Capítulo 5

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Eu pensei que a dor que senti ao perder toda minha família naquela noite foi a pior de todas. Cada grito e pedido de ajuda foi um pedaço a mais que se partiu dentro de mim.

O lençol de ceda da cama macia de V não é o suficiente para fazer a dor passar. Abro meus olhos resmungando, me sento com dificuldade observando o quarto moderno em tom preto.

Na frente da janela que pega do chão ao teto, se encontra o homem dono do prédio inteiro. Seus olhos presos em um de seus anéis.

Para cada emoção de Vincent ele gira um de seus anéis. É uma atitude sexy, é bem excitante as vezes.

Começando do dedo anelar até o mindinho dividido em direita e esquerda, temos sua impaciência na direta; então na esquerda, o anel do controle para não matar ninguém ou agir imprudentemente; em seguida temos o que Vincent nunca gira; e então o mindinho que seria o "estou prestes a matar e nada pode me parar".

Eu nunca vi Vincent girar o anel preto com lindos detalhes em vermelho. Havia uma bela flor de lótus forjada no mesmo com detalhes tão perfeitos que nem parecia ter sido feito por algo humano.

Esse é o anel que Vincent está olhando agora, mas não consigo decifrar o que está pensando. Talvez a dor esteja me impedindo de ver claramente os outros.

— Baltazar já vai chegar — informa finalmente me olhando — como se sente, amore mio?

— Está mais amena a dor — me deito de novo ainda o olhando — não faço ideia de quem fez isso comigo. Tenho tantos inimigos. Ser perfeita tem seus lados ruins.

V abre um leve sorriso de lado, parece uma obra prima de tão lindo.

— O que estava fazendo antes de ficar assim? — pergunta mordendo de leve seu lábio inferior.

— Assistindo ao discurso de Scott Evans — murmuro suspirando.

Vincent semicerra os olhos e volta a olhar para seu anel. Engulo em seco ao sentir a dor voltar a incomodar, me jogando de bruços na cama ainda com o rosto para ele.

— Está pensando em que? — questiono curiosa.

— O que Ezequiel te contou sobre os lobos?

Enrugo a testa confusa, repassando tudo que o velho omega me ensinou na mente.

Quando eu estava com a minha família, minha loba era uma questão à parte. Eu nunca havia me transformado antes de Ezequiel, ele disse que sentiu meu cheiro de loba e me encontrou. Então me ensinou tudo que eu não sabia de mim mesma.

— O básico, eu acho. O que eu precisava para sobreviver, ocultando a soberania real.

— Ele lhe contou sobre a ligação?

Gemi de dor levemente voltando a ficar de barriga para cima. Bufo negando com a cabeça.

— Aquela loba alfa do baile falou algo sobre, mas eu não consegui prestar muita atenção já que estava morrendo de dor.

O homem respira fundo e levanta da cadeira, ele se aproxima de mim sentando na cama. Coloco instantaneamente minha mão em sua coxa a apertando, é tão gostosa de tocar.

— A ligação é um fenômeno inevitável da vida de todo lobo, amore mio — seus dedos largos tocam meus cabelos, fecho os olhos apreciando o carinho — ocorre quando duas almas pertencentes uma a outra se encontram pela primeira vez em vida.

Abro os olhos encarando-o, ele parecia concentrado no carinho que está fazendo.

— Que coisa ridícula! Isso é conto para crianças dormirem pensando em finais felizes.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora