Capítulo 46

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Stella Lancellotti

Eu fui uma aluna difícil para o meu mestre, e tenho certeza que foi por isso que nos dávamos tão bem. Ele foi um homem paciente e completamente determinado em me mostrar os meus erros, fosse brigando ou conversando, até mesmo debochando de mim. Nós éramos uma dupla perfeita.

Observando esse homem lutar na minha frente percebo que terei que ser como meu mestre. Paciente. Entretanto, paciência não é uma das minhas virtudes.

— Pode fazer melhor do que isso, Kimbrough! — grito balançando a cabeça enquanto eu avalio a luta na minha frente. — Ela é uma sombra, já te matou dezenas de vezes e você nem mesmo percebeu. É uma vergonha!

O lobo rosnou me olhando de lado com os olhos escuros. Levanto uma sobrancelha antes de vê-lo bufar e levar um chute na barriga de Sui He. Seu corpo grande apenas cambaleou para trás, mas foi o suficiente para deixá-lo envergonhado por ter abaixado a guarda.

— Já deixei claro uma vez e vou deixar novamente: essa luta é contra as sombras e não contra o ego de vocês. Se não podem se conter com pequenas palavras então não me façam perder tempo. — Kimbrough abaixou a cabeça ainda regulando a respiração. — Senhorita Wang, olhe para o chão e me diga o que vê.

A mulher avalia o local imediatamente, mas franze o cenho.

— Nossas sombras...?

— Está me perguntando?

— Nossas sombras, sua alteza. — responde mais firme.

— O que essas sombras estão fazendo?

— Estão paradas...? — pergunta ainda olhando para as mesmas. Levanto uma sobrancelha pegando meu tablet para controlar a iluminação da sala. — Próximas umas das outras.

— E agora? — pergunto ao desligar a luz atrás dela.

— A minha sombra está em cima da do Líder Kimbrough.

— Demônios sombras são mais fortes que os Corpóreos porque eles vivem em outra dimensão. — começo explicar pegando minha espada e caminhando até os dois, sob o olhar dos demais. — Elas vivem entre a sua própria dimensão e a nossa. Seu poder é passar por essas dimensões sem dificuldade e matar sem serem percebidas. São perigosas e habilidosas nessa passagem. — Fiquei ao lado dela e encostei a ponta da sombra da minha espada na sombra dela, que permanece em cima da do lobo. — Nós não temos essa habilidade, infelizmente. Nosso dever é encontrar o momento exato em que ela vai sair da sua dimensão e se chocar com a nossa, por que na dimensão dela a nossa sombra ou de nossas armas tem poder para matá-la.

Com um movimento, finquei a espada nas suas sombras na direção de seus corações. Seus olhos parecem compreender, mas também demonstram um certo pavor.

— Encontrar esse momento exato enquanto lutam contra elas tentando deixá-las longe de vocês, é complicado e difícil, e vai ser desgastante em uma luta, mas trabalhar as perspectivas de vocês contra elas é essencial para saírem vivos.

— Já foi tocada por uma delas? Tipo, até quase morrer? — pergunta Collins do outro lado da sala. — Meu tio quase foi pego por uma que o atacou ao invés de fugir da luz.

— Já sim. Algumas delas já saíram até mesmo completamente de sua dimensão para me atacar, me cortaram e até me envenenaram, mas dá para sobreviver se você for um lobo com um antídoto. A questão que realmente precisam entender é que podem fazer isso, podem matá-las e um dia quem sabe exterminá-las, mas antes precisam aprender a detectar esse momento curto em que elas saem da dimensão das sombras.

— Pensei que era só atacar as sombras. Você ataca com a sua sombra e ela morre. — fala KImbrough.

— Sim, quando elas estão atacando saem diversas vezes de suas dimensões para atacar seu oponente. Como eu disse, elas viajam entre as duas dimensões com facilidade.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora