Capítulo 11

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Wang Lian

Encosto minha cabeça na parede do banheiro, o frio contrasta no meu corpo quente. Fecho meus olhos apreciando a água tocar minhas costas e dançar sob minha pele marcada.

Não acredito que aceitei vir até a América para proteger ele. Depois de tantos anos lutando contra meus demônios, tentando afastar cada gota da dor psicológica e física causada por um ato tão puro e inocente.

Tive de me readaptar dentro da minha própria mente e corpo. Forçado a aprender a viver sem ele, a não pensar nele, não reagir a ele. E mesmo depois de anos não consigo controlar meu coração perto de Arthur.

Pulsa dentro de mim, esmurra meu peito na tentativa falha de fugir e se aconchegar naquele que tanto deseja.

Respiro fundo jogando minha cabeça para trás, molhando meus cabelos antes de desligar o chuveiro. Encaro meu reflexo no espelho secando-os.

É uma tortura ter de viver sob o mesmo teto que Arthur. Vê-lo o dia todo e ter de permanecer neutro para que não perceba as mudanças em mim.

Engulo em seco erguendo a cabeça para evitar que as lágrimas desçam. Não posso me dar ao luxo de sentir minhas dores. Preciso focar no meu trabalho e esquecer o que foi perdido.

Eu posso fazer isso.

Vestido em minha farda da Guarda Real, me direciono até a cozinha grande de decoração moderna em tons neutros. Agradeço que Arthur esteja em seu escritório começando a preparar algo para que ele jante.

As ordens da Rainha foram claras. Ninguém e nada pode tocar em Arthur sem minha permissão; Ele deve fazer todas as refeições; e qualquer mudança em sua rotina ou núcleo de amigos deve ser relatada.

Não sei por que a preocupação extrema, mas quando me procurou para o trabalho me vi aceitar sem questionamentos. Eu lutei para lidar com muita coisa que o envolvia, entretanto a preocupação com seu bem-estar ainda serpenteia dentro de mim.

Eu nunca permitirei que o machuquem. Se ao menos tocarem nele, será a última coisa que farão em vida.

— O que está fazendo?

Sobressalto de leve soltando a panela e tocando a arma em minhas costas. Solto o ar quando foco em Arthur. Seus olhos me avaliam de cima a baixo enquanto eu largo a arma devagar.

— O jantar. — desvio meu olhar com dificuldade de seus lindos olhos azuis. Volto a mexer o molho na panela. — Sua majestade disse que devo cuidar de sua alimentação.

— Além de uma babá, ela também me mandou um cozinheiro? — ele bufa encostando na bancada ao seu lado ainda me olhando. — É macarrão?

Assenti, mexendo a massa na outra panela para não grudar.

O silêncio me sufoca, seu olhar me queima e sua atenção me desconcerta. O bom de ser um Guarda Real é ser treinado para não demonstrar reações, ser um soldado forte e um agente secreto perfeito.

Lidar com as sombras é pisar em ovos, exige atenção e cuidado. Estar alerta a tudo e todos. Saber atuar e manipular para obter informações importantes.

Mesmo com minhas limitações, tenho um dos maiores níveis dentro da Guarda. O que atrai alguns lobos irritados por alguém como eu conseguir esse feito.

Prendo a respiração assim que o corpo grande e forte se pôs ao meu lado mexendo a panela de molho que eu quase deixei queimar.

— Para um lobo, você é muito desatento.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora