Capítulo 10

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Arthur O'Donnel

O ar gélido da manhã tocava delicadamente meu rosto e espalhava a fumaça do café quente em minhas mãos. Meus olhos vagam pela rua abaixo da cobertura. Há poucos carros ainda, então há pouco barulho.

Quando pequeno adorava a bagunça, até mesmo as causava. Hoje, prefiro o silêncio e minha própria companhia. A solidão se tornou parte de mim mesmo tendo uma família imensa que faz barulho demais.

Verifico meus e-mails e repondo alguns antes do meu celular apitar. Stella me mandou uma mensagem com uma foto da janela do apartamento do meu sobrinho e uma taça com bebida. Sorri levemente.

"Me sinto presa, AJ. E não é da forma boa. Sabe se é crime matar uma Deusa?"

Coloco meu café na mesa e tiro uma foto, negando por ceder a essa provocadora.

"Não interrompa meu café com suas bobagens, Little Star. Tenho mais o que fazer"

"Está com Vincent, seu safado?"

Reviro os olhos.

"Bom dia, Stella. Vai tomar no cu."

"Queria, mas teu sobrinho não colabora. Bom dia, AJ."

Rir baixo, jogando o celular na mesa. Respirei fundo assim que meus olhos focaram no pingente em meu pescoço. Toquei o local e acariciei a madeira com carinho.

Levei os dedos até meus lábios, me lembrando de anos atrás em meu aniversário de oito anos. Eu devia esquecer como ele esqueceu.

Me assusto com o toque do meu celular e atendo sem ver o nome. A voz da minha irmã saiu do outro lado e apenas ouvi suas perguntas resmungando respostas.

Ela adora ligar toda manhã para todos da família, desejar bom dia e tagarelar. Mas hoje parecia um pouco ansiosa.

— Liguei por um motivo importante. Quero que saiba que tudo que eu faço é para o seu bem e isso também é visando sua vida.

— Não enrole. — franzi o cenho.

— Júnior, um dos guardas reais lupino foi direcionado para cuidar de você. — respiro fundo fechando os olhos. Eu não acredito que ela fez isso. — As coisas estão complicadas no mundo sobrenatural.

— Eu sou humano, não tenho serventia. Já conversamos sobre isso, Atenas. Eu posso me proteger sozinho, não preciso de baba.

— Você é próximo de Stella, e ela meio que declarou guerra as sombras. Além de ser irmão da Rainha dos Lobos, Deusa Lua, isso te coloca em todos os holofotes. Não quero que se machuque.

— Não quero um rabo me seguindo a todo lugar que eu for. Sou um Agente, não posso levar um guarda para todos os lugares, está fora de cogitação. — decidi me levantando e levando o café para fora do escritório.

— Não é uma pergunta, estou apenas lhe avisando, Júnior. — bufo socando de leve a pia onde coloquei a xícara. — Sei que está bravo, mas é pro seu bem. Ele vai chegar hoje de tarde no seu apartamento, é muito competente. Vai adora-lo.

— Não gosto de lobos e sabe disso.

— Stella?

— É mais que loba para mim. Somos irmãos.

O celular fica mudo por alguns segundos, não sei o que está pensando e nem sei se importa. Eu e a pequena estrela temos histórias parecidas. Dores e memórias que nos atormentam todas as noites. Éramos novos demais quando nossa inocência foi arrancada de nós.

Nos entendemos como nenhum outro.

— Esteja aí para recebê-lo, Júnior. — reviro os olhos. — Amo você, até logo.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora