Entre Ruínas (Vol. 2)

Capítulo 15

Major O'Donnell

Difícil descrever o que eu sinto neste momento. Deitado na banheira do meu quarto encaro a taça em minhas mãos tentando digerir aquilo que foi me dito.

Meu peito está apertado, sendo esmagado pelas mãos daquele que o pertence.

Uma companheira.

Não é uma surpresa para mim, afinal lobos são destinados a ter sua alma conectada a outra. Minha irmã é a prova de que o amor verdadeiro é a chave para conecta-las.

Mesmo quando ela e seu companheiro não eram lobos, já haviam se encontrado e amado diversas vezes. Nesta vida, só provaram que são ligados por algo maior.

E Lian também é, seja lá com quem.

Eu queria confronta-lo. Tenho tantas perguntas desde aquele dia.

Por que não respondeu minhas cartas? Por que fugiu de mim? Foi ruim para ele?

Por que diabos ele sorriu para mim depois, se iria destroçar meu coração em seguida?

Bufo terminando de beber o líquido alcoólico. Me levanto da banheira com água fria. No closet, visto meu terno simples pro trabalho. Arrumo minha arma no coldre e coloco o distintivo no pescoço.

Engulo em seco tocando minha têmpora quando minha cabeça começou a latejar.

Todos esses sentimentos acumulados, pensar demais nele está me enlouquecendo.

Lian tem uma companheira, vai casar com ela e ter filhos. Preciso aceitar isso e seguir a minha vida. Foi apenas um amor bobo de infância não correspondido, posso lidar com isso.

Saio do quarto e aspiro o ar de café feito. Encosto meu corpo e minha cabeça na entrada da cozinha admirando-o fazer panquecas enquanto cantarola baixo uma música em sua língua materna.

A voz suave e baixa aqueciam a cozinha, me atinge em cheio no peito. Seus cabelos um pouco úmidos cobrindo completamente sua testa. Lambi meus lábios quando o seus provaram um pouco do mel perto das panquecas.

Ao se virar com elas no prato, se sobressaltou de susto com a minha presença. Levanto uma sobrancelha desencostando a cabeça.

Lian esta muito desatento para um lobo do seu porte. Já o vi em uma batalha, um filhote sozinho contra uma bruxa mestra. Ele a desmembrou no dente para me proteger, ainda tenho a cicatriz para lembrar.

Todos o elogiaram e disseram que seria um dos lobos mais forte. Não me surpreende estar na Guarda Real.

— Fiz panquecas. — franzi o cenho para as palavras em seu idioma. Antes que respondesse, Lian percebeu e repetiu na minha língua um pouco atordoado. — Fiz panquecas.

Assenti lhe dando passagem para levar até minha mesa de jantar. Fecho os olhos por um instante sentindo seu cheiro no ar, balanço a cabeça dispersando meus pensamentos.

Me sento e deixo que me sirva. Suspiro pegando meu celular que tocou no meu bolso, desligo a chamada de Atenas e começo a comer.

Ainda estou irritado com o que fez. Dane-se.

Evito demonstrar, mas as panquecas estão deliciosas.

Lian permanece na cozinha limpando o que sujou e secando. Deixo algumas panquecas para ele antes de me levantar e ir para o banheiro escovar meus dentes.

Odeio esse clima. Tudo tão frio e seco.

Antes era o suficiente, mas com ele perto parece desconfortável.