guarda real de Nova York, fale com Steve. Ele cuidará dessa sua condição e tratará do seu salário. Se é tão boa quanto minha mulher diz, então não vejo problema em lhe pagar por seus serviços. — aceita balançando a cabeça enquanto caminha até uma mesa de desenho, onde se sentou.

Me aproximei sorrateiramente e sorri quando vi o esboço da princesa. Ele estava reproduzindo o momento que tiveram nesta manhã que ela tomou o guento. Quando eles passavam horas brincando na piscina junto dos primos pequenos dela, fruto da irmã de Atenas.

— Você não sabia, não é? — perguntei baixo cruzando os braços enquanto via ele hesitar com o carvão em mãos. — Estranho para um Deus Astro.

— Você é muito bem informada, Senhorita.

— É, eu sei. Parece que de algum modo isso é ruim. — reviro os olhos voltando a caminhar pela sala admirando sua arte. — Você não me procurou? Por que? — O rei suspirou e me olhou por um segundo, antes de voltar a seu desenho. — Não seja melancólico agora, majestade.

— Pensei que só Atenas reencarnaria. — sussurra bufando com um sorriso sem humor nos lábios. — Pensei que um simples feitiço não atingiria nossa família assim.

— Simples? Vocês usaram sangue de um imortal. Se usar qualquer sangue já é pesado, imagina um sangue poderoso desse. Haveria consequências.

— Eu tenho sede de sangue, gosto de vê-lo correr pelas minhas mãos. Ele vai aumentando conforme eu envelheço. — revela me olhando. Seus olhos verdes caramelados brilhando úmidos. Suspirei. — Minha mulher tem desejos carnais pelo dono do sangue, é uma tortura vê-la perto dele. — Arregalei os olhos levemente, mas me mantive calada. — Vi meu filho morrer milhares e milhares de vezes, e tudo que eu podia fazer era observar sua dor. Mas eu nunca cogitei ter Aurora, não. — ele voltou seus olhos ao desenho da filha. — Atenas não tinha como engravidar de novo. Seth havia queimado o útero dela de dentro a fora, e nada cura a Magia Solar. Se queima, fica queimado para sempre. Aurora foi um milagre. — Engoli em seco abaixando a cabeça. — Atenas vivia com dor. Cada movimento da nossa filha era um grito dela, foi aterrorizante. Pensei que a perderia de novo, mas ela se manteve firme, mesmo com todos pedindo para ela interromper. Até mesmo eu... Aurora nasceu prematura. Mau respirava. Procuramos por todo canto, cada livro, cada ser, cada mundo. Nem Seth conseguia curar ela.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora