Capítulo 18

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Arthur O'Donnel

Dói.

Essa tempestade me atingindo por dentro e me fazendo transbordar pelos olhos precisa parar.

Eu não sou mais a criança de coração partido que chorava agarrada as pernas no chão do banheiro porque havia sido feito de idiota por quem amava.

Sou um Major do exército, já lutei em guerras e tenho cicatrizes no meu corpo. Um detetive incrível que não deixará seu coração matá-lo novamente.

Vestido com um sobretudo e uma blusa quente de gola alta saio do meu quarto de cabeça erguida e evitando contato visual com o lobo na sala.

Nossas conversas são nulas desde nossa última. A que deixei claro para ele que sei quem é, mas é covarde demais para admitir que sabe. 

Lian imploraria pela vida de um inimigo, porque é bom demais. Entretanto, pisou na minha como se não fosse nada e continua como se não o afetasse.

No fundo, eu me enganei sobre ele e seus sentimentos. O garotinho que um dia roubou flores do jardim da rainha comigo não existe. Talvez ele só quisesse ser próximo da família real para ter alguma coisa. Ser quem é hoje para minha irmã.

Eu só fui escada.

O homem chinês que estava olhando a imensa janela da minha cobertura finalmente põe os olhos em mim. Odeio como meu coração falha com seu olhar.

— Está pronto, major? — pergunta após pigarrear.

Assenti apenas fugindo de seus olhos e toda dor que eles me causam.

O caminho até a boate de Vincent foi sufocante. Seu cheiro despertando algo dentro de mim, algo que queima. No fim, seu cheiro gostoso estará por todo meu apartamento, e meu quarto, e minha sala na delegacia.

Seu cheiro já dançava com o meu no ar. Tudo que era tão solitário em mim se encheu dele. Do seu cheiro.

O que não é surpresa. Um lobo tem mania de encher cada canto que está com seus feromônios. Os seus não são fortes, talvez Atenas tenha lhe dito sobre meu problema com lobos. Por que ele nem mesmo rosna perto de mim.

Deito a cabeça no estofado de couro e suspiro. Minha liberdade foi embora, mas não sei se quero reclamar disso.

Lian tem completado de certa forma o vazio do meu dia-a-dia. Sua voz rouca me mantém calmo, a gentileza de um príncipe me cativa, o aroma gostoso me alucina.

Ainda que volte algum dia para sua companheira, vai deixar seu território marcado no meu coração para sempre.

Assim que o carro parou na frente da boate sai sem esperar por ele. Tento respirar fundo para sentir outros cheiros e esquecer o dele, até que sinto uma mão gelada e ossuda agarrar a minha com força enquanto eu passava entre algumas pessoas.

Lian está com o cenho franzido, a indignação em seus olhos me fuzilando. Viro o rosto bufando mesmo com o corpo arrepiado pelo toque.

— Não faça isso! É irresponsável! — acusa chegando mais perto para pessoas passarem atrás dele. — Estou protegendo você, não pode me largar para trás e andar na frente.

Suspiro novamente sem respondê-lo esperando que largue minha mão e me deixe seguir para a ala vip. Sua mão vai afrouxando aos poucos e com o tempo cai ao meu lado.

— Desculpa, não vai acontecer de novo. — murmura arrumando a manga de sua blusa social. Enrugo a testa e o olho dessa vez confuso. Foi eu que cometi o erro e ele que pede desculpas? — não vou toca-lo mais.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora